Desvendando

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Bom dia amores!

Boa leitura! ❤️

-x-

Roberta Ratzke

Rosamaria dirigia com calma, não tínhamos um destino certo, pelo menos não que eu soubesse. Os primeiros minutos foram passados totalmente em silêncio, mas não era desconfortável. Não era como se tivéssemos realmente muita coisa para falar.

Ela parou em frente a uma área mais reservada, com algumas árvores e um campo aberto, mas não fez menção de sair do carro. Sentamos confortavelmente ao lado uma da outra, deixando o tempo passar, aproveitando a calmaria que o silêncio oferecia.

Aos poucos a necessidade de ouvi-la foi crescendo em mim, eu não queria que ela se sentisse estranha ou qualquer coisa parecida.

- Eu estava fugindo do meu pai! - Disse a primeira coisa que me veio à mente. Lembrando das últimas palavras que ela disse para mim.

- Não estão em bons termos? - Ela perguntou enquanto se virava um pouco para me olhar.

- Não estamos há um bom tempo. - Confessei. - Mas acho que é isso o que acontece quando sua única filha é uma alcoólatra que causa problemas por onde passa.

Eu não queria jogar essas coisas sobre ela, não quando estávamos desfrutando de um momento realmente calmo e tranquilo. Talvez o primeiro desde que ela voltou, mas ao mesmo tempo tudo isso fazia parte de mim e nosso passado estava ligado às minhas ações e meus problemas.

Era possível ver a curiosidade borbulhando nela. Também era possível saber que ela estava se segurando para não deixar os questionamentos saírem e por um momento pensei em manter o silêncio e aproveitar a calmaria.

Mas Rosamaria estava aqui, mesmo depois de tudo, mesmo contra o seu melhor julgamento. Foi quando decidi que ela merecia receber algumas respostas.

- Você pode perguntar. - Esclareci, deixando em suas mãos a decisão de seguir com aquela conversa ou não.

- Não quero ultrapassar nenhum limite ou desencadear memórias que você não quer lembrar. - Ela disse de forma compreensiva.

O curioso sobre duas pessoas traumatizadas, é que elas são capazes de se identificarem e enxergarem a dor uma da outra, assim como sabem que até mesmo a coisa mais insignificante do mundo pode gerar um tormento sem precedentes.

- Faremos assim, você pode me fazer duas perguntas e eu prometo que as responderei honestamente. E então, depois disso procuraremos outro assunto para conversar. - Estendi a mão para ela para selarmos um acordo.

Rosamaria encarou minha mão e espelhou meus movimentos, conectando a sua na minha, em um acordo mútuo. Quando nos soltamos, ela pareceu pensar por um momento.

Eu sabia que ela estava decidindo o que perguntar primeiro então fiquei calada, apenas esperando pelo que viria a seguir. Não foi de imediato, o que me fez pensar que ela tinha muitos questionamentos em mente.

- Por que você não abriu a porta? - Sua voz soou frágil e quebrada, quebrando o silêncio de uma maneira dolorosa.

Não sei o que eu esperava que ela perguntasse, mas quando as palavras saíram fez total sentido para mim que essa fosse a primeira coisa que ela gostaria de saber.

- A minha percepção estava completamente nublada pelo álcool. - Confessei, eu não tinha a menor intenção de esconder qualquer coisa dela nesse momento. - Eu tinha apenas começado a beber, mas ainda estava com a ressaca do dia anterior e achei que seria divertido. Quando você começou a gritar, todos riram e aquilo me fazia sentir realmente importante e querida, sabe? Então eu instiguei isso. Achei que você estivesse mentindo sobre o fogo, que você estava inventando para que eu a deixasse sair.

Mistakes - RosabertaOnde histórias criam vida. Descubra agora