Rancor

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O capítulo com a primeira narração da Roberta veio aí!

Boa leitura!

-x-

ROBERTA RATZKE

Saí até a calçada para esperar Pietra no início da noite. Ela me daria uma carona, assim como vinha fazendo no último ano. As reuniões do grupo de auto ajuda aconteciam semanalmente e eu tinha a conhecido ainda no primeiro dia. Ela foi designada para ser minha madrinha e desde então tínhamos desenvolvido uma boa amizade.

Pietra não era alguém que julgava, tendo sido uma pessoa com sua parcela de erros durante a vida, ela conseguia ver o lado bom de qualquer pessoa. Era por isso que ela conseguia enxergar coisas boas em mim, mesmo quando nem eu tinha essa capacidade.

- Você parece péssima! - Ela disse rindo quando entrei no carro.

- Nossa, você sabe como alegrar uma mulher. - Ironizei. - Foi assim que a Son se apaixonou?

- Na verdade foi o charme que veio com a sobriedade. - Ela brincou, conseguindo ser muito mais leve com seus próprios problemas do que eu.

Deixei o assunto morrer, Pietra tinha razão, eu provavelmente parecia uma grande bagunça, porque o exterior costumava refletir como você se sente por dentro. Os dias não eram normalmente fáceis, mas quando eu tinha que confrontar alguns erros do meu passado, eles se tornavam especialmente mais difíceis. Aparentemente o mundo queria jogar Rosamaria diariamente na minha cara.

Durante as primeiras sessões do grupo Pietra me disse que conseguir o perdão daqueles aos quais você feriu e tentar amenizar as suas dores era um bom caminho para começar a perdoar a si mesmo. Foi por isso que com esse pensamento, fiz uma listinha em uma agenda antiga com todos os nomes que passaram na minha mente.

É claro que os nomes dos meus pais estavam em primeiro lugar, os meus antigos amigos, pessoas que eu lembrava de ter magoado de alguma forma durante todos aqueles anos, todos eles estavam lá. Aos poucos no último ano fui riscando diversos nomes, através de conversas dolorosas ou simples pedidos de desculpas. Mas alguns deles continuavam la, nomes que eu nunca seria capaz de riscar.

Rosamaria era um deles.

- Ela realmente mexeu com a sua cabeça, não foi? - Minha amiga voltou a falar puxando minha atenção de volta para si.

- Não... - Menti mesmo sabendo que ela não acreditaria nisso.

- Qual é o problema? - Ela perguntou mais uma vez, sabendo que eu precisava tirar aquilo de mim.

- Ela me olha com tanto ódio Pi. E não me entenda mal, sei que mereço. Mas me faz realmente pensar em como eu ferrei tudo. Como ferrei com a vida das pessoas ao longo dos anos. - É claro que eu já sabia disso, ainda mais depois do acidente. Mas eu vinha tentando me enganar, tentando dizer que eu era capaz de reparar os danos, mas é óbvio que não. - Eu nunca vou conseguir reparar os danos que fiz na vida da Rosamaria. Assim como nunca vou conseguir reparar os danos que fiz a... a ela.

Ela desviou o olhar para mim por alguns segundos e então voltou a dirigir, encarando a estrada a sua frente. Eu podia dizer que ela estava pensando nas suas próximas palavras, então aguardei.

- Rô, buscar o perdão é importante, tentar amenizar as consequências dos seus atos também. Mas mais importante do que isso é saber que nem sempre se terá uma resposta positiva.

Eu sabia que ela tinha razão, mas isso não era suficiente. Já havia muito sobre as minhas costas, já havia danos irreparáveis. Lidar com mais um deles, um que estava perto e me olhava com ódio e desprezo era mais pesado do que eu poderia aguentar.

Mistakes - RosabertaOnde histórias criam vida. Descubra agora