Ponto Certo

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Rosamaria Montibeller

Cerca de quatro dias haviam passado desde que Roberta e eu tínhamos conversado na inauguração da nova sala de música. Uma parte muito grande de mim queria voltar a falar com ela, mas me fiz de durona e não cedi as minhas tentações. Talvez ela nem tivesse voltado de vez e minha mente não aguentaria mais nenhum golpe. Físico ou metafórico.

Não era fácil, no entanto. Rever a mulher que continuava sendo o meu amor me afetou mais do que eu já estava afetada nos últimos três meses. É claro que ainda havia muito ressentimento, afinal ela virou as costas para mim e agiu como se o que tivéssemos não fosse importante.

Mas no fundo eu sabia que não era esse o caso. Por meses desde que nós duas havíamos nos aproximado, entendi como a mente dela funciona e como ela coloca a felicidade e necessidade das outras pessoas em primeiro lugar e embora eu não estivesse nada feliz com a sua partida, no fundo sabia que era apenas o seu jeito distorcido de tentar me proteger.

- Era mais fácil quando eu te odiava Roberta! - Disse para mim mesma, enquanto observava algumas de nossas fotos que ainda estavam dispostas no pequeno mural que havia no meu quarto.

Desci as escadas do quarto para a sala e encontrei mina irmã sentada no sofá. Com o humor péssimo que eu estava, sentei ao seu lado porque sua companhia sempre me deixava melhor.

- Ei! - Ela disse sorridente, me empurrando com seu ombro. - Sabe em quem eu esbarrei hoje por aí? Na Roberta.

Ela sequer esperou que eu perguntasse para dizer e aquilo me deixou em alerta imediato. Sim, eu era uma boba apaixonada que continuava tendo esse tipo de reação.

- Não quero saber. - Menti de forma tão descarada que ela riu. - Tudo bem, eu quero saber, mas só porque sou uma idiota.

- Se você me permite dizer, as duas são. Ela por ter ido embora e você por não continuar tentando. - Revirei os olhos para sua fala e mesmo assim ela continuou. - Qual é Rosa, ela voltou! Não era isso que você queria? Ela está aqui e você não está fazendo nada!

- O que você quer que eu faça? Ela não está aqui por mim. Roberta nem teria vindo se não fosse pela audiência. - Admiti tristemente. - Ela não consegue colocar naquela cabeça dura que ir embora não vai me fazer deixar de amá-la.

Minha irmã me encarou por alguns segundos, como se tentasse encontrar a melhor forma de colocar suas palavras. Eu sabia que no fundo ela só estava tentando me ajudar, mas minha frustração falava mais alto naquele momento.

- Concordo que ela não veio por você, mas foi por sua causa que ela ficou. - Ela disse por fim.- Eu te amo, você é a minha irmãzinha e eu nunca iria querer alguém que te fizesse sofrer ao seu lado. Mas não posso ignorar o olhar apaixonado quando a Roberta fala sobre você.

Paula tinha razão e admitir isso foi difícil. Não era como se eu tivesse que correr atrás dela como se os últimos três meses não tivesse existido, mas eu não poderia ignorar essa dor incômoda, no fundo do meu peito que me dizia constantemente que nossa história ainda não havia chegado ao final.

Guardei meus sentimentos e convicções por mais alguns dias, tentando ter a certeza de como agir. Fernanda estava na cidade, soube disso pela sua ligação me chamando para almoçar com ela. Aceitei porque, mesmo que Roberta e eu não estivéssemos mais juntas, eu ainda gostava bastante dela.

O almoço estava marcado em um pequeno bistrô que não ficava muito longe da minha casa, então decidi que iria andando, o que me fez atrasar cerca de dez minutos.

Quando finalmente avistei as mesinhas postas na calçada do local, os cabelos castanhos foram a primeira coisa que me chamou a atenção.

Terminei o trajeto parando de frente a onde ela estava sentada e seus olhos se fixaram em mim instantaneamente.

Mistakes - RosabertaOnde histórias criam vida. Descubra agora