37- Velhos Hábitos

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Após a formatura tudo ficou um pouco confuso, minha vida está focada em comprar e planejar Tulane, começo em pouco tempo, quando não estou lendo grimórios e fazendo feitiços estou olhando dormitórios.

Ando tão ocupada que não encontro Damon, Elijah ou Caroline, estou quase que desaparecida. Os momentos que tenho fico com meu irmão e minha mãe.

As apostilas são imensas, as vezes repenso na ideia da medicina, realmente é necessário? Eu sempre quis a medicina, mas gora vendo o material do primeiro semestre, não sei se realmente quero. Os grimórios do Kol parecem livros infantis agora, contos de esopo. Como está tarde a casa está silenciosa, fazendo até uma pena audível. O que destacou o som das pedras e da madeira se chocando entre si.

O ato foi repetido duas vezes o que me fez perceber que não é uma brincadeira infantil, alguém realmente quer falar comigo, o que faz eu me questionar sobre o motivo de celulares atualmente, o que faz eu me questionar sobre o papel da tecnologia no mundo atual, todos tem acesso a ela, então por que diabos colocar em risco o vidro de uma janela. Temos campainha e celular!

Vou até a janela e vejo aquele cabelo tão familiar. Minha expressão de desgosto não tenta nem mesmo disfarçar.

- Precisamos conversar. - Sua voz é firme e não deixa espaço para objeções, seu rosto severo não disfarça que estar aqui não é um desejo próprio também.

Reviro os olhos, sinto um gosto metálico na boca, claramente sangue, morder os lábios está voltando a ser um problema.

Fechei a janela e desci as escadas tentando manter o silêncio da casa. Ao sair a cabeleira ruiva já estava sentada nos degraus da minha varanda com os braços cruzados e os olhos rudes penetrando minha pele. Retribuí o olhar com um aspecto de nojo.

- O que você quer?

- Eu não vim para essa cidade atoa, você sabe disso. - sua voz não tem um tom mais simpático.

- A última vez que nos vimos estava procurando um amigo. O encontrou?

- Não tenho certeza, ele está um pouco diferente do que eu me lembrava. - suas mãos passavam pelo próprio cabelo despreocupadamente, fio por fio me fazendo relembrar de velhos hábitos. - Você tem a magia que nosso pai precisa, agora que você já está mais... estável podemos começar a fazer o necessário.

- Seja lá o que for, eu não quero contato com o seu pai. - afirmei negando o fato de meu progenitor também cumprir o papel de pai na minha vida. Ele não é meu pai.

- Ele precisa disso, ele pode morrer. - seus olhos amargurados e duros ganharam um novo brilho, as lágrimas contidas refletem na luz.

- Chloe querida, eu sei de muitas coisas sobre os planos de seu papai maravilha, ao passar mêses sendo torturada por ele eu aprendi coisas, inclusive sobre você. Sei que você pode ser muitas coisas mas burra não é uma delas. - Afirmo, minha voz não tem emoção, nada além de desprezo - E vir até a minha casa, no meio da noite sozinha com certeza não é uma coisa muito inteligente. Pode aparecer, querido.

O vampiro velho de aparência jovem sai de um dos arbustos escuros que fica na casa vizinha e se aproxima em velocidade sobrenatural.

- Saiba que se você não aceitar isso agora, comigo, vai ser muito pior.

- Não tem muito que seu pai faça que possa me atingir. Não sou a garotinha que ele enfiou na própria mente, pode ter passado pouco tempo mas eu cresci bastante desde então.

O vampiro estava inquieto, pertuba minha sanidade, seus passos sendo guiados em círculos, parece que irá abrir um buraco no chão.

- Fique quieto - mandei, minha voz e de Chloe em uníssono não me deixou muito contente mas pelo menos o garoto obedeceu. Mesmo que com os olhos apavorados.

- Nosso pai pode fazer coisas que você nem imaginaria, não tem metade do poder dele. Se ele quiser ser cruel com você, acredite, ele será, e tortura em um mundo de faz de conta não tem o mínimo da maldade que ele consegue chegar para conseguir o que quer.

- Se ele fosse tão forte assim não precisaria de mim, não precisaria de uma fração do meu poder, o que me faz acreditar que sou sim muito melhor que ele.

- Não o desres- - Chloe disse enquanto caminhava em minha direção, sua mão levantada como se fosse me estrangular, então a interrompi, não movi um músculo se quer, apenas apertei um pouco os olhos me concentrando e usei minha magia paralisando a garota que é um pouco mais alta que eu. Ou talvez seja os saltos.

Chloe tenta se mexer, falar e até mesmo piscar, seu corpo paralisou no tempo.

- Solta ela - Jack demonstra pulso firme pela primeira vez. E tenta se aproximar.

- Phasmatos navaro pulsus sanguinox. - profiro o feitiço, o sangue do mesmo se tornando ácido, seu anel da luz do dia derretendo os olhos arregalados e vermelhos, a pele da mesma cor que os olhos, sua pele queima de dentro para fora. Sua garganta quer jogar todo o ácido de seu corpo para fora, o problema que agora o esqueleto do homem e suas vias arteriais já estão consumidas pelo ácido. - Agradeço a visita mas eu tenho mais o oque fazer.

Assim mexo minhas mãos os fazendo sumir da minha frente e aparecerem no meio da floresta já sem nenhuma sequela. Ao respirar o ar puro sem ninguém por perto fecho os olhos, solto os ombros e relaxo, volto para dentro da minha casa. E passo a pensar sobre as ameaças que saíram da boca de Chloe, querendo saber se tudo aquilo passava de um teatro e promessas vazias. Não importa as intenções da mesma, eu devo protegê-los.

Ao entrar na casa vejo as luz da cozinha acesa, coisa que não estava antes. Tranquei a porta e me aproximei da mesma, topando com a cena mais icônica de todos os meus dias provavelmente. Henry na frente da geladeira, sentado comendo sorvete. Seu rosto estava todo sujo com a substância rosa, seu olhar focado no pote a sua frente fazia tudo ser cômico.

- Posso saber o que o mocinho está fazendo fora da cama? - falei tem tom de brincadeira.

- O que a mocinha está fazendo acordada e do lado de fora da casa? - respondeu com outra pergunta.

Acenei positivamente com meu rosto expressando a razão que tinha em questionar.

- Houve um problema e já resolvi, agora responde.

- Eu só acordei com o barulho e... estava com fome - colocou outra colher na boca saboreando o sorvete de morango.

- Lanchinho da madrugada não faz bem para a saúde.

- Que se dane, preciso comer.

- Quer me contar o que está acontecendo? O que está te deixando tão ansioso? - me sentei ao lado do meu irmão e peguei a colher de sua mão e experimentando o sorvete que fez meu mundo mais colorido por minutos de tão gostoso.

- Você estava lá fora com aquela moça, ela te ameaçou. Você...

- Eu vou ficar bem. Eu cuidei dela e do amigo dela sem esforço nenhum. Mas eu sei que tem algo a mais.

- Nós nos mudamos há quase um ano e você vai embora no próximo mês. Não sei se quero morar nessa cidade sem você.

- Você vai adorar ficar sem mim, não vou poder reclamar dos seus vídeo games que estão muito alto e atrapalhando minha leitura, nem das suas roupas no chão do quarto.

- Sem você aqui vou virar um marginal - refletiu com um pouco de sorvete na boca, sorriu sacana como se aquilo fosse sua maior conquista de vida.

- Faça tudo, só não ouça funk na minha conta do Spotify.

- Longe de mim. -

- Tem acordado a noite com que frequência?

- Uns quatro meses?

- Você vai morrer por falta de dormir assim.

- Eu recupero no intervalo entre as aulas, não faz mal.







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