O Teto

4 2 2
                                    


Sempre gostou de olhar para o teto.
Desde criança,
deitado na cama,
pegava-se perdido horas a fio
olhando para o teto.
O teto sempre fora branco,
mas olhando para aquela brancura,
enfiava-se na sua escuridão.
Fazia uma faxina.
Quando saía do seu buraco negro,
dava de cara com aquela brancura e tentava colocar o lixo para fora.
Hoje ele estava lá...
Olhar perdido no teto...
Olhos abertos para quem visse...
Virados para dentro dele.
E só ele sabia dos monstros
que matava diariamente.
Pessoa tranquila... Diziam.
Cheio de pavor... Refletia!
Não tinha vícios.
Uma vez, na adolescência, tentou fumar... Achava que era charmoso.
Achou-se idiota no primeiro trago.
Bebeu. Gosto de mijo, aspecto de mijo,
mijou mais que qualquer indivíduo.
Bebeu algumas outras vezes a mais...
Todos os amigos bebiam.
Já era diferentão demais,
pensativo demais...
Pensador? Jamais.
Deixou qualquer vício.
Preferiu lutar só com seu buraco negro.
Quanta serenidade... Pensavam.
Quanta dor... Sentia!
Desenhava num caderninho de desenho velho.
Desenhos que só ele entendia...
Alguns diziam: "que bonito".
Outros: "o que é isso?".
Mas sentava e desenhava.
Diferentão!
Quis mudar o mundo.
Tornou-se agressivo com palavras,
socos e pauladas.
Se não fosse pelo amor,
que fosse pela dor, pensava.
Recebeu da mesma forma que deu.
Odiava dinheiro.
Odiava tudo ser tão caro.
Odiava ver gente passando fome,
sem teto e no frio.
Fazia... Parecia que nada mudava.
Quis pegar suas coisas e sair por aí!
Sem dinheiro,
com fome e sem teto.
Covarde! Burguês covarde!
Lutava,
lutou,
tentava,
tentou...
Ajoelhou chorando.
Arrastou-se para cama
puxando os lençóis em busca de ajuda
para subir na cama.
Jogou-se nela e olhou para o teto.
O preto apareceu e o branco sumiu...
Mas dessa vez,
ele nunca mais conseguiu voltar

Punhos de GessoOnde histórias criam vida. Descubra agora