The Secrets of a Court

In pieces

⚠️Este capítulo contém traumas e pode conter gatilhos para algumas pessoas⚠️

Pov Ariadne;

Minha camisola estava cheia de sangue e eu não me importava nem um pouco sequer,minha vista completamente embaçada me deixando zonza.Arrastei os pés pela terra molhada,a chuva manchando ainda mais o branco de minha roupa,eu não conseguia respirar normalmente,minha cabeça latejava a cada vez que me lembrava das chicotadas que levei apenas por ter citado o nome de meu pai em uma conversa com Julian.Os sons da vista ao meu redor estavam todos abafados,como se tudo estivesse ameno a minha existência.Como se os deuses tivessem a certeza de que eu não faria diferença alguma se me levassem desse mundo e por um minuto imaginei como seria.

Me sentei em frente ao rio,sentindo o vento bater tão forte contra o meu corpo que me deixou com arrepios,fazendo com que as lágrimas que escorriam do meu rosto ficassem frias em contato com a chuva e o vento gelado. Abracei minhas pernas,soluçando de tanto chorar mas não de dor,minhas costas latejavam e ardiam profundamente mas era o vazio que me consumia.Os meus próprios pensamentos agindo como se pudessem me engolir,me devorar a qualquer instante em que fechasse os olhos por mais de dois segundos.Até mesmo a dor incessante em minhas costas me faziam imaginar e ter certeza de que eles estavam certos e que talvez os Deuses deveriam me levar.

Olhei a pequena piscina que Julian mandou construírem para Despina,que nem ao menos se banhava nela usando como justificativa a distância de alguns passos de sua casa.O lugar era praticamente inabitado,minha prima proibiu de entrarem aqui sem a permissão dela e como a mesma não usava,eu vinha as vezes para sentar e chorar como estava fazendo agora mesmo que pudesse escutar de bem longe,os gritos de Juliana chamando pelo meu nome. Sabia que estava me procurando para cuidar de minhas feridas mas eu não queria que elas se curassem,mesmo sabendo que meu tio Julian adoraria me ver em uma caixão,pensava na ideia de deixar que sangrassem até levarem todo o sangue de meu corpo.De todo modo era impossível,o sangue tinha parado de escorrer a alguns minutos como sempre acontecia.

Contive um soluço,tampando minha boca quando escutei a voz de Juliana mais perto.O brilhar da lamparina que carregava refletindo na parede interna,agradeci ao escuro por me esconder e me deixar sozinha.A água balançou com o vento que atravessou com força,Tentei respirar fundo ao observar nitidamente o corpo de meus pais diante de mim,os rosto me encarando como se estivessem bravos por ser uma molenga e viver trancada em meu quarto e aceitar a ideia de que estava viva apenas por piedade de meu tio Julian,que provavelmente me venderia a qualquer um que pagasse por mais.Me encolhi lembrando da ideia de entrar na piscina,imaginar a água me consumindo assim como fez com meus pais.

E se esse fosse meu destino?

Deixar que a água levasse minha vida como levou a deles até que os corpos ficassem cinzas?Não perderia minha vida como eles mas sim como um ser miserável que deixou na mão de outros o dever de manter o nome da família. Respirei fundo quando não escutei mais a voz de Juliana,tirando a mão de minha boca para me silenciar e então o pensamento de aproveitar que estava sozinha e pular na piscina.Com a morte dos meus pais,nunca mais entrei em qualquer tipo de água funda,poderia facilmente ter esquecido como seria nadar.

E se eu tentasse?

Somente para ver se pelo menos a água parava com esses pensamentos que não me deixam em paz,se eu não nadar e não me lembrar de como se faz é porque este era o meu destino,caso contrário meus braços por mais dolorosos que estejam irão se bater.Duvido muito que alguém além de Juliana ousa se preocupar comigo, minha prima é diferente porque demonstra de um modo estranho mas talvez viria atrás de mim.Se isso acontecesse,significa que os deuses me querem vivam mas caso contrário irem de encontro aos meus pais e encontraram meu corpo do mesmo modo que encontraram os corpos de meus pais.