21. O Herdeiro

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O dia ainda não havia acabado e aproveitou um intervalo na tarde para mais um encontro com Elisa. Não pensava que o encontro pudesse acabar logo, embora ela estivesse receosa e preocupada em partir. Quis que ela ficasse mais um pouco. Era difícil ultimamente querer se separar dela.

Contou então que colocaria em prática seu plano de dizer que é um herdeiro e assim seu Nono poder considera-lo um possível pretendente para Elisa, quando ela recusasse o noivado com Anselmo. Aproveitou para instruí-la a fingir que não o suportava. Isso incentivaria seu Nono a inventar o noivado também como forma de desagrada-la. Seu Nono tinha esse péssimo costume de agir contra seus filhos. Se por acaso Elisa demonstrasse que gostava dele ou que lhe fosse indiferente, era capaz de Nono não incentivar o casamento mesmo sabendo da herança de Gustavo. Confiava que Elisa saberia agir brilhantemente. Estava gostando cada vez mais de ter ela como sua cúmplice. Tinha tido essa ideia uns dias atrás quando Elisa ia sair para visitar sua prima Rosemary. Nono colocou Gustavo para levar e buscar Elisa da casa da prima. Na hora, Elisa pareceu contrariada com a ideia, mas que aceitava por falta de opção. Não foi planejado, mas deu a impressão a seu Nono que ela detestava a ideia de ter que sair com Gustavo.

Gustavo logo notou esse entendimento de seu Nono e viu aí uma oportunidade de colocar mais um complemento para seu plano. Seu Nono tem essas cismas que não saem nunca de sua cabeça. Provavelmente essa percepção viera da vez que Elisa, naquele tempo realmente aborrecida com Gustavo por conta da suposta noiva, procurou ignora-lo até ser obrigada a lhe dar aquele bom dia frio.

Gustavo achou divertido essa percepção errada e ajudou a incentiva-la, falando como se também não gostasse de sua incumbência e que apenas cumpria ordens. A verdade é que não se continha de felicidade com essa nova ideia. Procurou fingir indiferença enquanto saíam, mas estava muito alegre com o fato de que ia sair sozinho com Elisa pela primeira vez. Acabou que não precisou ir busca-la porque um imprevisto a trouxera de volta sozinha.

Agora, de volta ao jardim, a incentivava a prosseguir dessa forma em mais vezes em que se encontrassem na frente do seu Nono, para que pudessem dar encaminhamento ao plano deles. Eram muitos os detalhes em que pensava para ir colocando aos poucos essas ideias em prática.

Elisa acabou esquecendo seu receio, parece. O que foi bom para poder aproveitar um tempo a mais com ela. Pelo menos até Frosina aparecer para dizer que seu Nono procurava por Elisa àquela hora. Parecia que ela fazia isso só para afasta-los em vez de ser para ajuda-los. Dessa vez deixou Elisa ir, não sem antes se despedir com um beijo. Frosina ainda lamentou mais uma vez que Gustavo enganasse Elisa. Como de costume, Gustavo alegou que amava Elisa. Já estava acostumado a dizer isso para Frosina, mesmo acreditando que não fosse verdade. Também insistia que Frosina acreditasse nele, mesmo que começasse a parecer impossível que tal acontecesse. Frosina no entanto voltava sempre com uma ameaça que costumava deixar Gustavo perturbado.

No jantar daquela noite, Gustavo como sempre, se mantinha firme no propósito de enganar Nono fingindo não jantar, já que já tinha almoçado.

O jantar foi outra vez atribulado com as discussões de Tomáz e seu Nono. Dessa vez porque como se alimentavam das sobras do almoço, seu Nono foi mencionar seu casamento com Mariana, o que deixou Tomáz revoltado.

Gustavo não conseguia deixar de censurar essa impaciência de Tomáz por não saber se conter ao lidar com seu Nono. Achava chato toda vez que isso ocorria. Mas nesse dia aproveitou a confusão para pôr em prática o seu plano de fazer Nono pensar que Elisa não o aturava, fazendo a ela uma pergunta aleatória. Tal como esperava, Elisa respondeu a altura, cumprindo a ideia do plano de lhe dar um fora dando a seu Nono a impressão de impaciência dela para com ele.

O clima tumultuado de briga à mesa deu o tom perfeito e os dois souberam aproveitar bem o momento. Elisa foi formidável. Gustavo sorriu aprovando, pensando que essa parte do plano estaria dando mais do que certo. Não teria como errar. Reafirmou também a seu Nono essa ideia de que Elisa não gostava dele. Procurou falar como se tivesse conformado com o fato e obtendo assim o apoio de seu Nono. Nada poderia dar errado dessa vez.

Ainda nesta noite estendeu o tempo de trabalho até mais tarde. Era bom de vez em quando fazer isso para mostrar serviço e seu Nono se manter confiante nele. Nesta noite em específico, Nono, devido à nova confusão no jantar, lhe pedia para que ele aconselhasse Tomáz em relação a suas atitudes. Até parece que faria isso. Como se Tomáz lhe fosse dar ouvidos. Para não decepcionar Nono e suscitar possíveis suspeitas procurou acalmar a situação observando que Nono não se preocupasse com isso.

Nono lamentava que Gustavo não fosse o seu filho e Gustavo aproveitou a deixa para introduzir mais uma parte do seu plano. Era importante dar essa ideia antes que viesse o pedido de casamento de seu Anselmo. Tentando conter seu sorriso, o lembrou de que em breve teria que partir, o que deixou Nono abalado. Gustavo tentou disfarçar a alegria ao ver que seu plano estava dando certo e continuou a explicar que se tratava de ser ele herdeiro de um parente rico. A ideia da herança deixou Nono com os olhos brilhando. Gustavo viu que seu plano seguia o caminho certo. Fingindo indiferença, mas completamente feliz com o resultado dessa ideia, deu boa noite e foi dormir, deixando um Nono pensativo.

O lado de GustavoOnde histórias criam vida. Descubra agora