09. Um dia na vida de Gustavo

6 1 1
                                    

O dia seguinte traria algumas surpresas para Gustavo. Pra começar, ao chegar para o trabalho soube que Tomáz havia desistido de sair de casa, conforme tio Romão tinha lhe dito que aconteceria. Nono estava certo que ele não tinha se mudado por comodismo. Nono e suas cismas! Também soube que a história do pulador de muros ainda rendia: seu Bruno tinha levado Tomáz em casa e seu Nono ainda acreditando que ele enviava bilhetinhos para Elisa e disposto a impedir que tal permanecesse, partiu pra cima de seu Bruno. Gustavo tentou mais uma vez alegar incerteza sobre a culpa de seu Bruno, mas para Nono não havia a menor dúvida.

Conversou também com Elisa sobre essa situação, e ao ver que ela estava tensa com a situação, manteve um ar preocupado e observou ser impossível convencer Nono do contrário. Até fingiu que pensava em contar a verdade, mas de fato, não havia nada que pudesse ser feito para tirar de seu Nono a ideia de perseguir seu Bruno. Talvez só a verdade o convencesse, mas dizer a verdade iria destruir seu tão bem traçado plano.

Aproveitou para dizer a ela que seu plano estava indo bem porque Nono estava dependendo e confiando cada vez mais nele a ponto de que um dia o próprio sugeriria o casamento deles. Gustavo não via problema em compartilhar com Elisa o andamento do seu plano, era só não saber o objetivo final. Na verdade até gostava de ter sua cumplicidade. Ela conseguia entender suas ideias e o seu objetivo para explicar o seu modo de agir para lidar com seu Nono.

Elisa, entretanto, não acreditava que isso pudesse acontecer porque Gustavo não tinha dinheiro, mas ele tinha em mente que seguindo o plano a risca, seu objetivo final seria concretizado. Achou encantador os temores dela de serem flagrados juntos e sorriu.

Nesse dia, Nono estava mais uma vez lamentando sem razão o distanciamento dos seus filhos em relação a ele. Nessas horas, Gustavo sempre aproveitava para demonstrar a Nono o quanto o considerava como sendo um pai. Também contou de forma descontraída que Judite havia ganhado a rifa da igreja, a qual Nono se recusara a comprar e que ele, Gustavo havia comprado para ajudar. Nono ficou interessado que Judite quisesse comprar uma casa e ofereceu vender a dele em que ela já morava. É claro que Gustavo nem pensou em sugerir isso a ela, mas Nono, ignorando a negativa de Gustavo, manifestou sua proposta. Era tão absurda que deixou Gustavo sem palavras, mas ele afirmou que falaria com ela, claro.

Também neste dia era o dia da família ficar no escuro. Uma das medidas de economia do seu Nono. Mais um dos absurdos, ao qual Gustavo reagia como se fosse algo muito normal, apenas para que Nono pudesse mante-lo sempre em alta conta. Animado Nono contou também que em breve chegaria o dia da passeata da economia. Uma passeata que ele fazia todo ano para incentivar o povo a evitar o desperdício. Indiferente e para manter a base da confiança, Gustavo concordava com tudo que Nono dizia a respeito, inclusive de ir a tal passeata. Mas ficou um tanto chocado quando ouviu Nono falar que no percurso também revirariam latas de lixo em busca de utilidades: Aonde foi se meter? Espantado com a ideia, tentou alegar que talvez Elisa e Frosina não estivessem dispostas a ir. Quem sabe Nono mudava de ideia (pelo menos em relação a elas)? Mas é claro que foi uma tentativa vã porque Nono estava confiante de que todos iriam como era o costume e entusiasmado com a ideia que tinha.

Chegando a casa, Gustavo encontrou Zezinho que havia ido buscar consolo com tio Romão. Ele estava triste porque a tia tinha brigado com ele sem motivo. Zezinho era o sobrinho da dona do restaurante local, onde tio Romão trabalhava e da onde tinha sido demitido pela dona. Gustavo tinha ficado um tanto contrariado com essa demissão, mas acreditava que tio Romão voltaria ao antigo emprego, até por conta do apego que a população tinha aos seus chazinhos. Gustavo se ofereceu então para levar o menino até em casa para poupar tio Romão de precisar passar no restaurante.

Estando lá entregou a criança aos tios, explicou a situação e aproveitou para se distrair jogando um pouco de sinuca. Quem apareceu também por lá foi Tomáz. Gustavo até achou uma boa ideia essa presença porque assim poderia tentar uma aproximação e quem sabe acabar com suas desconfianças. Foi sincero ao dizer que tinha ficado feliz por Tomáz ter ficado em casa. Tomáz aproveitou para sondar a respeito de suas intenções, falando ainda sobre a culpa que havia caído sobre seu Bruno. Gustavo se divertiu ao lembrar-se da situação e foi indiferente ao fato: tinha sido só uma coincidência, nada podia fazer sobre o assunto. Sobre Elisa procurou não olhar para Tomáz ao afirmar despreocupado que a amava, mas ficou perturbado com a ameaça que Tomáz lhe fazia caso brincasse com os sentimentos dela.

O lado de GustavoOnde histórias criam vida. Descubra agora