24. A recusa

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No dia seguinte Gustavo até que acordou bem disposto. Recordou os últimos acontecimentos e viu que não teria muito com que se preocupar desde que seu Nono continuasse confiando nele. Além do mais era o dia da festa de aniversário em que seu Anselmo pretendia pedir a mão de Elisa em casamento. Pensava que depois desta festa iria dar mais um passo para a concretização de seu plano. Precisava saber como agir, mas era só ser cauteloso que com certeza alcançaria o seu objetivo.

Gustavo se levantou lembrando que pela manhã ainda teria de acompanhar Nono na missa de sétimo dia da esposa do prefeito. O evento estava lotado. Felizmente não precisou participar do empurra-empurra no final para cumprimentar o prefeito.

De volta em casa manteve seu papel de solicitude a seu Nono, observando quando este, parecendo ajudar a deixa-lo a sós com Elisa, arrumou pretextos para tirar Frosina e Anselmo da sala. Elisa ainda demonstrava algum temor em relação a noite que estava porvir e ele procurou encoraja-la mais uma vez a ter forças para recusa. Queria acreditar que ela conseguiria agir. O não dela era importante para dar prosseguimento ao plano.

No fim do dia ajudava Nono a se arrumar quando sua sobrinha Grace entrou no quarto pedindo que Nono permitisse a ida de Frosina à festa. Frosina ficara encarregada de cuidar de Zezinho durante o evento. Seu Nono não queria deixa-lo em outro lugar. Ninguém entendia o porquê dessa preocupação, mas era difícil contestar essas suas cismas. Grace sugeriu então que o menino também fosse, mas como Nono se mantinha relutante, Gustavo decidiu intervir alegando que não teria problema. Isso fez com que Nono reconsiderasse a proposta de Grace e tanto Frosina quanto Zezinho passaram a poder ir à festa. Podia constatar assim que seu Nono já aceitava seus conselhos, sem que precisasse concordar com ele o tempo todo.

Na festa chegaram todos juntos, mesmo que Tomáz tivesse ido em sua moto. Foram recebidos por Anselmo e sua irmã Elvira. Gustavo estava bem tranquilo e animado para a festa. Gostava de passar o tempo conversando com Elisa, mas quando seu Anselmo chamou atenção para si no meio da sala, acabou se perdendo dela. Mas conseguiu se distrair conversando com outros convidados. Um zum zum zum parecia indicar que estavam em busca da aniversariante que tinha desaparecido.

A festa parecia próxima do fim sem que o pedido tivesse sido feito. Seu Anselmo parecia hesitante em fazer o pedido e achando divertida a situação, Gustavo resolveu encoraja-lo para que não desistisse. Era capaz até de adiar esse pedido atrasando o andamento do seu plano. Nono precisava decidir por casar Elisa com ele, Gustavo.

Como a festa estava próxima do fim, os convidados se reuniram junto com a aniversariante para os parabéns. Gustavo voltou a cabeça interessado no que poderia estar havendo quando Nono e Anselmo chamaram Elisa: seria a hora do pedido? Elisa acabou indo com os dois enquanto os convidados esperavam ansiosos. Quase ninguém devia saber do plano de seu Anselmo. Gustavo ficou curioso se o pedido seria feito logo e quando. A conversa no escritório parecia demorar muito. O que estaria acontecendo? Teria seu Anselmo feito o pedido ou teria enfim desistido? Não, seu Nono não o deixaria desistir, não com o dote em jogo. E como Elisa teria reagido? Teria conseguido recusar? Estaria ela bem?

Em um rompante, alguém apareceu correndo na sala, onde todos aguardavam e vendo que se tratava da aniversariante, uma chuva de aplausos se seguiu a essa entrada: era a hora do parabéns. Mas não foi o que sucedeu. Seu Nono também saía do escritório parecendo muito revoltado, seguido por seu Anselmo que tentava conte-lo. Ninguém parecia ter ideia do que ocorria. Gustavo pensava se o pedido havia sido feito. Elisa parecia muito perturbada: uma pena não poder chegar perto dela. De forma bastante estúpida e egoísta que lhe eram bem típicas, seu Nono sanou a curiosidade de todos ao revelar a recusa de Elisa ao pedido de casamento de Anselmo.

Elisa tinha recusado! Gustavo aprovou tal atitude. Tinham conseguido! Quem diria! Um alívio também veio: Anselmo fizera o pedido e Elisa tinha conseguido recusar. Mais um passo dado.

Após todo esse escândalo provocado por seu Nono, a festa desandou, os parabéns foram esquecidos e os convidados começaram a partir. A aniversariante muito abalada tinha sido a primeira a ir embora com o irmão. Seu Nono pelo jeito devia ser o último enquanto aguardava o farnel que costumava levar pra casa das festas em que ia. Mantinha-se indignado com a atitude de Elisa. Como se ela fosse obrigada a aceitar. Provavelmente a raiva viria da perda do dinheiro que viria do dote. Ainda bem que inventara a tempo a história de ser herdeiro, sem a qual o plano podia não seguir em frente. Se inventasse só agora era capaz de não surtir o mesmo efeito. Agora viria a próxima parte do plano. Nem acreditava que isso estivesse mesmo acontecendo. Quando chegou à cidade, à casa de seu Nono, quando conheceu Elisa, dona Judite... não imaginava que chegaria a tanto! Será que seu Nono demoraria muito para fazer a proposta?

Um chamado de Nono fez Gustavo despertar de suas reflexões. Finalmente! Não via hora de ir para casa. Já estava meio cansado de ficar lá esperando. O último a sair da festa! E estava ansioso para saber de Elisa, como ela estava depois de toda essa história.

Nono, no entanto, lembrou de inventar de ir procurar seu Anselmo, que tinha sumido depois da confusão. Que saco! Segurando o farnel, Gustavo voltou a se sentar para esperar a conversa de Nono e Anselmo.

Esperava que não demorasse muito. Nem acreditava que Elisa tinha recusado. Estava tão feliz que não via a hora de encontra-la. Como ela deveria estar depois de tudo isso? Parecia tão abalada. E Nono demorando! Que sono! Seu Nono não vai acabar com essa conversa não?

Depois do que pareceu um século, seu Nono finalmente voltou, agora sim, para partirem. Em casa ainda queria ir perturbar Elisa mais uma vez sendo impedido por Frosina. Se mostrava inconformado por conta de seu Anselmo. Como se se importasse! Gustavo pensava em um meio de saber sobre Elisa, sem provocar desconfianças de sua intenção a um Nono que continuava chiando. Achou um meio, mas Frosina não parecia ter muitas respostas, então achou por bem sinalizar para que Frosina fosse ver se Elisa estava bem. Ele estava ansioso para saber dela. Enquanto Frosina ia, conteve seu Nono que reclamava de Frosina, como se fosse para o bem dele.

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