13. A passeata da economia

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O temido dia tinha chegado. Gustavo estava muito tenso com o que estava por vir naquele dia de domingo. Tinha acabado de se mudar (só dois dias) para aquela casa e teria que enfrentar o que prometia ser um pesadelo.

A manhã até tinha começado tranquila, com Tomaz provocando Nono e divertindo a todos no café da manhã. Não resistiu ele em achar graça também, evitando chamar atenção de seu Nono, enquanto observava as reações de Elisa. Também tiveram a visita de Mariana. Mas isso era só o começo do dia.

Já estava tudo pronto para o evento. Nono estava empolgadíssimo. Não havia modo de convence-lo do contrário e nem mesmo se negar a ir. Gustavo já imaginava como seria aquele dia de desagrado que teria de enfrentar. Dentre os absurdos de seu Nono, esse foi o mais longe.

Anselmo também estava lá, primeiro aconselhando Elisa. Gustavo se mantinha atento às reações dela. Seu Nono estava mesmo pensando que Gustavo era seu guarda-costas quando achou que diante de ameaça de pedradas, Gustavo o defenderia. Depois, Anselmo tentou convencer Nono a desistir dessa ideia estapafúrdia, mas foi em vão. Gustavo não viu problema em ser sincero com seu Anselmo ao admitir o absurdo da situação, enquanto fingia para seu Nono que ia tudo bem. Não havia outro jeito mesmo, porque seu Nono não veria de outro modo e não admitiria que alguém visse.

Gustavo nem poderia pensar em desistir de ir, porque primeiro seu Nono poderia perder a confiança que tinha nele e que foi tão bem conquistada. Na verdade poderia chegar a demiti-lo e isso arruinaria todo o seu plano. E segundo tinha Elisa. Não conseguia imaginar a possibilidade de deixa-la sozinha nessa empreitada. Precisava cuidar dela de alguma forma.

Conseguir convencer Nono a deixar ela ficar era inviável. Ele estava quase a ponto de agredi-la para obriga-la a ir. Ele tinha muito essa mania: tantas vezes Gustavo, bajulando, tinha dito que o considerava como um pai, para logo em seguida ficar sem graça com seu Nono sendo intolerante com um dos filhos.

O jeito foi seguir adiante um tanto contrafeito. Em meio ao tumulto, o tanto de gente que participava e o tanto que vaiava, procurou se manter impassível. Ao mesmo tempo tinha que atender aos interesses de seu Nono, enquanto não tirava os olhos de Elisa, preocupado com o mal estar que podia estar sentindo e tentando lhe dar algum conforto.

A passeata correu por toda a cidade. Parecia que não acabava nunca. Seu Nono revirava as latas de lixo com prazer e conclamava o povo a economizar. Era um pesadelo, mas que depois de toda uma andança finalmente chegava ao fim. Mas o dia não: chegando em casa ainda acabou por fazer as vezes de guarda- costas impedindo a multidão de invadir o casarão, tal qual seu Nono imaginou. Depois teve que ouvir Nono dizendo que ao defender Elisa, Anselmo bancava o herói dela. Sem entender muito bem porque, se sentiu perturbado ao ouvir isso.

Gustavo também pensou em se aproveitar da situação da passeata para tirar proveito para o seu plano, vendo um modo de bajular seu Nono. Infelizmente cometeu com isso um erro: Nono, reclamando que Tomáz tinha atrapalhado a passeata ao retirar Elisa de lá durante o evento, recorreu a Gustavo, como costuma fazer, para lhe dar apoio. E Gustavo, sem saber bem como agir resolveu chamar atenção de Tomáz. Não que não tivesse gostado do que este fizera, mas tinha que fingir para seu Nono de algum modo. Tomáz que nunca participa de suas ideias, acabou por lhe dar um fora. A raiva que ficou da situação, acabou descontando em Grace que tinha ido lá pedir que seu tio parasse de fazer essas passeatas. Por fim, para angariar mais aprovação de seu Nono, ainda fez um belo discurso a favor daquele absurdo que era a passeata. Estava no auge.

Demorou, mas esse dia finalmente acabava. Tinha sido longo e improdutivo. Achou graça ao pensar que de certa forma foi o segurança de Elisa, como Nono propôs ao temer que ela tivesse outro pretendente. Exausto desse dia terrível, caiu logo no sono.

O lado de GustavoOnde histórias criam vida. Descubra agora