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Depois da nossa conversa as coisas se encaixaram perfeitamente na minha cabeça. Me lembrei das vezes que ela estava muito cansada pra transar comigo. Ela já havia se divertido com a Hailee. Quando ela ficou furiosa por ter visto a Hailee me encarando na festa, ela não estava com ciúmes por mim, era por ela. Quando ela disse que em uma semana não acharam uma nova opção de atriz para o papel principal, era ela segurando a vaga pra Hailee. Tenho certeza que foi ela quem sugeriu o teste da mulher desde o princípio. Quando ela me beijou na frente da Hailee após a mesa de leitura, Lisa queria fazer ela ficar com ciúmes.

A cada revelação eu desabava mais um pouco. E mesmo que eu tenha me preparado para todos os cenários possíveis daquela conversa, eu jamais imaginaria que estava sendo tão profundamente enganada.

Eu me senti a pessoa mais pequena e ingênua do universo. Como eu não percebi? Já faziam meses!

Eu chorei muito, mesmo na frente dela. Porque ao me preparar pra essa conversa eu decidi que hoje seria o último dia que eu choraria por esse assunto. Então me permiti chorar até a última gota. Doeu, eu senti cada palavra entrando no meu organismo como facas afiadas me rasgando.

Fechei os olhos porque não estava suportando a tristeza. Minha cabeça caiu sobre meus joelhos, abracei minhas pernas na tentativa de me dar algum consolo e me sentir menos vulnerável perto dela. Foi inútil.

Fiquei assim por algum tempo até minhas pernas começarem a formigar. Eu tinha que sair daquela posição. Foi nesse instante que eu me dei conta de que se eu ficasse em uma posição por muito tempo, por natureza humana eu começaria a sentir dor. A dor e o desconforto eram o grito do meu corpo pedindo para eu mudar de posição. Essa era uma escolha minha: mudar de posição, mudar a postura para parar a dor.

Lentamente fui esticando as pernas que estavam dobradas batendo em meu peito. A dor não passou imediatamente. Levaria alguns minutos para o sangue voltar a circular normalmente por aquela parte do meu corpo. Até lá não tinha nada que eu pudesse fazer. E quanto mais eu me mexia, mais incomodava, mas também mais rápido o desconforto ia embora.

Minha circulação ruim tinha acabado de me ensinar uma bela lição.

Eu estava em um poço de dor, eu achava que estava confortável com a Lisa, mas acontece que eu fiquei tanto tempo na mesma posição com ela, que chegamos no estágio de saber que estamos em um relacionamento, mas não o sentimos mais como antes. E agora só tínhamos a dor. Nosso amor não estava circulando direito. E como poderia, se aparentemente só o meu lado trabalhava pra isso? O amor que vinha do lado dela era apenas o suficiente pra gente sobreviver. Estagnadas. Toda dor que senti nesse instante era o grito da minha alma pedindo pra eu mudar de posição.

Com esse insight, me levantei quando percebi que conseguiria ficar em pé sem dificuldades. Ela estava chorando sentada em uma das poltronas da sala, me observando.

S/n: Obrigada por ter me contado a verdade. - tentei olhar nos olhos dela mas logo desviei o olhar. Ainda não estava pronta. Eu sabia o que precisava fazer, mas ainda não estava pronta.

Lisa: S/N, me perdoa. - ela disse se levantando de onde estava e vindo em minha direção.

Eu sempre soube que guardar rancor e não perdoar as pessoas faz mais mal pra mim do que mal para a pessoa.

S/n: Eu já decidi que quero te perdoar, Elisa. Mas ainda não estou pronta pra isso.

Lisa: Não me chame assim, por favor. - ela implorou ficando de joelhos na minha frente, foi a primeira vez que ela se aproximou de mim durante toda a conversa. Ela passou os braços em volta das minhas pernas e me abraçou ali mesmo.

O que passa na cabeça dela?Onde histórias criam vida. Descubra agora