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O apartamento novo de Margot tinha o cheiro fresco de tinta nova misturado ao aroma sutil dos móveis ainda embalados. S/N estava ajudando Margot a organizar as caixas, cada uma no cômodo correspondente ao que continha, livros na sala, roupas no quarto.

Margot parecia mais leve, como se o simples ato de se mudar fosse um alívio de uma carga emocional antiga, mesmo sabendo que precisava manter-se atenta ao relacionamento da amiga e isso seria mais difícil agora morando em outro lugar. S/N, por outro lado, não conseguia evitar a sensação estranha que crescia em seu peito. Aquele apartamento representava mais do que uma nova casa, era um novo começo. Talvez um afastamento de sua melhor amiga.

Ela pegou uma caixa com alguns porta-retratos, imaginando onde Margot colocaria aquelas lembranças de uma vida que ela mal conhecia.

S/N:(tentando parecer casual) Você parece diferente.

Margot sorriu, aquele sorriso enigmático que às vezes irritava S/N, mas que ela também achava encantador.

Margot: Sim, acho que é um novo começo.

Antes que S/N pudesse responder, o som da campainha ecoou pela sala vazia.

Margot: (apressada) Espera um minuto, deixa que eu atendo.

Margot pulou o sofá, indo até a porta. Quando ela abriu, S/N viu algo que não esperava.

Lisa.

Lisa: (sorridente) Oi, cheguei pra ajudar!

Disse ela com naturalidade, segurando uma sacola com algumas garrafas de vinho.

S/N piscou, atordoada. Desde quando Lisa e Margot eram tão próximas? Uma pergunta que ela não ousaria fazer naquele momento, mas que cravou uma pequena semente de dúvida. Ela percebeu que havia partes da vida de Margot que estavam fora do seu alcance, e aquilo começou a incomodá-la de uma forma que ela não queria admitir.

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S/N tentou mascarar sua surpresa, colocando a caixa de volta no chão com cuidado. Lisa chegou com um sorriso tranquilo, como se fosse algo comum, como se já tivesse feito aquilo antes. Ela cumprimentou Margot com um abraço casual, um gesto que parecia natural demais para duas pessoas que, até onde S/N sabia, não eram tão próximas.

Lisa: Trouxe vinho. Achei que poderíamos comemorar seu novo começo (disse colocando a sacola em cima de uma das caixas ainda por desembalar). E claro, ajudar com o que for preciso.

Margot riu, dando de ombros.

Margot: Você sempre sabe o que trazer. E por aqui, temos muito o que fazer.

S/N observava em silêncio, um leve desconforto surgindo. Ela não conseguia parar de pensar em como Lisa estava à vontade naquele espaço. As duas riam e conversavam sobre coisas que S/N não estava envolvida, como se fossem velhas amigas. Era algo sutil, mas para S/N, parecia que Margot e Lisa estavam compartilhando algo que a deixava de fora.

A última pessoa que ela esperava ver ali, ajudando Margot, era Lisa. E o mais estranho de tudo era o quão natural Lisa parecia ao lado de Margot, como se essa proximidade tivesse se construído sem que S/N sequer percebesse.

Quando Lisa se virou para S/N, seus olhos se estreitaram levemente antes de ela abrir um sorriso—aquele sorriso familiar que S/N conhecia bem, carregado de algo que só quem já teve um passado juntos poderia decifrar.

Lisa: Oi, S/N. Quanto tempo....

Lisa disse com uma voz suave, mas carregada de uma tensão velada.

O que passa na cabeça dela?Onde histórias criam vida. Descubra agora