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Eu encarava o aparelho em mãos sem saber o que fazer, completamente paralisada

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Eu encarava o aparelho em mãos sem saber o que fazer, completamente paralisada.
"Oi, gatinho. Saudades." isso não me parece o tipo de mensagens que amigos trocam. Escuto o registro do chuveiro sendo desligado e me apresso em desligar o aparelho, o colocando sobre a bancada novamente. Me ajeito na cama e finjo ler uma revista qualquer.
— Tá de ponta cabeça.- é a primeira coisa que diz assim que sai do banheiro, e o olho confusa.— A revista. Tá de ponta cabeça.
— Ah, é porque eu.. tava vendo um desenho que só dá pra ver de ponta cabeça. - me explico meio embananada e nem eu acreditaria numa resposta esfarrapada dessa. Ele ri e veste a cueca, colocando a calça em seguida.
— Planos pra hoje?
— Na verdade sim. Tenho almoço na casa dos meus pais.- ele abre um sorrisinho de lado, e fecho a cara, me lembrando da mensagem que vi a alguns minutos. Tudo bem que não temos nada, e ontem foi a primeira vez que realmente dormimos juntos, mas é meio triste ler isso, ainda mais por ele não ter me falado nada. Sei lá, sou meio receosa com as coisas.
— Tudo bem. A gente pode se encontrar mais tarde? - pergunta e dou de ombros, me levantando. Pego meu vestido jogado no canto do quarto e o visto, calçando meus sapatos em seguida. Paro na frente do enorme espelho localizado no meio do quarto e ajeito os cabelos.
— Ok, Liz. O que aconteceu? - dou de ombros e escuto sua respiração longa.— Me conta, droga. Eu sei que aconteceu algo pra você ficar assim.
— Pergunta pra Katie, gatinho. Talvez ela saiba te responder. - e assim saio batendo a porta do quarto, deixando um Martin parado com a maior tacho do mundo.
Babaca.

Toco a campainha com um pouco de dificuldade, devido ao bolo em minhas mãos. Me lembrei no caminho de que fiquei encarregada pela sobremesa, então passei em uma padaria qualquer e comprei o bolo favorito de Enzo, de cenoura. Pensando nele, o mesmo abre a porta, com os fones de jogo no pescoço e o celular em mãos, ele sorri em minha direção. Não penso duas vezes em o puxar para um abraço, que quase causa um bolo no chão.
— Entra aí, Liz. Mamãe tá na cozinha e papai no jardim. E eu jogando, fuuui.- ele explica rapidamente e vira as costas, correndo em direção ao sofá, gritando alguma coisa para o celular. Adolescentes.
— Querida, oi! - mamãe exclama assim que passo pela porta da cozinha, e sorrio, colocando o bolo na mesa e a abraçando em seguida. — Vejo que não foi você quem fez o bolo, né?
— Eu esqueci, mãe. Comprei na padaria da esquina. Mas pelo menos é o favorito de Enzo. - sorrio amarelo e ela bate o pano de pano em meus ombros, como fazia nos tempos antigos. Embalamos em uma conversa gostosa sobre a vida, e conto sobre meu término com Bernardo, e ela ficou mais triste que eu, pois amava o garoto. Contei que meus amigos do intercâmbio estavam aqui, mas ocultei a parte que dormi com Martin, claro. A ajudei montar a mesa, e papai finalmente apareceu, todo sujo de terra, já que mexia no jardim. O abraço meio desengonçado tentando não me sujar, e mamãe o manda tomar banho. Uma coisa que sempre admirei em meus pais, era o amor que sentiam um pelo o outro. Apesar das brigas e momentos difíceis, sempre estavam ali presentes, e independente de tudo, juntos. E o que aquece meu coração mais ainda, são os olhares que direcionam. Os olhares apaixonados, os sorrisos bobos. Eternos adolescentes apaixonados.
Decido irritar Enzo um pouquinho, e vou para sala, me jogando ao seu lado no sofá. Ele, um tanto zangado, me ensina jogar. E é bem patético. Adolescentes de doze anos costumam ser patéticos, eu também já fui uma.
— Crianças, venham comer. - a voz de mamãe se sobressai, e como antigamente, eu e o garoto apostamos corrida em direção a mesa. Por conta de seu porte físico de atleta, ele chega primeiro, fazendo uma dancinha ridícula de vitória. Nos sentamos a mesa, e damos as mãos, fazendo nossa clássica oração de sempre. Agradecemos pela comida, pela família e pelas bençãos. E assim que somos liberados a abrir os olhos, não penso duas vezes em atacar o prato de comida a minha frente.
Céus, quantas saudades senti da comida de mamãe.
— Pela sua carinha, vejo que aprovou, Hija. - papai balbucia e faço um joinha com as mãos.
— Com certeza. - os próximos minutos são de silêncio, apenas com o som de apreciamentos a comida de dona Rose, que é magnífica. O almoço se passa tranquilo, com nossas brincadeiras de sempre e até com direito a meu bolo de padaria — literalmente. Quando terminamos, ajudo Enzo recolher as louças enquanto papai prepara a máquina. Depois, os ajudo colocar tudo lá dentro, ligando e escutando o som extremamente satisfatório. Vou para sala com os dois ao meu encalce, já que mamãe se encontrava na sala, com o controle em mãos e apontava para Televisão.
— Crepúsculo?
— Te amo, mãe. - escuto os resmungos dos garotos mas não me importo, afinal, nós estamos falando de Edward Cullen.
....
Martin Martinez.
Ei, gatinha, seu apartamento as 20.
Não se atrase.
Bjos

Eu:
e se eu não quiser, hein?

Martin Martinez
Você não tem opção.
É sim ou com certeza.
Entendido?

Eu:
você me cansa, Martin.

Martin Martinez
Poxa, gatinha, assim você me magoa. Relaxe e descanse, para que eu possa te dar o cansaço merecido. E acredite, eu cumpro com o que falo.

Eu:
te encontro em casa.

E assim desligo o telefone, não antes de checar o visor e ver que o mesmo marcava 18 horas. Pelo cansaço do serviço e da faculdade — fora os problemas — acabei adormecendo no sofá de mamãe, com a cabeça encostada em Enzo, que também dormia. Que me lembrou de quando éramos crianças, e fazíamos clássicas festas do pijama, onde eu era a primeira a dormir. Tempos bons. Quando abro os olhos, vejo que minha mãe não está mais no sofá, e quando sinto o cheiro de café, minhas suspeitas se confirmam. Levanto meio grogue de sono, tomando todo o cuidado do mundo para não acordar Enzo, que dormia de boca aberta, e caminho em direção a cozinha, encontrando dona Rose encostada sobre a pia bebericando uma xicara de café.
— Aceita uma xicara de café, querida? – estende o copo rosa em minha direção e nego com acenar de cabeça.
— Não, obrigada. 'To indo embora, tenho visitas. – noto seu cenho confuso. — Um amigo acabou indo pra lá de ultima hora.
— Ah, tudo bem então. Você já vai? Não vai nem esperar ao menos Enzo acordar?
— Foi mal, mãe. Mais tarde mando uma mensagem pra ele, eu realmente estou com muita pressa. – a abraço rapidamente, enquanto desbloqueio o celular, para chamar o Uber. — Te amo.
— Também te amo, e não corra. – tarde demais, pois já estou correndo em direção ao lado de fora, onde o carro me espera. Não faço ideia do que Martin aprontou dessa vez, e não sei se estou afim de descobrir.

Observo a porta em minha frente e bato os pés, claramente nervosa. Estou a uns cinco minutos parada aqui, sem coragem de girar a maçaneta em minha frente. Parecendo ler minha mente, a porta de minha própria casa se abre, revelando um Martin com um pano nos ombros e gotinhas de suor escorrendo por sua testa. Ontem, acabei esquecendo minhas chaves em seu hotel, e ele usou isso a seu favor, invadindo meu apartamento.
— Entre, gatinha, as panelas estão no fogo e...
— O que você 'tá fazendo aqui, Martin? – o interrompo, e seus olhos vacilam por um instante.
— Olha, linda, eu vim aqui pra gente se acertar. Você entendeu tudo errado, posso explicar.
— Explicar o que? Nós não temos nada, Martin. Você é solteiro e faz o que achar melhor, sendo isso a Katie ou não.
— Agora sim você 'tá sendo injusta. Você acha que quando foi embora, eu fiquei como? Feliz? Sinto em te informar, linda, mas eu não fiquei nem um pouco feliz. Pelo contrario, eu só conseguia pensar em você a porra do dia todo, e me condenava por ter sido tão burro e não ter percebido meus sentimentos antes. – ele solta tudo em uma lufada de ar, e de repente sinto as coisas girarem. Ele realmente sentiu tanto minha falta assim?
— Mas assim como você, Liz, eu não sou de ferro, e nem trouxa o suficiente pra te esperar pela droga de seis anos! Você tem noção de como me senti quando cheguei e vi você noiva de outro cara? Não, você não faz.
— Martin, eu...
— Não precisa falar nada, Liz. Já vi que eu to fazendo papel de trouxa aqui, mas eu cansei. Ouviu bem? Eu cansei, to fora. – ele passa por mim em direção a porta, e sinto que é hora de falar tudo que senti nesses 6 anos.
— Eu amo você. – isso o pega desprevenido, e é o suficiente para faze-lo parar. — E isso é meio louco, pois faz 6 anos que não te vejo. Mas droga, eu amo tanto você. E você nem ao menos faz ideia de como foi pra mim, te deixar pra trás naquele aeroporto. Quando cheguei aqui, não conseguia fazer outra coisa a não ser chorar. Chorar por ter sido orgulhosa demais, e não assumir meus sentimentos por você, e acredite são muitos. Martin, eu... – não consigo terminar a frase, pois ele agarra minha nuca, colando nossos lábios. É um beijo quente e selvagem, com aquela tensão existente entre nós presente. Com apenas uma mão – já que a outra está afundado em meus cabelos – ele desliga o fogão, e caminhamos até o quarto sem se desgrudar um segundo sequer.
— Droga, eu acho que te amo também. – rimos juntos e nos jogamos na cama, se embolando nas caricias. Que se danem panelas no fogo, palavras não ditas e sentimentos confusos, nós temos um ao outro. E isso é mais que suficiente.

Até Que o 𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑆𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒 Nos Separe. Onde histórias criam vida. Descubra agora