❥27- Seja bonzinho, Dodger.

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Quando chega você bate duas vezes na porta e toca a campainha, apesar de ter as chaves do apartamento, não parece certo usar ela agora, mesmo que esteja no seu bolso

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Quando chega você bate duas vezes na porta e toca a campainha, apesar de ter as chaves do apartamento, não parece certo usar ela agora, mesmo que esteja no seu bolso. Chris demora um pouco para abrir a porta, mas isso é algo que você já está acostumada.

— Oi, —Ele cumprimentou com uma voz cansada — Desculpe a demora, eu ainda não consegui separar tudo para você levar.

— Tudo bem.— Você tranquilizou com a voz rouca. 

Chris está usando calça de moletom e camiseta simples, ele tem um semblante que demonstra exaustão. Seus olhos estão vermelhos, e um pouco inchados. Você se pergunta se assim como você, ele se permitiu chorar quando ficou sozinho.

— Você quer entrar? Eu já tô quase acabando.

— okay.

Pela primeira vez é estranho entrar naquele apartamento, tudo tem um ar tão acinzentado, tão triste e solitário, era como se tudo ao redor refletisse o estado emocional de vocês dois. 

Na sala há alguns livros fora da estante e uma caixa aberta sobre a mesinha de centro. Jornais velhos foram usados para envolver as louças da cozinha, e alguns caixas já fechadas com durex estão num canto solitário da sala. 

— Você vai se mudar?

Ele dá de ombros com um meio sorriso estranho.

— Adam foi obrigado a Alertar a North Pine, sobre os motivos da minha demissão porque é o procedimento padrão, Então, a Hellen foi bem amigável quando me disse que eles estavam avaliando outras pessoas para o cargo.

Ele se aproxima dando passos cautelosos sua direção.

—Sinto muito que tenha perdido o emprego.

—Está tudo bem. Só duas coisas me mantinham aqui,   dar aula na universidade — ele disse caminhando na sua direção —E... você. E as duas coisas eu perdi. 

— Não queria que tivesse perdido. — Confessou com a voz embargada 

— Sei disso. — Chris balança a cabeça com lágrimas nos olhos 

Vocês se olham por alguns segundos até ele quebrar o contato visual e coçar a garganta 

—Mas e você, como está se sentindo?

-Sinceramente? Eu não consigo nem descrever... Eu só penso que talvez, só talvez, tudo isso tenha sido um pesadelo horrível, e eu acorde na minha cama e nada disso tenha sido verdade. — Você explica apressadamente mas o nó em sua garganta faz sua voz falhar então as palavras viram choro.

—Ei, vem cá — Ele diz com carinho e seu rosto seu afunda no peito dele.

Chris desliza a mão carinhosamente pelas suas costas para cima e para baixo enquanto você soluça baixinho.

Depois de alguns segundos você consegue se recompor e ele te solta. Enquanto seca as lágrimas, você nota um par de olhinhos triste te observando no canto do cômodo.

Dodger está cabisbaixo e diferente de todas as outras vezes que ele te viu, não foi correndo até você  pular no seu colo enquanto latia e abanava seu rabo. 

O cachorro permaneceu deitado no piso frio de madeira enquanto mantinha seu olhar em vocês dois.

- Oi, garotão, vem cá! — Você chamou em suas coxas, mas ele não se moveu.

Caminhou até ele se sentiu no chão de pernas cruzadas. O animalzinho se levantou e colocou a cabeça em seu colo. 

— Eu vou terminar de pegar suas coisas.

— Tudo bem.- você disse acariciando a cabeça do bichinho -Sabe, eu tenho que contar uma coisa. Antes de você, eu não gostava de cachorros.— Você sorriu com o rosto molhado pelas lágrimas, algumas escorriam pelo rosto e caíam no pelo de Dodger que permanência quietinho. — Eu vou sentir falta de você, porque sempre que eu penso em um lar, penso em nós 3  no sofá comendo pizza e vendo o jogo. Mas isso não vai mais acontecer. Me desculpa por isso.

Curvando seu rosto até tocar a cabecinha dele, você sussurra suavemente.

— Eu vou levar vocês no meu coração. Porque na minha vida não vai mais ser possível. Mas seja bonzinho, Dodger.

Há pessoas que digam que animais não fazem a menor do que acontece ao redor, mas a verdade é que eles são os seres mais puros e capazes de entender sentimentos  como amor genuíno, empatia pelo próximo e companheirismo de longa data. Dodger tinha sido mais que o cãozinho de estimação, ele era a única coisa boa no noite de todo aquele caos. 

Você se afasta para olhar no rosto dele novamente, seus olhos também estão dizendo algo “Também sentirei sua falta, e está tudo bem se você partir”

— Cuida dele para mim, tá bom? — Diz para ele antes de se levantar.

— Eu juntei tudo que encontrei, mas caso algo esteja faltando é só me ligar.— Chris explicou enquanto segurava a pequena caixa de papelão nas mãos.

— Tudo bem, obrigada. —você disse pegando a caixa.

Passando os olhos pela caixa era possível ver, um boné de basebol, uma caneca que ele mandou fazer com a data que se conheceram, algumas fotos em Polaroides e alguns de seus livros, cremes, roupas inclusive.algumas camisetas que eram dele.

— Vem, eu te acompanho até lá baixo. — disse indo para a porta.

Quando passaram pelo portão do prédio e desceram as pequena escadaria que dava acesso à calçada, uma sensação de vazio tão grande invadia seu peito que você queria abraçar ele, dizer o que o perdoava por tudo e que não queria que tudo tivesse acabado, mas você se forçou a dizer.

— Eu quero que você fique bem... Mesmo que seja mim.

O vento frio das 18h sobrava bagunçando seu cabelo, e seu rosto molhado pelas lágrimas de despedida te deixam bela de uma forma trágica, como uma garota que perde seu grande amor.

- Obrigado. Também quero isso para você. Mas também... Deixar você ir é a coisa mais difícil que eu já tive que fazer. 

— Borboletas não duram para sempre.- você lembrou.— Mas se olhar com muita atenção, vai poder guardar os detalhes bonitos.

Você se virou e começou a andar e foram os passos mais difíceis que já deu em toda a sua vida.

Chris ainda te observou ir embora e ali, quando ninguém estava mais olhando, ele cansou de segurar as lágrimas e chorou por você.

  

Cruel, Complicated And WrongOnde histórias criam vida. Descubra agora