Capítulo 4

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LARISSA SANTOS- Lumiar, Nova Friburgo - RJ

O rosto de Larissa queimava enquanto ela olhava para aquela mulher, cujo sorriso sedutor tinha virado um sorrisinho irônico. Raiva, confusão, surpresa – tudo isso a atingiu como uma onda.

Aquela era Bruna? A irmã reclusa de Key que fora embora assim que fizera 18 anos sem olhar para trás? Ou quase sem olhar para trás, pelo menos. 

Larissa se lembrou de Key dizendo todos os anos que Bruna tinha prometido voltar para o Natal e outras datas comemorativas, mas que só apareceu uma ou duas vezes. Teve aquela vinda na primavera uns cinco anos antes, mas Larissa não se lembrava de tê-la visto na cidade. Não que tivesse tentado.

 Depois de Bruna ter passado a infância inteira praticamente agindo como se Key não existisse, Larissa tinha poucos motivos para procurá-la e ainda menos vontade. Além disso, cinco anos  antes, estava lidando com as consequências de mais um sumiço de Fred, tentando consolar a filha de 3 anos que estava arrasada. 

Um terremoto poderia ter partido a cidade ao meio e talvez ela nem percebesse. Ela piscou olhando para a mulher – para Bruna –, tentando entender como não tinha percebido. As tatuagens eram novas, e agora ela conseguia ver seu rosto de verdade, enquanto na época do colégio ele estava sempre coberto pelo cabelo, que escondia Bruna do mundo. 

Larissa achava que nem sabia qual era a cor dos olhos da irmã postiça de Key, mas agora estava claro como o dia. Azul. Tipo, mar. 

Olhos escuros, profundos e fixos em Larissa, desafiadores em conjunto com as sobrancelhas retas.

– Bom te ver, Larissa – disse Bruna, largando o copo agora vazio sobre o balcão.

Larissa tentou pensar em uma resposta, algo inteligente e forte, mas só conseguiu pensar em um brilhante "Éééé..." enquanto Bruna descia da banqueta e vestia a jaqueta de couro preta. Ainda sentia o coração palpitando na garganta, a respiração vibrando no peito com aquele lábio roçando sua orelha. 

Bruna. O lábio de Bruna Griphão.

– O que você está fazendo? – perguntou Key quando Bruna foi em direção à mesa.

– Vim beber – respondeu Bruna.

– Puta merda, você está muito diferente – disse Aline.

– E você está exatamente igual – respondeu Bruna.

– Vou aceitar isso como um elogio – declarou Aline, sorrindo para ela.

Bruna deu de ombros e bebeu um gole do vinho de Key. Já Larissa continuava paralisada no balcão, os dedos pegajosos segurando o copo. Ela repassou a noite até ali, cada momento desde que a vira entrando no bar. Tinha ficado mesmo tão a fim da mulher a ponto de não ligar os pontos?.

Claramente, porque ainda sentia uma discreta pulsação entre as pernas, que começara no instante em que Bruna tinha se virado para ela, afastando os joelhos e ocupando todo o espaço que queria. O oposto da Bruna Griphão do colégio.

O oposto da Larissa Santos adulta, para ser sincera.

Ela balançou a cabeça, virou o restante do bourbon e foi até o grupo.

– Como foi o voo? – perguntou Key à irmã.

Bruna riu.

– Não precisamos fazer isso.

Key piscou, surpresa, mas depois sua boca se contraiu.

– Tá bom. Boa noite. Você vai lá amanhã?

Clouds - BrulariOnde histórias criam vida. Descubra agora