Bruna não fazia ideia do que estava pensando.
Tinha o próprio plano – irritar Key até a morte a respeito do verme humano com quem ela escolhera se casar, ser uma verdadeira pedra no sapato da irmã postiça naquele que deveria ser o momento mais feliz de sua vida. Será que Bruna estava sendo babaca ao arquitetar essa trama? Possivelmente. Tudo bem, provavelmente. Mas era uma diversão inofensiva, só uns mergulhinhos no rio com cacos de vidro no fundo, uma maneira de manter um pouco de controle, o que Key – e Isabel, aliás – sempre tiveram aos montes. Key ia fazer sua vontade, independente de qualquer influência, e Bruna não tinha dúvida de que aquelas duas semanas terminariam com o casalzinho feliz navegando em direção ao pôr do sol e ela voltando para São Paulo com 15 mil no bolso, sem maiores prejuízos.
Além disso, e daí se Key se casasse com aquele cara? E daí se Key aceitasse ter cem bebês no Leblon? E daí se Key vestisse um avental todas as noites para preparar o jantar do marido? Talvez Key gostasse de fazer essas coisas. O feminismo, afinal, significa ter o mesmo respeito pelo mesmo trabalho, não garantir que uma mulher nunca asse um bolo nem pegue uma cerveja.
Mas Larissa tinha lançado aquele olhar pidão para Bruna. Ela era tão... droga, tão doce em seu cuidado com Key, em sua preocupação genuína, que Bruna se derretera. Ela nunca tinha cedido com tanta facilidade na vida e ainda não sabia ao certo o que acontecera naquele quarto, como tinha acabado aceitando ajudar a porra do clã a acabar com o casamento da irmã. Bruna receberia o pagamento mesmo em caso de cancelamento. Essa foi uma pequena cláusula que ela acrescentara ao contrato-padrão feito especialmente para sua amada família. Então, ali estava ela, colaborando com as melhores amigas de Key a derrubar o patriarcado. Um babaca por vez.
Quando chegaram à porta do quarto de Key, Bruna ficou para trás, escorada na parede e com os braços cruzados. Tinha aceitado ajudar, mas era bom manter distância. Uma mensagem do tipo eu não sou como vocês para Aline e Larissa.
Mas Lari foi até ela, sorrateira, o ombro roçando no seu, cheirando a roupa limpa e exalando aquele aroma de perfume que Bruna lembrava de ter sentido naquela noite na Taverna da Stella.
– Você acha que vai funcionar? – sussurrou Larissa enquanto Aline batia à porta.
Seu hálito cheirava a menta, e Bruna de repente desejou ter escovado a droga dos dentes.
– Não faço a menor ideia – respondeu a loira.
Pensou em acrescentar algo como talvez "Key e Gustavo sejam mesmo perfeitos um pro outro", mas logo se virou o suficiente para olhar nos olhos castanho-escuros de Larissa, onde viu esperança e mais alguma coisa. Naqueles olhos havia o mesmo lampejo de interesse do dia em que ajudara Sophia com o vestido, e sentiu um frio na barriga.
Estava nervosa mesmo. Não ficava assim desde...
Você achou mesmo que a gente ia casar? Você está doida, é?
A voz de Gabriel ecoou em sua mente – maldosa, incrédula, acusadora – enquanto uma mulher nua que Bruna só tinha visto nas fotografias antigas dele relaxava na cama dela, olhando para os dois com os olhos arregalados como se estivesse assistindo a uma novela.
Bruna desviou o olhar e estalou os nós dos dedos. Não pensava com frequência naquele dia terrível com Gabriel, mas, quando pensava, sabia como lidar com a lembrança.
– Preciso de uma bebida – comentou.
– Então somos duas – disse Aline.
Key abriu a porta com tudo e saiu para o corredor com o roupão amarrado no corpo magro, o cabelo preso em um coque desalinhado e estiloso.
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Clouds - Brulari
FanficBruna Griphão jurou nunca mais voltar ao Rio de Janeiro, a cidade onde cresceu. Lá não há nada para ela, só as lembranças da infância solitária e do desprezo da madrasta e da irmã postiça, Key. Em São Paulo ela tem uma carreira como fotógrafa em asc...