Bruna abaixou a câmera e analisou a foto na tela. Larissa abraçava Sophia, a cabeça virada por sobre o ombro, a boca um pouco aberta, os lábios levemente franzidos e o obrigada lançado no ar. Com o cabelo preso, o salto preto e o vestido se avolumando no quadril antes de chegar à canela, ela estava maravilhosa.
Clássica.
Um ícone, até.
E a foto tinha ficado muito boa. A luz estava perfeita, com o clarão suave do corredor ao redor de Larissa e de Sosso, como se estivesse protegendo as duas. Mas ainda melhor era a expressão nos olhos de Lari, que estava fixa em Bruna. Estava agradecida, claro. Estava óbvio que ela tinha ajudado a evitar algum tipo de catástrofe pré-adolescente, mas o brilho no olhar de Larissa era mais que isso.
Era interesse.
Bruna sorriu para a tela. Qualquer que fosse a dança que as duas estavam dançando, ela gostava. Key estava muito enganada – Larissa estava no mínimo intrigada, e Bruna com certeza era capaz de fazer alguma coisa com isso.
No entanto, não sabia dizer ao certo por que tinha se oferecido para ajudar Sophia com o vestido. Estivera fotografando em segredo a discussão entre Key e Fred – de quem Bruna se lembrava vagamente como o cara da escola que jogava futebol –, imaginando que Key adoraria ter o registro de sua boca retorcida e sua testa cheia de ruguinhas ao repreendê-lo.
Mas então tudo se encaixou: Larissa chorando enquanto puxava a filha, que estava triste e que não devia ter mais que 8 anos, pelo cotovelo em direção ao banheiro. Bruna sabia que Larissa era mãe, que tinha engravidado logo que terminara a escola e decidido ficar com o bebê. Na época, não havia sentido nada ao saber da notícia – tirando, talvez, uma leve alegria mórbida porque a decisão de Larissa significava que ela não iria para UFRJ com o resto do clã.
Antes que ela mesma se desse conta disso, tinha se afastado da discussão mesquinha de Key e ido em direção a Larissa, fascinada com o fato de alguém da sua idade ter uma filha quase pré-adolescente. Ou talvez estivesse mais fascinada com o vestido dela, que se acomodava perfeitamente seus seios. De qualquer forma, ali estava ela, vendo Sophia quase ter um ataque por causa de um vestido.
Uma lembrança voltou à sua mente: Isabel à porta do quarto com os punhos cerrados enquanto Bruna, com 13 anos, sentada na cama, destruía o vestido que a madrasta queria que ela usasse em um evento beneficente que havia organizado.
Você não é capaz de fazer isso por mim?, perguntou Isabel. Depois de tudo
o que eu fiz por você?– Posso ver? – Bruna se ouviu perguntar, e foi o que bastou.
Ela e a garota entraram no banheiro e, quando Bruna perguntou como ela queria que o vestido fosse, Sophia começou a tagarelar sobre o coturno que tinha ganhado da mãe de aniversário em abril e algo simples que não pinicasse sua axila.
Agora, enquanto Larissa e Sophia voltavam para o salão, Key pigarreou. Bruna ergueu o olhar e viu o maxilar tenso da irmã postiça. Então ajudar Sophia rendeu o bônus de irritar Key. Aquele dia ia ser melhor do que ela esperava.
– Pois não, querida?
Key semicerrou os olhos.
– É sério? Como por um acaso, justamente você destrói o vestido que eu dei à Sosso?
– Ela detestava o vestido.
– Ela... o quê? Claro que não.
Bruna olhou para ela como quem diz: Por favor, né?
– Você viu a garotinha feliz que acabou de sair do banheiro?
– Vi, mas eu...
– É um vestido, Desastrinho. Desapega.

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Clouds - Brulari
FanfictionBruna Griphão jurou nunca mais voltar ao Rio de Janeiro, a cidade onde cresceu. Lá não há nada para ela, só as lembranças da infância solitária e do desprezo da madrasta e da irmã postiça, Key. Em São Paulo ela tem uma carreira como fotógrafa em asc...