LARISSA SANTOS, SPA LÍRIO AZUL - RJ
– Desculpa, como é que é?
Ao final da manhã de terça, Bruna viu os olhos de Key se arregalarem até ela ficar parecendo um inseto, os dedos finos agarrados às laterais do balcão na recepção do Vinhedo e Spa Lírio Azul. O lugar parecia um oásis, todo de madeira por dentro, com estofados e tapeçarias brancas e muito vidro do mar – detalhes azuis, do porta-canetas na recepção aos quadros nas paredes, imagens de rios límpidos e lírios balançando ao sol. O térreo era todo de vidro e, atrás de uma recepcionista apavorada chamada Heloisa, Bruna via o Vale Willamette se estender em uma faixa verde ao longe, com fileiras organizadas de videiras rechonchudas logo abaixo.
– Três quartos? – indagou Key. – Não, eu me lembro muito bem de ter reservado quatro.
– Ah, merda – resmungou Aline baixinho.
Bruna, por sua vez, se escorou no balcão e manteve o rosto inexpressivo. Estava exausta. Para falar a verdade, uma massagem seria muito útil. Durante toda a viagem até lá, era nisso que tinha pensado – massagens, um Pinot Noir excelente, um quarto sem chita só para ela com vista para o vinhedo onde poderia apenas ser, livre de Key e de Lumiar e de toda a lama emocional que a visita à Casa das Glicínias na noite anterior tinha despejado em suas veias.
Claro, ela estava lá para tirar umas fotos das três melhores amigas, provavelmente para que pendurassem em sua caverna ao lançar seus feitiços de beleza e poder eternos, mas aceitava as massagens grátis de bom grado.
Nunca tinha se sentido tão cansada quanto nos dois últimos dias, e isso incluía os primeiros meses em São Paulo aos 18 anos, quando descobriu os bares e ficou uma semana sem dormir. Mas, até ali, a viagem ao Rio de Janeiro estava dando a Bruna a sensação de flutuar, mas não daquele jeito gostoso pós-orgásmico. Era como se ela não conseguisse firmar os pés no chão e andasse por aí cambaleando.
Seu único alívio foi empurrar aquele babaca no rio na noite anterior.
Meu Deus, como aquilo tinha sido divertido.
Key não concordava, claro, o que era até um bônus. Ao enfiar um moletom em suas mãos na noite anterior, a expressão de sua irmã postiça não revelava aquela mágoa prostrada que Bruna percebera na entrada da Casa das Glicínias. Não, era só irritação, familiar e estimulante. Os deuses tinham presenteado Bruna com um jeito novo de irritar Key, e ela planejava explorá-lo de todas as maneiras possíveis, o que precisava ser feito com cuidado e destreza, para que conseguisse manter o trabalho de fotógrafa. Mas pensar em modos criativos de irritar o amado de Key só deixava tudo ainda mais divertido. Além do mais, Gustavo era um anúncio louro e ambulante do patriarcado, então qualquer insulto habilmente disfarçado que ela pudesse proferir seria justificável.
Sua determinação cresceu ainda mais ali no saguão do resort, e ela se esforçou para manter a expressão neutra conforme ficava cada vez mais claro que Key não tinha reservado quatro quartos. Ela reservara três, para ela, Aline e Larissa, e nem tinha pensado em Bruna, que tentou não perceber que seu coração acelerou enquanto a garganta se fechava em um coquetel terrível de raiva, irritação e mágoa.
Larissa se aproximou e Bruna tentou não perceber isso também. Seu corpo, no entanto, tinha outros planos, e ela sentiu que também se inclinava em direção a Lari, o suficiente para seu ombro tocar o dela de leve.
– Bruna Griphão – disse Key para a coitada da recepcionista, pronunciando cada sílaba com exagero. – Confira de novo. Eu sei que está aí.
– Sinto muito, Srta. Alves – respondeu Heloisa –, mas a reserva diz claramente que a senhorita ligou no dia 14 de abril e reservou três quartos por uma noite, um para a senhora, outro para a Srta. Aline Wirley e um terceiro para a Srta. Larissa Santos. Não tem nada para a Srta. Bru...
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Clouds - Brulari
FanfictionBruna Griphão jurou nunca mais voltar ao Rio de Janeiro, a cidade onde cresceu. Lá não há nada para ela, só as lembranças da infância solitária e do desprezo da madrasta e da irmã postiça, Key. Em São Paulo ela tem uma carreira como fotógrafa em asc...