LARISSA SANTOS, CASA DAS GLICÍNIAS - LUMIAR, RJ
Larissa ainda segurava o braço de Bruna. Não sabia por quê. Disse a si mesma para soltar mais de uma vez, mas estava com medo de que, se soltasse, ela pudesse sair voando para longe, desmoronasse ou ficasse ali perdida, como estivera na entrada.
Ou talvez ela só gostasse de sentir a pele sedosa de Bruna na sua.
A ideia veio como um relâmpago, obrigando Larissa a finalmente recolher os dedos depressa, derramando um pouco de champanhe no deque da varanda.
Bruna não pareceu perceber. Ao olhar em volta e beber mais um gole, ela não saiu flutuando nem desmoronou, mas seus olhos continuavam um pouco arregalados. Era fascinante ver aquela mulher ousada e impetuosa parecendo um cervo perdido na floresta. Larissa não entendia muito bem por que, mas queria muito saber, e foi exatamente por isso que engoliu todas as suas perguntas com um gole grande demais de champanhe.
– Ô! – chamou Aline do outro lado da varanda, puxando Igor pelo braço e indo na direção de Larissa. – Por que você demorou tanto?
– Demorei uns dez minutos, Line.
– O que é tempo demais para me deixar sozinha com essa galera. – Aline apontou com a taça de champanhe para o grupo requintado. – Meu Deus, você já viu tanto Louboutin em um lugar só? É sério que nós somos as únicas pessoas normais no círculo da Key?
Larissa riu.
– Você sabe que sim.
Isabel Alves-Griphão tinha dinheiro – muito dinheiro. O primeiro marido viera de família rica e, com a morte dele, ela herdara o dinheiro. O segundo marido, pai de Bruna, fora um arquiteto bem-sucedido em Copacabana antes de se mudar para Lumiar, onde abrira um pequeno escritório, que Isabel logo vendera (e provavelmente amaldiçoara) depois da morte dele. Ela só queria saber de caridades e filantropia, mas Larissa sempre teve a impressão de que era mais pelo status, não pela questão de fazer o bem.
Isabel gostava de controle, gostava de beleza e poder, e sempre fez questão que Key soubesse disso.
Quando Larissa conheceu Key, a garota se agarrava à mãe, desesperada por afeto e atenção. Larissa achava que fazia sentido. O padrasto dela tinha acabado de falecer, Isabel ficara presa no próprio luto e a amiga havia percebido que Key estava morrendo de medo de que a mãe também a deixasse. Mas, conforme os anos foram passando, Isabel dera cada vez mais atenção à filha, e quase a sufocara. Lari se lembrava de muitas noites no ensino médio que a amiga passara chorando no colo de Aline enquanto Larissa acariciava suas costas. Palavras como "Eu odeio ela" e "Por que ela não me deixa em paz?" eram gaguejadas entre soluços.
Desde que voltou da faculdade e foi morar sozinha, o relacionamento entre Key e Isabel tinha melhorado, mas Larissa não diria que as duas eram próximas. Eram civilizadas. Educadas. Ainda assim, percebia aquela expressão nos olhos de Key de vez em quando, a necessidade de impressionar, de agradar.
– Pense – disse Aline, indicando com a taça o grupo de pessoas –, amanhã seremos só nos três, com muito vinho em um spa cinco estrelas.
Ao lado de Larissa, Bruna pigarreou.
– Vou tirar umas fotos antes do jantar – falou, antes de ir para um canto mais escuro, deixando a taça em cima de uma mesa por ali e se ajoelhando para pegar a câmera.
– Aline! – disse Larissa, batendo no braço da amiga.
– Ai! O que foi?
– Você disse nós três. Bruna também vai.
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Clouds - Brulari
FanfictionBruna Griphão jurou nunca mais voltar ao Rio de Janeiro, a cidade onde cresceu. Lá não há nada para ela, só as lembranças da infância solitária e do desprezo da madrasta e da irmã postiça, Key. Em São Paulo ela tem uma carreira como fotógrafa em asc...