two

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CALIOPE

uma semana depois, tudo estava igual.
exceto pelo fato de que eu estava decidida a terminar com noah.

não dava mais. simplesmente não conseguia mais levar isso assim. era errado e eu não me sentia bem o mantendo ao meu lado, sabendo que o que ele sentia era mil vezes maior do que o que eu sentia. não havia sido fácil chegar até a essa decisão, mas após deixar de lado as minhas vontades e caprichos e olhar um pouco para o lado dele, eu percebi que não era justo.
ia dar um fim antes das férias de verão, para não ter que vê-lo diariamente.

falando em férias, minha mãe me comunicou que eu fui gentilmente obrigada a trabalhar para confeitaria durante esse período, já que aparentemente todo mundo em miss marple resolveu se casar no verão. o que significava "sem descansos" para mim.

e o pior ainda estava por vir. descobri também, que haylee havia sido convocada junto comigo por sua mãe. amava leoni, mas queria cometer atrocidades com ela por ter convidado a filha.

ainda bem que teria que me preocupar com isso só daqui a mais uma semana, porque os treinos estavam me matando. duas coisas me tirando a paz, era demais.

nesse exato momento, eu e o time, estávamos ensaiando a última parte da coreografia para o jogo de basquete feminino e masculino, nesse sábado. e bem... não era a nossa melhor fase.

— para, para, para — peço para pausarem a música e a execução do que deveria ser uma dança. — madson, você precisa confiar mais em hazel, ela não vai deixar você cair. e nellie, cadê a sua concentração?

todas me olharam meio assustadas, e eu odiava quando elas me viam como algo a mais do que eu realmente era. só estava ali para auxiliar, não é como se eu fosse extorqui-las ou algo assim.

angel, minha melhor amiga, viu esse desconforto em meu rosto. e resolveu falar por mim.

— gente, a cal não está brava, é só o dever dela pontuar essas coisas, não levem para o pessoal.

eu tinha uma dificuldade enorme em apontar os erros do time. não queria ser grossa ou parecer superior, porque eu não era nada disso.

olhei para angel como se eu tivesse vendo um anjo, fazendo jus ao seu nome. ela me salvava sempre.

— vamos recomeçar, por favor? — todas assentiram e a música voltou.

nos movíamos no ritmo da faixa escolhida para a abertura do jogo do time feminino. a dança era sensual, como todas as outras.

ao olhar para frente, após um dos passos, vejo ela nos olhando da arquibancada. provavelmente era a pausa do treino, e como o ginásio era grande o suficiente para as duas modalidades, treinávamos no mesmo espaço.

em um segundo seus olhos estavam nos meus e então nada mais importava. era sempre assim. todas as malditas vezes. eu não sabia mais se estava dançando, em qual parte da música estávamos ou qualquer outra coisa.

não sabia como era possível, que mesmo de longe eu sentisse o sangue correr pelas minhas veias cada vez mais quente.

de ódio, com certeza!

porque é que haylee me olhava tão intensamente? era impossível desviar quando seu olhar era meu e o meu era seu. algum tipo de força maior, que com certeza a física pode explicar, só que física não é o meu forte, então tudo o que eu fazia era sentir. sentir que tinha algo, como um imã, me atraindo a ela. me puxando, sem que eu sequer me desse conta.

o transe acaba quando angel bate palmas, dizendo o quão bom tinha ficado dessa vez. aparentemente eu tinha conseguido terminar a coreografia sem errar ou tropeçar em meus próprios pés. isso deixava claro o quanto o cheer fazia parte dos meus dias, já que eu dançava tanto aquilo ali, que nem uma situação como aquela me fazia esquecer os passos. além de levar toda minha energia embora, e nem tô falando só do cheer.

o segundo maior motivo para isso, me encarava agora com um sorrisinho convencido nos lábios, como se soubesse o que causa em mim. quis arrancá-lo com minha unhas perfeitas e afiadas. quis gritar até que parasse de sorrir daquele jeito presunçoso.

me virei para o time, e murmurei, ainda aérea:

— é, parabéns, foi ótimo.

vi as meninas pulando e se abraçando, o que me fez finalmente voltar para onde eu deveria. sorri da felicidade delas. não tinha nada melhor para mim do que esse momento.

— pausa de cinco minutos, para depois repassarmos igual dessa vez. sem erros hein?

todos se dispersaram, cada um para um lado.
eu mal peguei minha garrafa quando angel vem em minha direção.

— que porra aconteceu com você agora a pouco? — pergunta com seu jeitinho "angel" de ser.

ela tinha essa carinha delicada, com seus traços asiáticos que faziam as pessoas quererem apertar suas bochechas magras, sua voz doce e melódica. ha! era tudo fachada.

— o que? — tentei fingir não saber. mas não colou. nunca cola.

— eu te conheço, e não é de hoje garota. — tomou a garrafa de mim, tomando um gole em seguida.

— ei! — protestei.

— só devolvo depois que lançar a real. — deu de ombros, bebendo mais um pouco do líquido.

— era só a haylee, me encarando como uma stalker. — dou de ombros, banalizando e sintetizando tudo.

— sabia que tinha haver com ela — me devolve a garrafa, como prometido. — vocês exalam uma tensão, que meu deus! — começa a se abanar. — fica quente toda vez que vocês estão no mesmo cômodo.

— para com isso! — a empurro pelos ombros, corando.

— só estou dizendo o que você já sabe mas não quer admitir para si mesma.

talvez fosse exatamente isso. mas mesmo se fosse o caso, eu não tenho tempo e nem vontade para ficar pensando sobre.
as interações momentâneas já me davam mistos de sentimentos demais para levar isso para os únicos momentos tranquilos do meu dia.

— não! com certeza não.

— tá bom, tá bom. nega daí, que eu rio de você depois, de cá.

ela saiu em seguida, quando uma das garotas a chamou.

olhei para onde haylee estava há minutos atrás e não a encontrei.

bom, era melhor assim, de qualquer forma.

sem estimulantes para os pensamentos que eu só queria enterrar.

beijos e até a próxima 💗

o passado de presente.Where stories live. Discover now