four

109 6 0
                                    

CALIOPE

terminava de tirar o último grampo do meu cabelo, ao som de "girls just wanna have fun", a música que eu sempre usava para me arrumar.

era o dia do baile de verão. o último momento da turma antes das férias. o último dia escolar de paz também, já que no semestre seguinte tudo que conseguiremos pensar será em faculdades e cursos. ou seja: surto coletivo e terapia intensiva. e para piorar, a audição para a bolsa universitária vai ser bem no fim e não sei se isso é bom ou ruim.

— você está deslumbrante! — minha mãe exclama ao me ver.

— obrigada! você também. — apesar de não estar usando nada diferente, ela manda um beijo no ar, em forma de agradecimento.

fico olhando para ela quando se vira para pegar o aparelho de depilação e pensando comigo mesma o quanto amo nossa relação. há uns dois anos atrás, era muito diferente. mal nos olhávamos, tanto porque ela nunca tinha tempo, tanto porque não nos conhecíamos.

sempre senti falta da presença de família, e apesar de ter haylee e sua mãe como uma, sentia falta de conversas sinceras e jantares na mesa.

meu pai nunca quis saber de mim. nunca mesmo. e minha mãe sofreu com isso. ela não planejava ter uma criança tão cedo, ainda mais sem nenhuma rede de apoio além de sua melhor amiga, leoni, que passava pelo mesmo na época. elas se apoiaram uma na outra e diferente da mãe de haylee, a minha não conseguiu passar por tudo e tentar me criar com o melhor de si. por muito tempo ela só desistiu de tudo e viveu de forma monótona, sem se preocupar com as pessoas a sua volta.

mas quando conversamos, logo depois de haylee e eu decidirmos nunca mais ser amigas, ela me ouviu pela primeira vez e resolveu dar um rumo a sua vida. agradeço imensamente por isso, afinal, perder a única base familiar que eu tinha não estava nos meus planos.

— dia da beleza? — pergunto quando ela liga o aparelho na tomada.

— sim. você vai sair para se divertir e eu vou me cuidar. minha perna já está parecendo mata atlântica.

gargalho de sua fala a assinto com a cabeça. ela se aproxima, o olhar transbordando carinho, e deixa um beijo leve em meus cabelos.

— eu te amo, pequena tinker bell.

— eu também te amo! — a abraço de lado.

— vou te deixar se arrumar e não se esquece de ir me procurar quando tiver pronta. quero a foto na frente da escada.

— pode deixar!

ela já ia se retirar quando se volta para mim e diz:

— noah vem te buscar aqui? — pergunta, mas parece já saber a resposta. não me pergunte como. sabe como é, mães têm bola de cristal.

— não. vou ir com angel e me encontro com ele lá.

— entendi. bom, só espero que se divirta essa noite e tome decisões sensatas. — seu olhar me diz que está tentando me dizer algo a mais.

— eu já decidi o que fazer mãe, se é o que quer saber. vou terminar. não dá mais.

ela balança a cabeça para baixo e para cima, sorri para mim e sai.

bem, é isso. vou terminar com noah essa noite. é por isso que não vou com ele para o baile. seria muita cara de pau da minha parte pedir carona para o cara que vou machucar minutos depois.

[...]

meu vestido brilhava com a luz da lua, enquanto eu virava a garrafa de tequila que minha melhor amiga trouxa para nós.

o passado de presente.Where stories live. Discover now