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HAYLEE
a noite termina de um jeito que eu nunca imaginei que terminaria.
quando estaciono o carro da minha mãe na garagem de casa, observo caliope dormindo ao meu lado e não sei como me sinto. ela está vulnerável como a muito não via, e parece frágil. tanto que tenho receio de acorda-la, afinal, eu duvido que ela saiba o porque de estar aqui.
mesmo assim descido que vai ser menos estranho do que simplesmente toma-la nos braços.
— caliope — chamo, cutucando sua bochecha para chamar sua atenção.
ela resmunga, mas nem se mexe.
— ei — tento de novo, dessa vez cutuco seus ombros.
aos poucos seus olhos azuis escuros vão se abrindo e ela parece meio desnorteada em um primeiro momento. mas contrariando o que eu pensava, ela sorri.
— ei, haylee! — diz com a voz arrastada.
— vem, vou te tirar daí. — saio do carro, e logo vou até ela, me inclinando para ajudá-la a descer.
seu estado é meio deplorável, e levando em conta o quanto ela é certinha, podia chutar que é o seu primeiro porre, o que não me ajuda em nada.
— não quero, aqui tá bom. — seus olhos se fecham novamente e eu luto para não perder a paciência.
— vem, caliope — ela abre os olhos de novo, e percebo que vou precisar de mais do que isso para convencê-la. — por favor. — peço.
ela abre um sorrisão e assente.
é um pouco adorável, não dá para negar.
passo meu braço por seus ombros e enquanto tento fechar a porta com a outra mão, ela me olha atentamente.
— o que foi? — pergunto a olhando também, parando o movimento.
— você é tão bonita. — é bom ouvir isso, mesmo que ela não esteja sã.
— você também. — digo, afinal é muito improvável que ela se lembre disso amanhã e por mais que eu vá me lembrar, não me deixo punir por dizer algo que é verdade e que eu penso constantemente.
ela ri um pouco e começa a andar em direção a porta lateral, que dá para o corredor da escada.
eu a acompanho quando consigo fechar a porta do carro com o pé.
é meio difícil levar ela para dentro quando resolve não colaborar, mas eu sigo pedindo que por favor se mova, e essas duas palavras são mágicas para a caliope bêbada.
— sua casa ainda é igual. — ela comenta, embolando as palavras.
olhando em volta, percebo que seu olhar se fixa na parede oposta de onde entramos. ali tem uma foto nossa com nossas mães. foto essa que quando eu implorei para minha mãe tirar ela disse que eu podia tentar apagar caliope da minha cabeça, da minha vida, mas que não era justo que eu fizesse o mesmo com ela. nunca mais pedi para que "apagasse" as lembranças espalhadas pela casa.
falando nela, sua figura sonolenta nos observa da ponta da escada. seus olhos se arregalam ao ver o estado da garota em meus braços.
— o que aconteceu? — vem em nossa direção.
— acho que ela terminou com o namorado. — dei de ombros como se não estivesse um pouco feliz com isso.
ninguém tinha me falado diretamente, mas as notícias correm rápido em um ginásio fechado cheio de adolescentes fofoqueiros.
— ah meu deus! gostava daquele garoto. — sua voz tem um quê de um pesar que eu não compartilho.
— tia! — ouço caliope exclamar ao meu lado, já tentando se desvencilhar de mim para ir até ela.
— oi, cal. — minha mãe diz com um carinho notável na voz.
— senti saudade de você. — sua expressão me diz que já já ela vai cair no choro, e eu nunca consegui lidar com ela chorando sem partir meu coração em pedacinhos. então resolvo que o mais sábio é tirar ela dali.
— mãe, vou subir com ela, dar um banho e pôr para dormir. já falo com você.
— tá bom, vou fazer um chá para vocês duas. venham antes de dormir, pode ajudar com a ressaca amanhã — eu assinto enquanto vou puxando caliope comigo. — acha que devo avisar becky? — minha mãe pergunta preocupada.
— não, deixa ela falar amanhã.
— tudo bem, mas se cal não contar para ela, eu irei.
— pode deixar, tia, vou falar para minha mãe que dormi aqui. — caliope se manifesta, enquanto luta para ficar de pé.
— então tá.
começamos a subir as escadas e com muito, muito custo mesmo, chegamos lá em cima.
— hay? — ela me chama.
é difícil para mim admitir algumas coisas em relação a ela, mas seria burrice ignorar o arrepio que me percorreu quando me chamou assim, e depois de tanto tempo ainda tinha o mesmo efeito.
— você vai cuidar de mim? — o biquinho em seus lábios me fez derreter e, inconscientemente eu abri um sorriso pequeno.
— eu vou cuidar de você.
ela sorriu e um segundo depois seus braços estavam ao meu redor. travei por alguns segundo, mas logo em seguida eu a envolvi também.
deus, como senti falta do seu corpo junto ao meu. do seu cheiro de baunilha, dos seus cabelos loiros roçando em meus braços desnudos, agora que eu estava sem o smoking.
sinto cosquinhas no pescoço quando ela toma seu tempo sentindo meu cheiro. não consigo evitar sorrir largo porque apesar da marra que ela normalmente tem sobre mim, sei que sente falta de tudo tanto quanto eu. e agora que estamos vulneráveis, conseguimos demonstrar isso sem a ferrugem que o tempo criou entre a gente, mesmo que uma de nós não vá se lembrar disso no dia seguinte.
— sabe que ainda tenho um moletom seu? — ela pergunta ainda grudada a mim. sua voz sussurrada me causando arrepios.
seu tom evidencia que sente que talvez esteja falando demais, o que me diz que mesmo não estando em seu estado normal, ainda exige um pouco de esforço de sua parte se abrir desse jeito. e eu gosto de saber que ela escolheu me dizer.
— sério? — respondo no mesmo tom, mesmo sabendo que ela não diria se não fosse sério.
— é. quando sinto tanto sua falta que dói, eu costumo dormir abraçada com ele. — seus braços se apertam mais em volta de mim, e sem pensar muito, deixo um beijo em seu ombro desnudo.
minha mente a imagina. dormindo serena tanto quanto estava agora a pouco. mas dessa vez, com meu casaco vermelho entre os braços.
eu sabia que ela tinha isso, porque eu notei que ele não estava mais no meu armário. e mesmo sem ter certeza, eu torcia para que sim, assim eu não me sentiria tão boba por fazer o mesmo com a fronha que ficava do lado dela da cama.
— bom, fico feliz que agora você não esteja precisando do moletom.
— se eu tivesse sem você agora, ele provavelmente estaria no seu lugar.
não consigo evitar querer estar na posição do moletom mais vezes.
— vem, vamos cuidar de você. — me afasto e seguro sua mão.
ela me olha nos olhos. sinto que os meus são tão evidentes quanto os dela.
ela sente minha falta tanto quanto eu sinto a dela. e passa pela minha mente o porque de ainda estarmos separadas quando claramente não queremos isso. porém, os motivos ficam claros, como uma lista enumerada.
eu desvio o olhar, e a puxo em direção ao meu quarto.
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beijos e até a próxima 💗
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o passado de presente.
Romance♐︎ o passado de presente. || romance sáfico! elas foram separadas por questões mal resolvidas no passado, e desde então, uma relação de rivalidade nasceu. mas será que isso será suficiente para mantê-las longe uma da outra por mais tempo? acho imp...