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HAYLEE
o resto dia passa tão devagar, que me chateia. entre levar pedidos (muitos deles) e brigar com caliope, nosso turno chega ao fim. fomos embora do cinema logo quando o clima acabou. nenhuma das duas conseguiu agir como se nada tivesse acontecido. e quando penso que vou finalmente poder me livrar dela, minha mãe pede para que eu a leve pra casa, e mesmo a gente insistindo que não era necessário, já que não estava tão tarde assim e a cidade é pequena, nossas mães disseram que era o melhor a se fazer.
eu não tinha carro, mas sabia dirigir, então peguei a chave com a minha mãe e fiquei esperando a madame sair da confeitaria. cinco minutos depois, ela aparece com duas caixas empilhadas e gritando despedidas para as mulheres lá dentro, que iam ficar até mais tarde pra fechar o caixa ou algo assim.
caliope custa a abrir a porta, mas quando consegue, me pede silenciosamente para segurar suas tralhas. e eu seguro, até que ela esteja confortável no acento ao meu lado.
ela pega as coisas da minha mão logo em seguida e fica olhando para frente, como se esperando que saísse logo.
— não vai nem me agradecer? — aí já era demais.
— te agradecer pelo que? — eu não respondo. só fico a encarando de volta, esperando que ela se dê conta.
— obrigada. — ela diz depois de alguns segundos, claramente não falando sério.
mas tudo bem, porque eu só tava tirando uma com a cara dela.
arranco o carro querendo acabar com isso o mais rápido possível. já era muito ter que aguentar trabalhar com ela por oito horas seguidas.
a confeitaria não era muito longe de nossas casas, mas o silêncio já estava ficando chato, então eu ligo o rádio em alguma música qualquer. coincidentemente, ABBA saía em alto e bom tom das caixas de som, e poderia ser qualquer coisa, mas não era. porque nossa infância fora regada de "ma ma mia" e "dancing queen" e tudo que nos levava de volta à época em que tudo estava bem entre a gente, causava um pouco de dor.
eu foquei minha visão na rua a frente, querendo mudar a playlist, mas sem coragem para fazer. e percebi que caliope me olhava com certa cautela, como se quisesse dizer algo mas também estivesse desencorajada. eu torci para que ela não dissesse nada, o que poderia piorar ainda mais as coisas. mas ela disse.
— obrigada por cuidar de mim no dia da festa. eu não me lembro de tudo mas acabei me lembrando de algumas coisas. você poderia ter me deixado de qualquer jeito, mas não o fez, então obrigada.
e de alguma forma, ela sempre consegue piorar tudo.
— o que te faz achar que eu não cuidaria de você? — a olho rapidamente e percebo sua expressão de pânico.
eu já tinha percebido que esse assunto era como algo proibido entre a gente. e eu odiava falar sobre isso também, mas agora não mais. não depois de perceber que ainda tem como concertar tudo isso. porém, a chave ainda não tinha virado para ela.
— não s-sei. talvez o fato de a gente não se gostar muito, ou sei lá.
eu poderia ter jogado tantas verdades na cara dela, que ela provavelmente sairia desse carro e nunca mais olharia na minha cara. porém, eu me contive e preferi ficar em silêncio até chegarmos em casa. o que, eu percebi ter afetado caliope. bom, pelo menos havia causado alguma coisa naquele coração de gelo.
quando parei o carro em frente a sua casa, eu esperei que ela pulasse fora tão rápido quanto fugira de mim da última vez. mas ela não fez. ao invés disso ela ficou me encarando, toda estranha, sem dizer absolutamente nada.
quando eu acarei de volta, aquele magnetismo tão característico de nós duas, me invadiu como um tapa na cara. não adiantava ela se blindar até os dentes e eu deixar que ela o fizesse se no fim das contas toda vez que nossos olhares se encontrassem isso acontecesse. tão forte e sem pretensão. como algo que a gente não pudesse prever, mas que sempre esperamos quando meus olhos a enxergam e vice versa.
foi quando eu decidi que se uma força causada pela química que nós duas exalamos nos quer tanto juntas que nem as desavenças do nosso passado pôde neutralizar, quem seria eu para ir contra a ciência.
então eu me inclinei e deixei um beijo em sua bochecha, saindo do carro e deixando a chave na ignição. abri a porta de casa e a fechei, ainda segurando o ar, sem saber de onde aquilo veio mas sabendo exatamente o motivo.
ainda há tempo para nós.
e eu vou arrancar as teias de aranha que restaram em nossos corações, porque é isso que precisamos para voltar a ser o que éramos. eu posso ver nos olhos dela.⁂
bjs, e até a próxima 💗
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o passado de presente.
Romance♐︎ o passado de presente. || romance sáfico! elas foram separadas por questões mal resolvidas no passado, e desde então, uma relação de rivalidade nasceu. mas será que isso será suficiente para mantê-las longe uma da outra por mais tempo? acho imp...