six

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HAYLEE


colocar caliope no banho era uma tarefa digna de prêmio. ela não queria ir de jeito nenhum, e ficou insistindo para que eu entrasse junto com ela. e mesmo odiando água fria, não consegui dizer não.

então estamos as duas aqui, no chuveiro gelado, com nossas roupas ensopadas, assim como nossos cabelos.

— hayleeeee, tá fria demais! — caliope não parou de choramingar um minuto, e entendo sua dor.

ela se agarra mais a mim toda vez que pego um pouco de água em minha mão e jogo em suas costas. faço mais vezes do que o necessário, só para sentir seu aperto. sei que estou me aproveitando um pouquinho dela, mas sei também que já já isso acaba, tanto para mim quanto para ela.

— eu sei, mas é preciso, você sabe.

— não sei nada. — sua voz embarga e seus olhos se enchem de lágrimas, então decido que é hora de parar por aí.

desligo o chuveiro e a sinto tremer.

quando me afasto para pegar nossas toalhas, ela abraça o próprio corpo e fica soltando suspiros curtos. por um segundo, me sinto mal por estar fazendo isso, mas como disse, é a forma mais eficaz de deixar uma pessoa um pouco mais sóbria.

enrolo a toalha em mim para logo depois estender para ela. caliope parece querer dificultar as coisas, então não a pega de primeira.

— vamos, caliope. por favor. — imploro, já cansada.

ela finalmente cede e se levanta sem perder o equilíbrio. mas aparentemente não consegue colocar o pano direito sob seus ombros, então me olha como se pedisse ajuda, e é o que eu faço.

saímos lado a lado do banheiro e peço que fique sentada na cama enquanto eu procuro por algo para vestirmos.

quando acho, vou até ela que estava deitada de costas na minha cama, com meu travesseiro em sua cara.

— ei, vai trocar de roupa. essa daí tá molhada demais. — ela senta de repente, largando o objeto.

— tem seu cheiro. — caliope aponta para o travesseiro.

e bem, eu sabia. afinal, o que costumava ser dela ainda cheirava a baunilha.

eu não consigo evitar sorrir a assentir, em compreensão. ela vem até mim e pega a roupa que a estendo, indo se trancar no banheiro.

me troco também e procuro pelo secador. assim que encontro, ela aparece em meu campo de visão e eu peço para que se sente em frente a cômoda onde o objeto está ligado.

— vai secar meu cabelo? — seus olhos carregavam uma espécie de esperança. como se quisesse muito que eu dissesse sim.

apenas empurro delicadamente seu ombro para que se encoste na cadeira acolchoada, e começo a secá-lo.

seus fios loiros eram sedosos, assim como eu me lembrava. enquanto passava meus dedos entre eles, memórias de quando costumávamos fazer penteado a uma na outra surgem na minha mente. os dela sempre ficavam melhor, mas posso estar dizendo isso só porque sempre gostei mais das coisas quando era ela que fazia.

eu acariciava seu cabeça esperando receber alguma reação da garota em questão. e toda vez que ela ronronava um pouquinho ou inclinava a cabeça em direção ao toque, eu me sentia bem. como receber uma brisa fresca no verão.

— você é boa com as mãos, hay. — eu sabia que seu comentário era inocente, mas não pude deixar de levar para um outro lado.

— bom, ninguém nunca reclamou.

o passado de presente.Where stories live. Discover now