eight

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HAYLEE

as férias finalmente deu as caras, e eu jurava que poderia finalmente descansar, mas bem, meu primeiro dia de trabalho anda bem movimentado, e pra piorar tudo (como se pudesse ficar pior) caliope também está aqui. eu esperava que o clima entre a gente estivesse diferente e que ela pelo menos agisse de outra forma que não indiferente, afinal ela passou a noite ao meu lado, e quando acordou, foi a mim que viu. mas não, caliope escolheu exatamente a indiferença para lidar com as coisas. então bom, não havia nada que eu pudesse fazer se não nos colocar de novo na estaca zero.

— hay! mesa oito. — becky gritou da cozinha me entregando um muffin de frutas vermelhas.

após levar o prato para as clientes eu acabo trombando de frente com a bendita, e além de tudo, ainda sou xingada por isso.

— olha por onde anda! — caliope diz exasperada e com uma expressão brava. se fossem outros tempos eu só passaria a mão na ruguinha que se forma entre suas sobrancelhas e a faria rir. mas como estamos no presente, tudo que eu faço é xinga-la de volta.

— olha você por onde anda! cadê seus óculos de grau quando mais precisa deles?!

ela odiava que as pessoas soubessem que ela usa óculos, então eu fiz questão de gritar bem alto.

— sua megera! — sua resposta veio seguida de um grunhido.

caliope saiu bufando e eu nem tive tempo de responder. queria poder dizer que me senti mal, mas estaria mentindo. todo mundo sabe que eu adoro a irritar.


CALIOPE

eu poderia matar minha mãe nesse momento, apesar de não ser culpa dela. sei que ela só está me mandando fazer o que é preciso para o seu trabalho, mas eu não conseguia não me sentir meio brava.

eu e haylee teríamos que levar alguns doces para o cinema da cidade, em uma entrega de última hora. eu. e haylee. em um carro, presas, juntas. não nos falamos direito há anos (tirando ontem), fala sério! isso não iria dar certo.

— tá bom, vamos logo com isso. — digo, apesar de estar me tremendo por dentro.

ela pega a chave do carro atrás de mim na bancada. seu cheiro cítrico me deixando desconcertada por um momento.

sigo-a até a frente da confeitaria, onde o mustang antigo da minha mãe estava. haylee destrava as portas e se senta atrás do volante, sendo a única ali que dirigia. me sento ao seu lado, sem ter escolha.

ela da partida e o silêncio chega a me incomodar tanto, que ligo o rádio na estação local, só para ter algo entre nós.
as ruas passando sob meus olhos não me chama tanta atenção quanto haylee e sua cara de concentração. seus braços pressionando o volante, tensa. tão bonita quanto quando se prepara para lançar uma bola na cesta.

— o que foi? — pergunta sem me olhar.

desvio os olhos como se tivesse sido pega roubando algo.

— nada. — murmuro baixo.

ela não acreditou, claro, mas preferiu deixar pra lá, já que não disse mais nada até o final do trajeto.

ao pararmos em frente a faxada do cinema, dezenas de pessoas entram em meu campo de visão.

merda. é tarde de estreia!

quando algum filme produzido por alguém da cidade ou até dos arredores, está em cartaz, esse lugar lota mais do que loja em promoção. eu sinceramente não sei porque, já que são todos tão ruins que não faz sentido sempre estar tão cheio.

o passado de presente.Where stories live. Discover now