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1 ano e 11 meses atrás.

- Divórcio? - A sogra de Soraya perguntou com tanta dúvida, que era mais fácil dizer que ela mesma estava conversando em outra língua.

- E eu sinto muito que você descubra dessa forma. A senhora sabe o quanto a considero, e não quero jamais que se sinta mal. - Soraya disse, apertando o ombro de Fairte, que mais parecia pedra.

- Então me diga que essa história é uma baboseira. Que brigaram, mas que logo se acertam. -

- Não tem acerto dessa vez. - Soraya suspirou, olhando para o chão. - Sua filha me traiu. -

Fairte não absorveu aquela informação de primeira. Respirou fundo, abriu a boca algumas vezes. Sentiu vontade de gritar, de chorar e de chacoalhar Soraya para que acordasse daquele pesadelo. Muito por gostar demais da nora, mas também por saber o sofrimento que aquela situação desastrosa estaria acarretando na sua filha. - Soraya, não. -

- Entenda que... -

- Não. - Ela ergueu um dedo, e Soraya se calou. - Minha filha jamais faria isso. E não estou dizendo isso com o discurso clichê de mãe. Estou dizendo isso porque tenho absoluta certeza do que estou falando. Uma menina que arriscou tudo para se relacionar com uma aluna, que enfrentou uma família inteira ao se assumir sem saber como reagiríamos, porque a amava demais e não saberia lidar com a possibilidade de perdê-la. Que se desdobra em quantos pedaços precisar pra te fazer feliz. Uma traição não fecha nessa conta, Soraya. Simone não tem nem o TEMPO pra te trair, sabe o quanto aquela menina trabalha ? -

- O tempo que ela passa naquele Senado não é só pra trabalhar. - Soraya acrescentou, amarga.

- Me dói escutar a mágoa que você carrega. E me machuca ainda mais de saber que você acredita no que diz, So. - Fairte estava mais calma ao perceber o que havia acontecido. Entender que aquela situação inteira havia sido criada na cabeça da nora.

- Estávamos longe há tempo demais. E nos perdemos nessa distância. - Soraya engoliu o nó da garganta, porque havia prometido para si que pararia de chorar e sentir pena dela mesma. - Eu só preciso de espaço, para superar ela e seguir com a minha vida. -

- Você precisa de ajuda, minha querida. - Fairte abraçou a nora, que moldou os braços ao redor dela e fechou os olhos. - Seu filho precisa de vocês. De você inteira. -

Por mais quebrada que estivesse, sentiu algum pedacinho se juntar naquele abraço antes de se partir novamente. A angústia e raiva que sentia perante seu casamento não diminuiu, e ela parecia aumentar mais na tentativa de culpar Simone por ser a responsável por aproximar essa família dela, e a levar embora. Se deleitou naquele gesto como se fosse uma despedida, porque, acreditava que seria. - Eu não sou louca. -

- Mas não está pensando direito. -

[...]

- O que foi que ela te disse ? - Simone nem deu olá para a mãe, só abriu a porta do quarto de hotel que havia lhe enviado o endereço.

- Isso é entre eu e ela. E seja educada. - Por mais que quisesse ser firme, não conseguiu, passando a mão pelas costas da filha e sentindo vontade de chorar por vê-la daquela forma.
O quarto estava organizado e preenchido com os adereços pessoais de alguém que estava ali há algum tempo. As roupas penduradas e apertadas na arara, sem o devido espaço para não amassarem. Devida a visita do Gael hoje, a bolsinha recheada de itens de bebê estava aberta em cima da mesa. Uma mamadeira vazia na minúscula mesa de cabeceira repousava ao lado de alguns fios eletrônicos. Tudo parecia fora do lugar, embora muito organizado. Faltava o aconchego de um lar e o carinho de casa. Por mais confortável que fosse, jamais seria o lugar de repouso de seu coração.

Diga que me odeia [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora