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No capítulo anterior: – Fala alguma coisa

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No capítulo anterior:
– Fala alguma coisa. – Soraya implorou, após mais de cinco minutos em perfeito silêncio na sala. – Qualquer coisa, Simone. Diga que me odeia. Fale o que quiser, MAS DIGA ALGUMA COISA! –

– Eu não assinei o divórcio. –

Soraya quase caiu para trás, se segurando na mesa da psicóloga. – Simone. –

– Nunca nem vi aqueles papéis, a Fernanda guardou e não sei aonde. – Simone não olhava pra ela, ela estava falando para o nada.

– Você escondeu isso de mim por todo esse tempo ? –

– Eu não fui a única. –

Não há muito o que responder, é uma verdade absoluta.

– Simone, eu... –

– Eu também sinto muito. – Ela completou, já sabendo o que Soraya diria a seguir.

– E o que a gente faz agora ? –

Relacionamentos envolvem camadas. Profundas e internas, que conforme se conhece mais a pessoa ao lado, se percebe o quanto, na verdade, é preciso ter certeza de quem verdadeiramente é antes de entregar a alguém. A grande questão é que estar sempre de costas para o espelho, te impede de olhar para si com cuidado e paciência.
Nesse momento, o casal se olhou muito. Haviam lágrimas, mágoas e desamores naquela ausência de palavras. Podiam perceber as marcas do tempo lixando as bordas do que chamavam de casamento. Tornando-as mais esboçadas e suaves, familiares. Rodar a mesma estrada e conhecer o trajeto inteiro até o local de destino. Seguir uma nova rota, não altera sua casa. O lugar que você sempre voltará, independente do que aconteça.

– Vejo que o clima esquentou por aqui. – A terapeuta abriu a porta, delicada. Deu certo tempo para que conversassem, mas era hora de desatar os nós e cortar as rebarbas.

– É uma noite de revelações. – Simone se levantou, segurando o rosto enquanto olhava para a janela. Como se pudesse encontrar respostas nas luzes claras da cidade.

– Definitivamente. – Soraya cruzou as pernas na poltrona, perdida.

– Soraya, eu tenho uma pergunta. Só uma. – A morena ajeitou os cabelos escuros acima dos ombros, se virando. – E não é relacionada ao passado, e a tudo que aconteceu. –

Os olhos cor de mel se iluminaram, não sabendo o que viria a seguir.

– Você quer que eu saia daqui e revire meu gabinete atrás de assinar aqueles papéis de divórcio? – Simone estava anormalmente séria.

– N-Não. –

– Então levanta. – Simone ergueu a mão, sinalizando que ela a seguisse. Se despediu rapidamente da terapeuta, esperando que Soraya viesse atrás. Ela o fez, quieta. Lhe entregou as chaves do carro com delicadeza, deixando que ela guiasse o veículo conforme queria. Ajeitou o banco, que normalmente caberiam as pernas curtas de Soraya, enquanto ligava o carro e dava a partida. Não estava nervosa, estava focada em chegar logo ao destino.

Diga que me odeia [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora