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Tempo: substantivo masculino singular
Duração relativa das coisas que cria no ser humano a ideia de presente, passado e futuro; período contínuo no qual os eventos se sucedem. Foi fundamental que o tempo existisse entre elas. Que os dias seguintes escorressem do relógio sem grandes encontros. Que as badaladas do horário do final das sessões, representasse o fim da curta interação entre elas. Tinham muito a dizer, mas os minutos corretos lhe faltavam. A hora em que os corações batessem em uníssono, o momento em que suas almas se trombassem novamente e voltassem a se juntar, gêmeas, como foram por muito tempo.

Espaço: substantivo masculino singular
Extensão ideal, sem limites, que contém todas as extensões finitas e todos os corpos ou objetos existentes ou possíveis. Dessa forma, estar longe para aproximar-se da cura foi a maneira que encontraram de existir no etéreo tranquilo. Mantendo a carne distante enquanto o espírito passeava, buscando a proximidade daquelas características que se puxavam como ímãs, querendo a todo custo encurtar qualquer distância. Juntar as peças do quebra-cabeça, refazer o espelho e costurar as cicatrizes.

Por isso, depois de escutar tanto e dizer muito, o casal se afastou por dias.

- Então... a Simone não entrou aqui ? - Soraya esforçou as narinas, procurando o cheiro ao chegar em casa.

- Não. Ela nem saiu do carro pra buscar o Gael. Conforme você já pediu tantas vezes. - Mari informou, frisando.

- E ela não obedeceu nenhuma. -

- Talvez ela não quisesse ouvir mais uma bronca, quem sabe. - A babá sugeriu, arrumando a própria mochila para ir embora.

Soraya entendeu o recado, e sentiu o baque das ações. Era verdade que havia proibido Simone de entrar ali, então não havia mais ninguém para culpar além dela.
Dessa forma, também era responsabilidade dela, que tomasse o próximo passo para as tão esperadas pazes entre as duas. A grande questão era, que ela não fazia ideia de por onde começar, mais uma vez.

Naquela noite solitária, tal qual muitas outras, que passou distante do Gael, ela se pegou presa nos aros dourados da própria aliança. Mergulhada nas dúvidas, nas sombras do passado sem luz, que representavam o momento mais difícil da sua vida, ela também pensou em como poderiam ter sido seus dias se tivesse tomado decisões diferentes.
Como Gael seria hoje, sem a falta eminente da outra mãe. Como teriam sido as noites sem dormir, se pudesse ter compartilhado melhor com Simone ao seu lado. Pensou nas dores da separação, que na época não considerou que Simone estivesse sofrendo também. Afinal, havia perdido o filho e a esposa de uma vez só, e sem aviso.

Precisava se desculpar, por mais que soubesse que nem todas as desculpas do mundo, seriam capazes de voltar no tempo e reparar o que aconteceu. Por um fim naquela história e finalmente seguir em frente.

[...]

"Nadar peixinho, nadar peixinho, nadar peixinho." Gael estava pulando, dificultando a ajuda da mãe em colocar as boias de braço. Geralmente, ela ficava de olho enquanto ele brincava na piscina infantil, mas hoje, não tinha compromisso nenhum além de estar com ele e decidiu que entraria com ele na piscina grande.

- Você está cuidando da sua mamãe? Como ela está? - Ela perguntou, o sentando na borda para que pudesse entrar na água e pegá-lo. "Quietinha." Gael respondeu, entortando o cantinho da boca. "Pode ajudar a cuidar." Ele apontou para Simone, a olhando nos olhos com inocência. "Ela fala com mamã." Comportamento esse que ele percebeu, pois todas as vezes que se encontravam, as mães estavam conversando, energicamente.

- Prometo tentar ajudar, combinado ? - Ela respondeu, segurando a mão pequena do filho entre os dedos, antes de entrelaçá-lo no colo para que Gael nadasse. "De coradinho?" Certamente uma mistura entre "coração" e "dedinho".
Simone ergueu o mindinho, enroscando no dele e beijando sua mão. - De coradinho. -

Diga que me odeia [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora