Diga que me odeia [HIATUS]

12

ser mulher é um ato de resistência.

uma excelente leitura, espero que gostem!
quero giraflores.
🌻

SORAYA THRONICKE P.O.V

- Pode começar. -

Por onde ? É tanta coisa...

- Meu nome é Soraya. Sou senadora, advogada e mãe. E... E... chega, não dá. Não consigo. - Terrível, um nó enorme na garganta.

- Você consegue sim, e sabe disso. Passou quase quatro sessões vindo aqui sem falar absolutamente nada. E, depois, falou. E, nunca mais parou. Então eu e você sabemos que você consegue, você só precisa falar qual é o seu arrependimento. Aonde dói ? -

Eu me arrependo de ter sido cruel. De ter destruído com a força dos dedos algo que era bom, que funcionava. Me arrependo de não ter percebido antes o quanto eu errei com todo mundo, o quanto eu falhei em ser uma boa pessoa, quando na verdade tudo que eu queria e precisava era de ajuda. Mas, eu não soube pedir. Já não me reconheço nas sombras do passado, não me serve mais. E ao mesmo tempo, insisto em voltar. A janela está sempre aberta, a exceção é que ninguém mais mora lá.
Guardo confissões, sentimentos e desejos à sete chaves, enterrados dentro de mim junto com o que eu fui um dia. Com o que busco diariamente me tornar novamente. Curar as dores e sarar as feridas. Acalentar a alma e calar as vozes. Me dói ser assim. Me dói ainda mais fazer doer dessa forma em alguém que não seja eu.

Cometi erros, sigo deslizando nas linhas entre o correto e o incorreto. Mas, eu posso dizer com toda a certeza do mundo que eu jamais desisti de mim. Passei por cada etapa do processo, desde a parte mais dolorida, até as curtas recompensas que é buscar a melhora. Sigo tentando. E, espero um dia conseguir parar de nadar contra a maré. Segurar o leme de forma tranquila. Não deixar o barco afundar dessa vez.

- Acho que talvez esteja na hora de arrancar os pontos, Soraya. Falar um pouco sobre o que aconteceu no seu casamento. - Minha terapeuta, também conhecida como a pessoa que eu mais odeio, e mais amo no mundo.

- Combinamos que eu não falaria disso, nunca. -

- Não. Combinamos que não falaríamos disso até que você estivesse pronta. E, eu acho que já está na hora de você tirar as bóias de braço e aprender a nadar. - Ela sempre me dava broncas desse tipo, e era um choque de realidade todas as vezes.

- E eu não estou! - Senti minhas unhas arranharem o couro da poltrona, e meu corpo estremeceu com a agonia táctil.

- Muito bem, você disse que viajou com seu filho. Como foi a viagem ? -

Uma salada de frutas, ou de emoções. - Ah, O Gael é sempre muito feliz na fazenda. Agora que ele ganhou uma cabrita, só se fala nisso. Não imagina a alegria do meu bebê na companhia da mãe dele. -

- E você se sente como, perto dela ? - Mulherzinha traiçoeira.

- Meu filho está feliz, eu fico feliz. -

- Vocês trabalham juntas, ou seja, se veem durante toda a semana. E nos finais de semana se juntam pra cuidar do seu filho. Certo, ou errado ? -

Eu vou demitir essa mulher. Vou mesmo. Chega.

- Seu problema, Soraya, é não saber encarar as coisas como elas SÃO. Foi isso que te prejudicou no passado, e é isso que continua te perseguindo. Você precisa ser sincera com o que sente. Ser sincera com o que você É. Não o que você gostaria que fosse, ou como imagina que poderia ter sido. Moldar as coisas de acordo com a sua mente, não altera o formato delas. E você custa em aprender isso. -