Teodoro AssisNão sei se foi graças a um milagre ou graças a quê!
Consegui sobreviver ao final de semana, nem compareci na festa de confraternização da empresa, meu pai não se zangou comigo e o Samuel teve que ir sozinho.
Segunda feira aqui estou eu na minha sala com uma carta de demissão nas mãos.
Da maluca da Giovanna.
Já li e reli a carta umas quinhentas vezes e não consigo acreditar que ela teve a coragem de se demitir.
Através de uma carta, nem se dignou a vir aqui pessoalmente.
Realmente essa mulher não bate bem da bola.- Estás melhor? Pergunta o Samuel entrando na minha sala e se sentando na cadeira à minha frente.
- Bom dia para você também. Digo irónico.
- Para mim o dia está lindo. Ontem à noite fiquei com uma garota top. UAU! Ele abre a boca e bate as mãos na mesa.
- Me poupe dos detalhes sórdidos Samu. Não devias estar a trabalhar?
- Para ti que o dia não parece estar lá muito bem. Cadê a tua secretária?
Entrego a carta para o Samuel.
- O que é isso?
- Leia. Levanto, coloco as mãos nos bolsos da minha calça e venho para a janela observar a linda vista que tenho à minha frente.
- Carta de demissão? É sério isso?
- Pois. Nem se dignou a vir falar comigo pessoalmente. Sabes Samu cheguei a conclusão que a Giovanna não bate muito bem da bola, é melhor que fique longe mesmo. Quero-a fora da minha vida.
- Queres nada. Isso é orgulho ferido. Devo tirar o chapéu para a Giovanna, nenhuma mulher conseguiu te deixar nesse estado. Ele sorri
- Ah cala boca dude! Estou furioso com ela. A atitude dela não foi nada profissional.
- Sei. Samuel diz debochado. - Téo por que caixas de água não queres admitir que estás apaixonado pela Giovanna?
- De que adianta-me admitir cara? Giovanna sumiu, desapareceu e mandou entregar esta maldita carta de demissão.
- Eu acho que Giovanna só está perdida e confusa. Téo não julgue o que você não sabe e muito menos conhece. Traumas são complicados.
Olho para o meu melhor amigo com vontade de o aniquilar.
- Não olhe para mim assim.
- De que lado estás tu afinal dude?
- Neutro always. Já te disse uma vez vou voltar a repetir não estou do lado de ninguém. Só quero que observes a situação por outro ângulo.
- Samu por favor não me venha com esta conversa. De novo. Jesus! E eu como é que eu fico no meio disso tudo? Com cara de parvo e idiota? Só pode.
- Deixa de dramas dude.
Ele levanta, vai para o mini bar preparar uma bebida para ele e para mim.
- Téo você só não está a saber como lidar com o fato de estar apaixonado pela tua secretária. Ex secretária quero dizer.
- Vai se foder Samuel. Tomo o uísque escocês das mãos dele. Bebo tudo de um gole só.
- Fiz isso à noite e foi maravilhoso. Devias tentar, vai-te fazer um bem danado, estás a precisar.
- Vai-te embora Samu. Antes que eu soque a tua cara de idiota.
Ele gargalha exageradamente. O Samuel costuma ser bem idiota quando quer.
- Vai trabalhar. Some. Desaparece.
- E o teu pai em Téo?
- O que tem o meu pai?
- O que vai dizer da demissão da Giovanna?
- E eu lá quero saber o que ele vai achar.
- Vai dizer que seduzistes a pobre coitada a levastes para a cama da tua cobertura e agora ela se demitiu porque se apaixonou por ti.
- Isso queria eu.
- Eu sei que querias. Mas, às vezes nem tudo que queremos temos. Eu por exemplo agora queria estar em Santorini na Grécia com umas loiras, mas infelizmente não posso. Tenho que trabalhar.
Atiro o copo na direção que o Samuel está. Ele abaixa-se o copo bate na parede e cai e quebra-se todo.
- Sai daqui Samu.
- Vou sim, antes que você me mate. Falamos depois, quando os teus ânimos já estejam mais calmos. Juízo Téo.
Ele sai e bate a porta e eu fico no mesmo lugar a observar a bonita Cidade.
Giovanna Leite
Aqui estou eu em Petrópolis RJ. Fui onde eu achei melhor parar por agora. Não dá para sair por aí a viajar sem rumo e sem direção. E o mais importante com pouco dinheiro. Uma hora ele acaba e é aí que o caldo entorna.
Estou hospedada na pensão mais barata daqui.
E daqui a pouco saio à procura de um emprego antes que o meu dinheiro acabe.Liguei à Júlia acalmando-a, dizendo que estava tudo bem, que eu preciso desse tempo para mim.
Chorou, ficou zangada, fez o maior drama, mas no fim teve que aceitar a minha decisão.
Só quero estar segura, andar na rua sem medo de ser arrastada para um beco e escuro e ser violada de novo.
Só quero paz.Chega de viver com medo.
Termino de beber o meu café. E levanto. Agora tenho que economizar em tudo.
Ainda bem, que não sou extravagante, e tudo que vejo já quero comprar.
Eu nunca fui assim. Eu gosto de poupar.
Investir o meu dinheiro.
Quem sabe eu não abra o meu próprio negócio nesse local localizado na região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Por agora vou procurar emprego num supermercado que a dona da pensão onde estou me informou que estão a precisar de pessoal para trabalhar.
Cruzo os dedos e faço uma prece rápida para a Deusa dos desempregados (nem sei se existe, mas preciso apelar mesmo) ajudar-me na entrevista para eu seja contratada.Olhem só a ironia do destino, de secretária executiva para empregada de supermercado. Normalmente as pessoas têm tendência a subir de nível e não o contrário, descer. Entretanto, eu sou um caso à parte.
Se não, não seria eu.É tudo tão bizarro na minha vida. Que a uma altura dessas eu já devia estar habituada.
Ainda bem que o supermercado onde vou não é tão longe do hotel onde estou hospedada. Ando devagar pelas ruas do bairro, até que aqui é um sítio agradável de ser viver.
Acho que vou habituar-me rápido a rotina daqui.(***)
O supermercado está lotado. Vejo pessoas a saírem de tudo quanto é canto.
- Ei. Em vez de ficar parada aí. Podias perfeitamente abrir esse caixa e começar a atender essas pessoas aqui. Diz uma senhora zangada
- Oi? O quê? Pergunto franzindo o cenho
- Estás surda garota. Ralha a senhora
- Eu... Não trabalho aqui. Balbucio com um certo receio na voz
- Não trabalhava. Agora trabalhas. Considere-se contratada. Senta aí que vou te mostrar rapidamente como se abre o caixa. É tudo muito simples, por favor aprenda o básico rápido, que eu vou só explicar uma única vez. Estamos entendidas?
- Sim senhora.
E assim, desse jeito meio baralhado começo a trabalhar no supermercado.
Sem nem mesmo passar por uma entrevista ou processo de seleção.
Isso faz-me lembrar do jeito maluco que o convencido do Teodoro Assis me contratou.Isso são águas passadas. Águas passadas não movem moinhos.
Quem anda para trás é caranguejo.
É desse recomeço que necessito para a minha vida.Um doce recomeço.
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Uma Secretária Quase Perfeita
RomanceSinopse A vida de Giovanna dos Santos Leite não tem muita adrenalina, enquanto ela não cursa o curso dos seus sonhos, trabalha como garçonete numa livraria na Cidade de Rio de Janeiro, a conhecida Cidade agitada do Brasil. Nos tempos livres Giovanna...