Capítulo 18

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 Fernanda estava confusa. Como assim, ele havia falado para ela sobre Marcos, sem ao menos saber quem ele era? Por que motivo ele teria feito aquilo? Não fazia sentido algum.

- Você o mencionou uma vez, mas nunca o vi.

 "E nunca poderá!" pensou. O fato de lembrar que nunca mais poderia vê-lo novamente a machucou, como se a ferida tivesse acabado de surgir. Aquele sentimento nunca a abandonaria? Ela nunca mais seria completamente feliz. Seus olhos marejaram naquele instante, e ela torceu para que Pedro não percebesse o acontecido. Se ele não sabia sobre seu ex-namorado, ela não contaria. Era melhor deixar daquele jeito, mesmo que ela sentisse que deveria fazê-lo.

- Fernanda? Você está bem? - O garoto a tirou de seus devaneios. - Estava dizendo que, de qualquer forma, não espero que me desculpe, mas eu precisava vir aqui te dizer que sinto muito.

- Tudo bem. Eu te desculpo.

 Ela não entendia o que estava acontecendo com ela naquele momento, mas percebeu que, de verdade, não estava mais zangada com Pedro, estava apenas com saudade de Marcos. Ver o garoto, e, ainda por cima, ouvi-lo citando-o era demais para ela, mas não era justo culpá-lo, uma vez que ele não fez por mal. Como disse, estava apenas estressado, seja lá qual for o seu motivo.

- Obrigado, de verdade! - Agradeceu-a, dando-lhe um abraço.

 Ao perceber o que estava acontecendo, Fernanda sentiu algo diferente dentro de si. Como se ela precisasse demais daquele abraço. Matheus sempre dava abraços quando eles se encontravam, e quando estavam juntos também. Mas nenhum deles era como aquele. Parecia que Pedro estava envolvendo-a, e tirando dela todos os seus problemas. Sentiu-se segura e tranquila pela primeira vez em meses.

 Sentiu os braços do menino afrouxando ao seu redor, mas, ao invés de soltá-la, colou os lábios nos dela, gentilmente. Ficaram assim por alguns segundos, até que ele a soltou, abruptamente.

- Me desculpe, Fernanda. De verdade. Eu... Eu sinto muito... Não sei o que me deu. É... Acho.. Acho melhor eu ir embora. - Disse rápido, embolando uma palavra na outra enquanto abria a porta e ia embora.

 Sem entender nada, ela permaneceu algum tempo no sofá, apenas se lembrando de como a sensação daquele beijo a fez se sentir tão bem, mesmo tendo sentimentos tão confusos em relação a Pedro. Ele sempre seria um mistério para ela. Levantou-se, desistindo de entender o que havia acontecido ali, e foi tomar um banho. Aquele foi, com certeza, um dia muito agitado.

 Pedro ainda tentava entende porque ele tinha feito. Não acreditava que tinha beijado Fernanda. Ainda de manhã estava morrendo de raiva da garota, e então, estavam com os lábios colados. O que o deixava mais desconcertado era o fato de ter sentido algo tão forte enquanto estavam daquela forma. Nunca havia sentido nada daquele tipo, e isso o assustou, a ponto de largá-la, com aquela carinha de perdida e desapontada, e sair correndo o mais rápido possível para fora do prédio.

- O que você está fazendo com a sua vida, Pedro? - Pensou, enquanto entrava em seu carro. - Ela estava com o namorado dela, eles acabaram de dormir juntos, e você a beija? Só pode estar maluco mesmo.

 Dirigiu de volta para seu apartamento, mas, assim que entrou em seu andar, avistou Matheus em sua porta.

- O que você foi fazer lá? Seu filho da mãe? Não percebeu que eu e ela estávamos ocupados?

- Tão ocupados que ela te mandou embora para falar comigo, não é? - Irritou-o.

- Olha como você fala comigo, zé ruela!

- Você acha que tenho medo de você?

- Deveria.

- Mas não tenho. E sinto muito se sua namorada prefere falar comigo do que ficar contigo. Belo namorado é você!

 Antes que ele dissesse qualquer outra coisa, Matheus partiu para cima dele, desferindo-lhe um soco no queixo. Pedro, então, começou a revidar, dando alguns socos na cara do adversário. Ouviram as portas do elevador se abriram, o que os fez se separarem, e Pedro aproveitou o momento para entrar rapidamente pela porta. Aquele dia era, oficialmente, o mais louco que ele já tivera.

 Passou o resto do dia estudando, e nem ao menos se deu ao trabalho de olhar seu rosto. Sabia que estaria marcado, podia sentir seu lábio inchado, e a têmpora doendo. Porém, precisava realmente estudar aquela matéria, pois estava tendo certa dificuldade em entender como funcionaria. Ficou lendo e relendo até de noite, quando jantou, e dormiu.

 Fernanda acordou de bom humor, sem saber exatamente o motivo. Decidiu ligar para Juliana, afinal, tinha dias que as duas não se falavam, e como a amiga também estava estudando, provavelmente estaria acordando para ir à faculdade àquela hora.

- Bom dia, minha gata! - Falou, animadamente.

- Bom dia. Veja só quem resolveu dar notícias. E pelo visto, são boas. - Ju soltou uma risadinha.

- Que nada. Estava apenas com saudades da pessoa mais linda que eu conheço.

- Oh meu Deus! Quem você pegou?

- O quê? Nada a ver, Ju! - mentiu.

- Até parece que não te conheço. Desembucha. É o gostoso do Matheus, não é?

- Ah... Bem...

- Sabia! - Conseguiu ouvir gritinhos de alegria pelo telefone.

- Calma. Não é nada demais. Nós demos alguns beijos sim. Mas sei lá. Não é isso que me fez ficar feliz assim...

- Iiih... Já vi que tem problema vindo.

- Não exatamente. Eu meio que beijei um outro menino ontem. O Pedro. Lembra que te falei dele?

- Claro que lembro. Não acredito que beijou dois meninos! Mas também, depois dessa seca toda...

- Ju! É sério. Foi só um selinho. Mas sei lá..

- Amiga, estou mega atrasada, mil desculpas. mais tarde nós vamos conversar sobre isso ok? Te prometo. Beijos. Saudades. Te amo, loirinha!

- Certo. Beijos. Te amo. Também tô com saudades de você. - concordou, desapontada, ouvindo o som de encerramento de chamada logo depois.

 Acabou de se arrumar e foi para a faculdade. Sua primeira aula era com Luana, e não sabia se ficava feliz ou não; a amiga estava extremamente estranha nos últimos dias. Chegando lá, logo a avistou.

- Olá! - Luana a cumprimentou, toda alegre. - Bom dia, Nan!

- Bom dia, Lu. Vamos pra aula? - Disse, confusa.

- Claro!

 A amiga entrelaçou seus braços, carregando-a para a sala. Ao virar o rosto, reparou em um enorme chupão, roxo, que parecia ter sido feito logo de manhã, bem no pescoço da menina. Antes que pudesse perguntar qualquer coisa, percebeu, atrás dela, Pedro. Por quê diabos ele estava com a cara toda machucada?

O que será depois de você?Onde histórias criam vida. Descubra agora