O que será depois de você?

Capítulo 22

 Nada pode dar errado, a menos que o despertador não toque, e você perca o horário para a aula. Ainda mais se é a primeira semana, e os professores sempre acabam tendo a melhor noção de quem são os alunos aplicados, e quem não são. E foi por isso que, quando percebeu que estava duas horas atrasada para a aula, Fernanda saiu sem nem olhar para o celular, apenas pegando seus cadernos, e a chave do carro e de casa. Talvez ainda conseguisse chegar a tempo da primeira aula.

Tomando cuidado para não sofrer nenhum de acidente no trânsito, acabou chegando à faculdade meia hora antes do fim da aula, suada e estressada, novamente.

- O que aconteceu contigo, doida? - Perguntou Luana.

- Não escutei o despertador, acordei nem sei como.

- Sorte que conseguiu acordar, né? - Comentou Lele.

- Nem sei como consegui. Mas ainda bem. - Respondeu, já mais calma.

Tentou prestar atenção ao final da aula, para entender o que seria estudado nesse período, mas, aparentemente, tinha sido apenas mais uma daquelas aulas inaugurais em que o professor não fala nada de realmente importante. Agradeceu mentalmente.

Ao fim da aula, saíram para almoçar; Fernanda estava morrendo de fome, já que nem café havia tomado antes de sair correndo de casa. Poderiam servir o que quisessem para ela, que seria a melhor refeição de todas.

- Minha linda, senti sua falta na aula! - Cumprimentou Matheus, já se sentando na mesa - Chegou atrasada, nem conseguimos sentar perto!

- Sim, perdi o horário... Mas pelo menos não perdi nada, né? - Disse, rindo. - Preciso trocar o toque do meu despertador.

- Podemos nos encontrar depois da aula, de tarde, ver um filme juntos, o que acha? - Já galanteando.

- Não sei... Não tô muit...

- Hey, pombinhos! O que vocês acham de sairmos pro bar hoje? - Interrompeu Lele.

- Lógico! - Animou-se Matheus, sempre empolgado para beber.

Beber em uma quinta-feira não parecia fazer sentido nenhum, e, afinal de contas, ainda teríamos aula no dia seguinte.; dormir tarde faria com que ficasse cansada. Muitos motivos para não ir, e, além de tudo, não estava no clima de ficar junto com os amigos bêbados, falando besteiras e conversando com qualquer estranho que encontrassem.

- Prometi que ajudaria o Diego estudar. - Mentiu.

- Fala sério. Estamos na primeira semana, Nan! - Reclamou Luana.

- Mas o Professor Francisco é um mala, e já passou um monte de matéria essa semana. E ele também já bombou nessa matéria, pediu que eu ajudasse; não posso desmarcar!

 Passaram o resto do almoço em meios a conversas, depois de inúmeras reclamações sobre Fernanda não querer sair, enquanto comiam. Era sempre uma bagunça quando os quatro decidiam comer juntos, mas também muito divertido, porque podiam brincar e fazer gracinha sem se preocuparem. 

Q acha de estudarmos hj? Sei q tem pouca matéria, + fica + fácil... - Fernanda.

 Agora tudo o que restava era esperar que ele respondesse, torcendo para que estivesse livre para estudar. Não queria sair com os amigos, mas algo a dizia que ficar sozinha também não seria uma boa decisão.

 Duas horas da tarde, hora de ir para a aula novamente, que, com sorte, acabaria mais cedo; não estava em clima de ficar na faculdade escutando professor. Porém, antes de entrar na sala, como era de costume, acabou esbarrando em Pedro.

- Olha por onde anda! - Reclamou o garoto.

- Que tal você deixar de olhar pra mulher, e prestar atenção? - Falou, acompanhando os amigos para dentro da sala.

- Vocês dois, hein... - Começou Matheus.

- Nós dois, nada. Nem amiga do moleque eu sou.

- Já vi que não tá de bom humor hoje... Nem vou comentar nada, bravinha. - Tentou descontrair, sem receber nem um olhar da loira.

 A aula demorou para passar. A única parte decente de todo aquele tormento foi receber a mensagem de Diego (Claro, te encontro na cantina, ok?), que nem queria dizer que seria divertido ou qualquer coisa do tipo. Quando puderam enfim sair da sala, as meninas foram correndo para casa se arrumar, enquanto Matheus acompanhou a amiga até a porta da cantina. 

- Não gosto quando você fica assim, toda chateada. - Disse, beijando o pescoço da garota. - Gosto do seu sorriso, sempre te disse que ele é bonito demais pra ficar escondido assim... 

- Desculpa, Mat, não tô muito legal hoje... E eu preciso ir encontrar o Diego.. - Respondeu, sem querer sair dos braços do loiro.

 Sentia-se mais calma, naquele momento, e percebeu que talvez tivesse sido uma ideia ruim não aceitar sair com os amigos. De qualquer forma, era tarde demais, e o outro colega o esperava para poderem estudar.

- Aproveita bastante, mas juízo, tá? - Despediu-se, beijando-o levemente os lábios.

- Claro, você também! Cuidado com esse menino. - Respondeu, sempre ciumento.

 Separaram-se, Matheus, indo embora, e Fernanda, entrando na cantina, procurando o amigo entre todas as pessoas que estavam no lugar; não esperava que ali estivesse tão cheio, ainda mais as 4 horas da tarde. Demorou um pouco, mas finalmente conseguiu encontrá-lo em uma mesa, quase no canto, à sua direita. 

- Ei!

- Oi, Fernanda! Obrigado por me ajudar.

- Nada. E pode me chamar de Nanda, ninguém me chama de Fernanda não... - Falou, rindo.

- Claro, Nanda... Então, bora estudar essa matéria divertidíssima? - Brincou.

 Fernanda percebeu, imediatamente, que a tarde não seria tão ruim quanto imaginou, e que poderia ganhar um grande amigo no processo. Durante as três horas seguintes, entre risadas, brincadeiras e muito estudo, os dois conseguiram entender toda a matéria, além de acabarem conhecendo-se um pouco mais.

- Então quer dizer que você é de cidade pequena? Já parece tão entrosada aqui dentro da faculdade...

- Só aqui! Não conheço praticamente nada além do bar daqui de perto, que todo mundo vai, e o cinema, provavelmente! - Confessou, rindo.

- Ah, não pode ser! - Riu Diego - Se for assim, preciso te levar pra conhecer o melhor de Santos! Não acredito que seus amigos não fizeram isso... São uns irresponsáveis!

 Enquanto se divertiam conversando, Fernanda virou o rosto para o lado, e acabou encontrando o que menos queria naquele momento: aqueles olhos azuis; soube, vendo aquela expressão, que seu bom humor não duraria muito mais...