capítulo 3

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 Nos dias que se seguiram, tudo o que Fernanda fez foi chorar. Desde que chegara em casa após o enterro, percebera que nunca mais o veria. Ainda não conseguia aceitar o fato de que o tinha perdido, e não entendia o motivo de ele estar sem cinto, já que nunca deixava de usá-lo.

- Filha, o almoço está pronto. Venha comer um pouco.

- Não quero mãe, obrigada.

 Todos os dias tinham sido assim. A mãe tentava fazê-lá se alimentar, tirá-la do quarto para tomar ar fresco, mas ela apenas negava e voltava a chorar. Ainda tinha uma camisa que Marcos esquecera ali, e passava o dia abraçada naquele pequeno pedaço de pano, sentindo seu cheiro, sua presença, que, aos poucos, também estavam sumindo. Pensava que a dor no seu peito nunca a deixaria, e que ela jamais poderia ser feliz novamente; adormecia todos os dias em meio aos pensamentos.

- Nanda, acorda! - Chamou Ju. Elas não se falavam desde o enterro. - Você não me atende, não responde minhas mensagens. Precisei ver como estava, loira.

- Me deixa sozinha, Ju... - começou a falar, já sentindo as lágrimas em seus olhos.

 Juliana abraçou a amiga, sabendo que ela precisava de um ombro amigo naquele momento. Por se conhecerem há tanto tempo, imaginava o sofrimento pelo o qual estava passando, e não queria vê-la daquela maneira.

- Vamos passear um pouco hoje. Podemos ir em um parque, ou então assistir um filme.

- Não quero sair daqui, me deixe sozinha.

- Nanda, eu sei o quanto você está sofrendo e vo...

- VOCÊ NÃO SABE! VOCÊ NÃO O AMAVA COMO EU, ELE ERA O MEU NAMORADO, NÃO O SEU. EU NÃO PERDI QUALQUER PESSOA, PERDI O AMOR DA MINHA VIDA! - Interrompeu, em um acesso de raiva.

- Tudo bem, me desculpe. Eu só queria que você ficasse melhor. Eu só quero a sua felicidade.

- Eu não quero ficar bem. - Justificou-se. - Não quero ser feliz. Eu quero o Marcos. - Voltou a chorar.

 Se abraçaram novamente, e ficaram assim durante um bom tempo, até que estivessem um pouco mais calmas.

- Toma pelo menos um banho, loira. Para poder se acalmar.

- Tá. Mas fica comigo lá, por favor. Estou com medo de ter algo que me faça lembrar... - Não conseguiu completar.

- Vamos lá, não vamos pensar nisso. Vamos falar sobre o motivo de não estar mexendo no celular.

- Você sabe o motivo.

- Me entrega o celular. Vou olhar e apagar, não pode se excluir no mundo.

 Pegou o celular e começou a olhar. Cerca de 50 mensagens do celular, mas a maioria dela mesma. Apagou tudo que tinha a ver com Marcos. No Whatsapp e Facebook, a mesma coisa. Agradeceu a todos pelo carinho e pediu que não comentassem mais sobre o ocorrido. Talvez isso resolvesse as coisas. Quando acabou, a amiga já tinha acabado de se banhar.

 Voltaram para o quarto, e Fernanda vestiu um vestido leve, e escovou os cabelos, pouco animada com a ideia de sair de casa, mas aceitando-a. Saíram do quarto e da casa, e foram para o parque, que ficava duas ruas dali.

- Está tão bonito aqui, agora no verão, não é loira? - puxou assunto.

- Claro. Esta sim. - respondeu desanimada. - Morena, podemos ir pra casa?

- Calma,vamos comprar algo pra comer ali na esquina. Além disso, precisamos conversar.

- Sobre o que?

 Foram até a padaria, e pediram dois pães de queijo com sucos de laranja. Pagaram no caixa e sentaram-se para lanchar.

- Você precisa começar a arrumar as malas. Você vai para a UNIP. - Falou, sem pestanejar.

- Morena, eu não quero ir. Vai ser tão triste ficar naquele apartamento, sozinha.

- Por isso vou passar a primeira semana com você. Mas precisa ir, vai ser importante pra você.

- Não sei não. - disse, tristonha.

- Por favor. Tenta. Vai ser bom pra você sair daqui. - Tentou motivá-la.

- Você me ajuda?

- Claro, vamos só acabar de lanchar e eu vou para a sua casa embrulhar tudo, afinal, só temos uma semana para fazer isso.

O que será depois de você?Onde histórias criam vida. Descubra agora