Depois de incontáveis horas inconscientes, carinhosamente batizadas de "sono" por um certo e imprudente comandante, nossa figura, Martin; que agora também tinha um sobrenome, finalmente despertava. Acordou numa sala muito escura e vazia, onde sequer eram visíveis as paredes e muito menos suas próprias mãos, que, para sua sorte, desta vez não estavam acorrentadas. Não sabia ao certo se era dia ou noite, ou se ainda era ontem, mas isso pouco se importava, ao que, olhando volta ao cômodo, sem saber se era grande, pequeno ou estreito, notava uma única e pequena fonte de luz atravessando a escuridão.
Era uma pequena luminosidade, no formato de três altos riscos, que formava a silhueta de uma jaula, oque o indicou de seu pobre destino. Ficar no escuro não era o seu forte. Na verdade, era uma das coisas que mais detestava, mesmo que ele não o chamasse de medo, claro, embora fosse tão claro que qualquer um na mesma cela facilmente notaria. E sim, aquela era uma cela, ou ao menos se pareceria com uma, se não estivesse tão escuro, foi oque ele pensou, até que cansado de olhar pra vazia escuridão, tomara coragem para levantar a caminho da pequena luz, em passos bem divagares, e muito largos também. Já sentia-se livre de fadigas, e não se lembrava muito bem do que lhe acontecera. Na verdade, tinha pouca, quase nenhuma ideia de como vira parar ali no fim das contas (Pois não era a primeira vez que acordava numa cela).
Frente à luz, parecia voltar a enxergar lentamente, desborrando a fria e escura visão ao que encarava o exterior da gélida e escura porta de metal em que estava apoiado. Mas claro, ao agarrar-se em duas das pequenas barras, era mais do que certo, visto o exterior do calabouço, que aquela era uma cela. Uma pequena, suja e escura cela na qual, mesmo se tivesse um banheiro, ninguém o enxergaria. De volta aos sentidos, ali ficou parado por um bom tempo, em horas a fim, talvez pelo ar fresco que vinha das escadarias no fim do corredor logo à frente, ou talvez pelo clima morno e agradável provido das grandes tochas atracadas nas paredes do lado de fora, mas principalmente porque detestava o escuro, e preferia congelar seus dedos, entrelaçados nas frias barras, a sentar-se naquele chão também gelado, e também escuro. Mesmo que para isso ficasse de pé, esperando por fosse lá quanto tempo precisasse esperar.
Escutava e captava por trás da porta, com os ouvidos bem atentos, ecoarem por cima das juntas do teto: vozes, mensagens e ritmos familiares, era oque ele notava. Passos conversas, o som de lâminas e cajados, também escutava. Para ele, ressoando de um distante passado, tudo parecia muito próximo, embora também para ele, agitando de seu minucioso presente, também parecesse-o mais que distante. Suas mãos, de fato, não estavam acorrentadas, mas ainda sim, estava algemado e seus pertences, como espada, bainha, chapéu e casaco, agora também podiam estar em qualquer lugar, oque de alguma forma o deixava ainda mais solitário, e também com frio. Mesmo sem qualquer fadiga, o rapaz sentia-se indisposto, e algo sobre sua situação não lhe cheirava nada bem. Tomado por uma sensação de derrota, passou a perguntar-se, de tantas coisas, oque mais o aguardaria mais tarde, fosse por qualquer crime que houvesse cometido. Seria uma solitária, ou serviços comunitários? Pagar uma fiança ou ir à guilhotina? Nada disso o fez muito bem, e de nada melhorou o seu humor, e por isso deixou bater sua cabeça na grade, para desviar-se daquela atenção, e ali, apoiado, cochilou, mesmo que ainda de pé. Mas foi enquanto cochilava, que pouco após, antes mesmo que pegasse verdadeiramente no sono, que um curioso barulho incomodou-o naquele profundo silêncio. Um bater de chaves. O som de metais chocando-se, acompanhado de leves passos de sapatilhas, que aproximavam-se da escadaria até embaixo no corredor, e lentamente caminhava na direção da sua pacata cela. Quieto, não mostrou qualquer reação, tampouco disse algo, mas assim esperou até que os passos chegassem até ele, quando finalmente pararam. Com um sapatear mais forte e frente à porta, ele então abriu seus olhos. Frente a ele, surgira então uma pequenina e gentil figura. Era uma garotinha de cabelos curtos, castanhos e claros, vestindo um alaranjado vestido coberto de lantejoilas, e carregava no ombro uma pequena raposa branca de cauda gigantesca, que enrolava-se em volta do seu pescoço feito um felpudo cachecol. Algo muito familiar a tornara inconfundível para ele, mas mesmo assim, não disse nada, e apenas a observou por um tempo, até que nervosa, a própria e pobre garotinha resolvera dizer algo;
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Momento Mellowick - A Grande Expedição para a Ilha de Goa.
AdventureNeste mundo de fantasia, uma ilha vai explodir. Não acredita? É verdade! Uma ilha inteirinha! E, numa ocasião rara como essa, é claro que o mundo não está reagindo bem. Mares surtando, dinossauros cor de rosa, destruição generalizada, inflação, ar q...