Acordando

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Por perto do acampamento de Hermes, o sol brilhava forte mesmo que ainda fosse de manhãzinha. A alta cabana do mago, que já parecia estar vazia, brilhava numa bela cor amadeirada — ao que o sol banhava suas telhas feitas de palmeira, que brilhavam num aspecto dourado. Uma nova página estava prestes a virar, na aventura de Martin, quando um papagaio esquisito sentou-se ao lado da janela na qual o sofá-cama — em que ele tinha adormecido — ficava encostado. Embora o seu braço pendesse pro chão, relando na poeira do piso de tábuas, e também só estivesse meio coberto — com o lençol enrolado na perna esquerda, e o travesseiro por cima da cara — Martin parecia estar bem confortável.

Mas isso não ia durar muito tempo. Era um dia realmente muito lindo, e a ave precisava expressar isso rápido, de alguma forma.

O Papagaio de Corda, como era popularmente conhecido, tratava-se de uma estranha espécie de araras migratórias cujas enormes penas da calda formavam dois laços, parecidos com os de uma manivela de corda, em suas costas. Este bicho adorava cantar, ainda mais na ponta da janela de algum besta. Isso acontece pois a espécie é uma das mais inteligentes entre as aves, e os Papagaios de Corda gostam muito de ver os outros animais assustados, porque eles acham isso engraçado e não dão a mínima se você se sentir ofendido. Esse daqui, que estava na janela da cabana, limpou atrás das orelhas, exercitou a garganta e até comeu uma castanhazinha — antes que inflasse o peito pra lembrar a Martin de que quem ganha dinheiro na cama são as profissionais do amor, que merecem todo o respeito do mundo.

Martin saltou do sofá conforme um som de "ASHUASHASHASHUA" chegou-lhe, feito uma sirene, estourando os ouvidos através do vitro da janela. O jovem retrucou aquilo com um soco revoltado, que rachou o vidro antes que a ave pudesse se assustar, porque eles tinham a mania de gritar e ir embora — imediatamente. Agora, Martin estava meio-de-pé, e meio acordado, com uma expressão de gato molhado e um lençol enrolado na goela. Talvez essa fosse uma boa hora para ele se levantar de uma vez.

O rapaz coçou os olhos, abriu as cortinas e fez frente à luz do dia. Ele não demorou notar que era o único que ainda estava ali dentro, dormindo.

— É de dia... — ele murmurava, sonolento — Por que é que ninguém me acordou? — Martin ajeitou as vestes, calçou os sapatos, apertou sua bainha à cintura e saiu pela porta, resmungando o caminho todo até lá em baixo.

Entre os quatro pilares que tornavam a estrutura da cabana aérea estável, Hermes havia construído um complexo esquema de escadas para subir e descer da estrutura. As tábuas estavam velhas, bambas e finas, e a visão periférica, descendo, não era das melhores, já que tudo ficava trancado num cubículo de tábuas farpeadas, pregadas umas nas outras em padrões parecidos com cama de gato. Contudo, mesmo que Martin prestasse mais atenção aonde pisava, seus olhos não puderam evitar senão espiar numa imagem nada convencional, bem no meio do acampamento lá em baixo.

Era Hermes e Tim. Eles sentavam cada um em uma cadeira infantil de plástico — uma branca de pintas pretas, e outra preta de pintas brancas —, separados somente por uma baixa mesinha redonda de bar, onde pareciam juntar as mãos num "aperto de mão" bastante prolongado.

Oque podia ser visto de cima, no entanto, não condizia em nada com a realidade lá de baixo, porque aquilo não era um aperto de mão. Aquilo era guerra. Guerra, do jeito que ela é, e que nunca muda. Feita com as mãos sujas dos homens, unidas num abraço mortal. Uma guerra... DE POLEGÁRES!

SOLTOS E SELVAGENS sobre a base da mesa ao relento, dois polegares intrépidos agora se encaravam, sobre o ringue de madeira, imersos em uma profunda concentração cognitiva. Com as digitais suando, esta era a última rodada que estes dois campeões enfrentavam na cerrada, violenta e competitiva AMISTOSA! GUERRA! DE POLEGÁRES! — um esporte tradicionalmente Vastemagiano e que, sim, possuía um pódio mundial assim como campeonatos abertos e com uma regulamentação bem apertada. De toda forma, estávamos diante de uma AMISTOSA, e não de uma RANQUEADA, mesmo que um verdadeiro craque nunca jogasse pra perder.

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⏰ Última atualização: May 04, 2023 ⏰

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Momento Mellowick - A Grande Expedição para a Ilha de Goa.Onde histórias criam vida. Descubra agora