Feito o dia que viveram ontem, o vicioso cenário tempestuoso, que assolavam nossas figuras no dia passado, se fora. Com ele, iam-se as turbinas em colapso, o cambalear dos tripulantes, os acertos estrondosos, os gritos de guerra e o chiar das lavaredas flamejantes. Tudo foi embora e, na manhã seguinte, pareciam nem sequer terem existido. Na verdade, faziam-se agora extintos diante da realidade das coisas, assim como era o próprio, grandioso Piston Pucker, que meio ao bater das violentas ondas e os titânicos tentáculos daquele temeroso ocorrido, naufragara de infeliz forma naquela noite passada, mergulhando de costas contra a face do oceano, ao que afundava ainda há muitas léguas de distância de qualquer solo Goaniano.. No entanto, feito um solene milagre do destino, nem tudo que, no dia de ontem, afundara sem esperanças nas infelizes rédeas marinhas, havia, de fato, se perdido nas águas, quando sentindo sua face prensada a uma quente areia, o nosso Martin, que pensara já estar morto, não escutava o som de harpas ou cantos angelicais, tampouco um ardente aço meio à chama e gritos de agonia, mas sim uma suave vinda e volta de espumosas ondas, ao que se sentira embraçado pelo calor de uma quente areia que o rodeava.
Com os olhos na escuridão, claro, talvez ele ainda não tivesse percebido, mas de uma forma ou de outra, tinha realmente chego ao seu destino. Na distância de uma grande praia cristalina, em costa de uma misteriosa ilha tropical, uma densa fauna, para trás dela, crescia colossalmente, e no meio da praia, ficava deitada uma estranha figura; Um jovem rapaz, de casaco ciano, esparramada meio à areia, de cara no chão e com os braços juntos, descansando em baixo de um poderoso sol. Estava deitado ainda num estado de preguiça crônica, sentindo os calçados se ensopar ao que espumosas ondas de uma clara água batiam num vem-e-volta em seus sapatos metálicos, enquanto muito atordoado descansava com o rosto na quente areia e meio a um iminente nada-costeiro, cheio de pequenos caranguejos em suas costas. Ouvia o cantar das gaivotas, o sorrateiro chiar da maré aproximando-se e também o distinto canto das aves que habitavam as florestas atrás, e isso caía-o bem como um carinho aos ouvidos, tão calmos que pensara ainda estar sonhando, e sentia-se tão leve e cansado que poderia ser, facilmente, levado pelo vir das ondas à qualquer hora, mas para que houvesse história, isso também não foi oque lhe aconteceu. Para o seu azar, provavelmente cobrando-o pela sorte de ainda estar vivo, não foi nessa mesma tranquilidade, na qual cochilava, que mais tarde Martin acabara acordando, quando um daqueles caranguejos, num rápido momento-ronaldo, beliscou-o apertado na orelha com um súbito CLICK, na tentativa de apanhar seu ensopado chapéu, que, de alguma forma, ainda estava em sua cabeça.
— Mas oque?! — Martin então exclamou, sacudindo-se meio a areia num susto ao que todos os caranguejos iam embora assustados, correndo em seu ligeiro sapatear diagonal.
Despertava então coçando seus olhos cheios de areia, enquanto olhando bem para ambos os lados do que ali era praia deserta. Ele mal havia acordado, e ali sozinho não tinha muitas razões para um alarde. No entanto, desde o primeiro segundo consciente, ele tentava, quase que de desesperada forma, raciocinar onde diabos havia parado. Seria a ilha de Goa, talvez, ou então qualquer outra ilha por perto, também. Mas oque de fato o incomodou é que de nada realmente importava onde estava, já que não mais havia uma embarcação para trazê-lo de volta. Zangado, murmurou algo para si mesmo, inteligível até para mim, quando enfim, cuspindo um punhado de areia, levantou-se batendo as mãos nas calças, camisa e em toda sua composição facial, até que estivesse completamente limpo da praia.
Ao olhar para o chão, muito perto de onde acordava, percebia então uma estranha trilha traçando caminho do mar até ele, todas muito familiares, e que de alguma forma o lembravam de seus últimos momentos do dia de ontem. Eram punhados de algas e vinhas que se arrastavam das ondas para até onde ele estava, e algo sobre isso o lembrara muito de algo que, indubitavelmente, havia acontecido no náufrago, embora ele não soubesse exatamente oque. E falando em naufrago, deu ali também alguns passos para trás, investigando o estranho rastro, quando batia com a nuca nas costas de um grande pedaço de madeira podre, revelando-se atrás dele como nada mais, nada menos, que uma pequena fração do falecido Piston Pucker, como um longo e largo pedaço do que sobrara de seu mastro central. Pensava então, de novo, em como diabos poderia ter vindo parar ali e, se assim como ele, os outros tripulantes por acaso haviam sido trazidos para outras partes das costas, juntos a mais destroços da embarcação. Eram muitas coisas em que ele podia pensar, com certeza, mas no fim, para que fizesse bom julgamento da sua situação, lhe faltava uma única palavra, e essa ele redescobriu assim que fitou o vasto e azulado céu da praia, tão limpo quanto às águas que o refletiam por baixo.
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Momento Mellowick - A Grande Expedição para a Ilha de Goa.
AventuraNeste mundo de fantasia, uma ilha vai explodir. Não acredita? É verdade! Uma ilha inteirinha! E, numa ocasião rara como essa, é claro que o mundo não está reagindo bem. Mares surtando, dinossauros cor de rosa, destruição generalizada, inflação, ar q...