Escuridão infinda

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O céu crepúsculo surgiu um pouco mais cedo do que deveria, invadindo a folhagem do alto bosque na forma de feixes, dourados e lilás, que pontilhavam o chão. Agora, o céu escurecia bem mais ao passar do tempo. Estrelas começaram a espiar pela beirada das nuvens enquanto estas separavam-se em passeio — fugindo apressadas em direção ao horizonte. Um bom tempo já havia se passado desde que Martin e os outros fizeram a pausa para o lanche, e todos já estavam começando a se sentir sonolentos.

Todos, exceto por Hermes.

O mago estava bem atento. Os olhos brilhando como faróis e sempre desconfiados, como os um animal selvagem. Usava seu dom de enxergar para cobrir o horizonte todo com muita atenção — tudo conforme navegava uma estranha e rústica bússola, parecendo nada contente. Hermes tratava dos próprios assuntos, abrindo o objeto numa imensa cautela e com o auxílio delicado de uma agulha, quando um grito agudo o surpreendeu pelas costas — direto do lote dos passageiros.

No lugar de um susto, o mago sofreu de um trêmulo calafrio fantasmagórico em que perdera toda concentração, um parafuso importante, os próprios lados e alguns minutos de vida. Então, olhou lentamente pra trás.

Parece que eles estavam entusiasmados com alguma coisa.

— Uau! Tá falando sério? — dizia Clara, sentada na roda onde estavam todos os três. — Que demais! Mostra pra gente! — embora talvez parecesse que o grito fora dela, Martin também tinha participado da reação.

— Inacreditável. — falou este. — Isso é mesmo possível?

Tim, que era o centro das atenções, gargalhou e apoiou-se no joelho. — É claro! — disse ele, e, então, apontou um dos braços para cima, mirando o indicador ao céu para cativar a audiência. — Eu lhes apresento! Mágica! — toda a plateia observava com grande atenção, ruminando um "Oh" bem longo.

— Que é isso? — Hermes perguntou em pensamento.

— Como estava dizendo — falava Tim —, cada um tem a sua própria mágica, sabem? A minha é esta. O poder de fazer as coisas brotarem! — então, ele soltou uma semente que guardava na palma, ainda com o braço para cima, e a apanhou em queda com seu indicador; em equilíbrio perfeito.

A semente tremia na ponta do dedo até que, numa eclosão, transformou-se num buquê de flores em questão de segundos; tudo bem diante deles. Tim arrancou duas margaridas e deu uma para cada um.

— E então? — ele perguntou abrindo um sorriso. — Acreditam agora?

Boquiabertos, Martin e Clara olhavam para as flores tal como os homens das cavernas olharam para as primeiras tochas algum dia. Doutro lado, Hermes tirou um cachimbo kiseru do bolso esquerdo, e o acendeu com o auxílio dum isqueiro em formato de gatinho. "Que nostálgico. Lembro-me de quando ainda me importava apresentar minha mágica." — ele pensou consigo mesmo.

A empolgação parecia aumentar depois que Tim brotou uma salsicha de pântano e a usou como bigode para uma brincadeira.

— Demais! Que demais! — repetiu Clara, e apanhou mais umas flores, entusiasmada. — É realmente mágico! Eu deveria ilustrar uma cena disso.

— É demais mesmo. — Martin comentava, perplexo. — E isso funciona com qualquer tipo de planta? — perguntou. Tim assentiu com a cabeça.

Martin, então, coçou o queixo em pensamento.

— Mas... Um broto de feijão comum leva de dois a três meses para brotar. — disse ele. — Está dizendo que conseguiria brotar um desses, ou qualquer outra planta que brote alimentos, assim; só num passe de mágica?

— Sim! — respondeu Tim.

— Isso é uma baita de uma trapaça biológica.

— Sim! — Tim repetiu.

Momento Mellowick - A Grande Expedição para a Ilha de Goa.Onde histórias criam vida. Descubra agora