I. Boa sorte

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- Por favor, madrinha. A gente vai se comportar. - Detinha uniu as mão em uma prece.

Simone Tebet não fazia corpo mole, detestava suas idas a cidade, precisamente por ter que lidar com as Marias Breteiras comendo seu juízo e com os olhares indecentes dos peões. Pensa numa raça que não presta! Mas ela não fugia das suas responsabilidades. Quando tinha que ir, ia. Batendo o pé com mais força do que o necessário, franzindo o cenho no que parecia questionar "Perdeu alguma coisa aqui?" e até os mais atrevidos desviavam com o rabinho entre as pernas. Que perdessem o orgulho, já que a compostura nunca tiveram.

- Dá última vez que você prometeu não me fazer de besta, eu te peguei engasgada atrás do bar. - Simone fuzilou a afilhada. - E graças ao meu santo que foi com um cigarro de palha! - Concluiu sem dar chance de defesa.

As outras duas jovens que assistiam a peleja trocaram um olhar amuado, tinham deixado Detinha tomar a frente e agora se arrependiam. Ela era mesmo terrível.

- Madrinha, mas a gente... - Ellis e Bebela começaram em uníssono e foram logo interrompidas.

- Vocês três são farinha do mesmo saco. E já chega dessa insistência. Eu vou sozinha!

- Minha mãe vai sozinha aonde? - Júnior surgiu na sala, se espreguiçando e tentando reprimir um bocejo. Havia acabado de acordar.

- No centro de Boiadeiros. Preciso repor o estrago que vocês fizeram na minha despensa no fim de semana.

- A senhora bem sabe que eu detesto que fique andando sozinha no meio de todos aqueles... Homens. Por que não chama Carreirinha pra lhe acompanhar? - O rapaz sugeriu.

- Porque Carreirinha me atrasa e fica de graça com as beatas. Quanto mais longa a saia, mais o desalmado atenta. A última deu-lhe uma sanfonada com a bíblia e eu achei foi pouco.

Para a matriarca, o assunto estava encerrado. Qualquer protesto que pudesse porventura escapar, morreu na ponta da língua quando ela botou o chapéu na cabeça e aprumou a fivela do cinto. A camisa de botão que usava era em um tom de azul bem clarinho e a calça preta se ajustava no quadril e nas coxas, acabando em uma bota marrom de cano médio.

Saiu em meio a olhares aborrecidos e semblantes insatisfeitos. Por sorte, para Simone Tebet, cara feia era sempre sinal de fome. E quem tem fome, tem pressa. Entrou no seu Ford Ranger que ficava estacionado em frente a sede da propriedade, iniciando assim os seus compromissos. Ela poderia jurar que aquele dia não teria nada de extraordinário. Contudo, não é à toa que existe um ditado popular que afirma que "quem jura, mente".

⊰✵⊱

Se a morena fosse supersticiosa, teria achado que estava vendo uma aparição. O sol quente distorcia as extremidades da vegetação, que era um pouco mais alta naquele trecho irregular e, no meio delas, avistou uma cabeça se mover. Piscou algumas vezes. Inconscientemente diminuindo a velocidade do carro. Diacho de curiosidade! Só então confirmou que se tratava de uma moça e não de uma miragem. Seu perfil esbanjava juventude. Mas ela mantinha o olhar fixo para frente. Simone se viu obrigada a baixar o vidro.

- A moça está indo pra cidade? - Perguntou com certa simpatia.

A jovem pareceu relaxar um pouco e ela só percebeu o motivo da tensão quando se colocou no lugar da garota: um carro diminuindo a velocidade numa estrada deserta como aquela? Mas também, quem é que anda a pé por essas bandas?

- Ei, forasteira! - A loira olhou de relance e Tebet pensou distinguir um breve aceno de cabeça, mas não tinha como ter certeza, que sujeitinha mais esquisita. - Estou tentando te oferecer uma carona.

A Promessa da Viúva [Simone x Soraya]Onde histórias criam vida. Descubra agora