A Esfinge propõe um enigma que caso não seja solucionado, condena a uma morte lancinante. Semelhante a astúcia de Édipo ao aceitar o desafio, a forasteira se encaminhava para o que poderia vir a ser o seu epitáfio. Mas, como dizem os Titãs: "O acaso vai me proteger, enquanto eu andar", então ela andou. Extinguiu a distância sem ser assistida. A viúva tinha a cabeça tombada entre as mãos em uma tentativa de sustentar a própria racionalidade. Seria necessário recapitular. Suas sinapses estavam comprometidas pelo olfato. A acidez e o doçura eram o bálsamo no qual ela desejava afogar todos os empecilhos. Estaria em Soraya Vieira o néctar do seu Oásis há muito perdido?
A História, aquela H maiúsculo e toda pompa, nos informa que Roma não foi construída em um dia, mas queimou em um. Basta que o ponto de partida do incêndio seja inflamável para que a conflagração total ocorra.
A loira contornou a mesa. Não se percebia imoral, só daria aquilo que era seu. Dar o que se tem é um ato digno. Se apossou da papelada que havia umedecido. A conduta fez a morena erguer o olhar.
— Minha nossa! Que porte mais... — Como se não fosse nada, ela se ajeitou no colo de Simone, uma perna de cada lado, a saia voltando a se encolher. — Exorbitante.
Os papéis cobriam seu rosto, a mais velha não conseguia visualizar o seu semblante e, mesmo que fosse possível, estava muito ocupada experimentando o peso dela ser dividido sobre as suas coxas.
— Não foi minha intenção manchar os seus documentos, se eu soubesse que sentaria em superfícies tão facilmente degradáveis em pleno domingo, teria colocado uma calcinha.
Foi na gravura que se elaborou em seu imaginário, que um dogma ainda mais corruptível surgiu: "Você lutou e lutou tentando suprimir tudo que sempre quis e pra quê? Isso não fez com que fosse amada, ninguém sequer te conheceu." Aquele eco não vinha da farsa que internalizou, mas sim de um discernimento que ela sempre renunciou. Sabia disso, porque saber a gente sabe. "Esse é meu carma, eu sei e só saber já não me basta."
Tebet puxou o contrato das mãos dela com certa brutalidade e lançou-lhe ao léu. O vigor fez com que ela fosse alçada para mais perto. Consequentemente, os rostos também se aproximaram, o que levou a mulher a segurar nos fios loiros e puxar para trás, para que pudesse fitá-la como manda o regimento.
— Você não tem ideia do que está fazendo.
— Não tenho? Você jura? Ou talvez eu deva te pedir para prometer. — Forjou uma carinha de boa moça que era o conceito da sem-vergonhice.
Aquela representação dissimulada suscitou na morena um atitude que reunia um excesso de tirania: agarrou ainda mais o cabelo que já estava laçado em seu domínio. Tornava-se excepcionalmente impiedosa.
— A dona 'tá com raiva, 'tá? Pois é bom que esteja mesmo, quanto mais furiosa melhor. — A afirmação final foi recebida por sobrancelhas arqueadas.
Simone Tebet se mostrava um arquétipo magistral: senhora de si, mandante do ímpeto alheio e, apesar do jejum imposto em um automartírio desgraçado, sua predominância nunca esteve comprometida, só tinha caído em desuso.
As articulações que porventura estivessem enferrujadas, iriam encontrar a lubrificação celeste bem no meio da dádiva que lhe foi entregue.
Nem tudo é virtude, alguns comportamentos não passam de uma mera ilusão. A fachada que esconde a artimanha do profano.
Levou os lábios até o ouvido da mais nova, se inclinando sobre a mesma, para que pudesse sussurrar uma perversão:
— Você, forasteira, não sabe o que é melhor, está a mercê de toda e qualquer tentação. — Sua voz incitava uma reação química.
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A Promessa da Viúva [Simone x Soraya]
FanficSimone Tebet é a viúva que todo peão pediu a Deus. A mulher é altiva, decente e dona de uma beleza atemporal. Justamente por isso, abomina qualquer investida que lhe direcionam: não vai colocar sua reputação a perder por tão pouco. Mas, quando uma...