Quando o carro da viúva era avistado no centro da cidade, era sempre motivo de celebração. Alguns homens estufavam o peito, beijavam seus rosários e pediam aos seus respectivos santos padroeiros para conceder a benção de serem notados.
- Lá vem vindo. Hoje é a vez de quem se oferecer pra ajudar a carregar as compras?
De acordo com Fábricio a vez era dele, mas Rogério discordava.
- A vez é minha, na semana passada eu 'tava acamado.
- E o que eu tenho a ver com isso? - Fabrício se zangou.
- Deixe disso homem de Deus. Ela nunca nem olhou pra você.
- Falando assim até parece que ela simpatiza com as suas fuça.
A desavença teve fim quando Simone desceu do carro e a porta do passageiro se abriu revelando um rosto desconhecido por todos ali presentes. Quem era a loirinha que acompanhava a morena?
- Dia, Sra. Tebet. - Tião se adiantou.
A mulher sorriu brevemente, dando a volta no veículo e se aproximando da mais baixa, que olhava com desconfiança para o grupo de homens que havia se aproximado.
- Você tem algum conhecido aqui? Esses daí ladram alto, mas não mordem. - Ela tentava tranquilizá-la.
- Tenho não. É sempre assim? Eles parecem que estão a ponto de babar na senhora. - Soraya sussurrou baixinho.
A verdade verdadeira é que Simone Tebet não sabia reagir a constatação do efeito que causava. Ela costumava dar de ombros como se não entendesse de onde surgia aquela impressão. "Besteira desse povo!" era como costumava definir. Se precisasse elaborar, acrescentaria apenas que "Tem gente que só quer justo aquilo que não pode ter."
- A dona é uma espécie de santa? Faz milagres? Num me diga que é prefeita? Eu detesto político, nem pense em se gabar na sua campanha que ajuda donzelas indefesas na estrada que eu desminto a senhora, viu? Nego de pé junto. - A forasteira desembestou a falar e Simone teve dificuldade em acompanhar o tanto de suposições absurdas que saiam da sua boca por segundo.
- Você tem algum botão de liga e desliga? - Perguntou olhando de um lado e do outro da cabeça de Soraya como se buscasse um interruptor.
Para a plateia que assistia aquela interação a certa distância, entreouvindo palavras soltas e repassando em um telefone sem fio, o mexerico estava feito: Simone Tebet queria se candidatar a prefeitura de Boiadeiros. Muitos até começaram a declarar seus votos aos cochichos.
Percebendo o zunzunzum que se formava, mas sem se ater ao motivo, a viúva agarrou o braço da forasteira e a puxou dali, parando apenas quando as duas estavam diante da fonte na praça.
Soraya, contabilizou sem saber porque, que aquela era a segunda vez que a morena lhe segurava. Seu toque era firme, conduzia sem esperar permissão, como se dissesse "Eu sei o que é melhor!" e a loira também não entendeu a razão de ter imaginado isso sendo dito tão perto do seu ouvido. Poderia ter se desvencilhado, mas não o fez.
Tebet percebeu que a sua mão esquerda havia se apossado do antebraço da mais nova com muito mais naturalidade do que ela pretendia. Encerrou o contato e as mãos incertas foram até o chapéu, levantando apenas o suficiente para que pudesse jogar os cabelos para trás, antes de reposicioná-lo.
- Então o botão fica no seu braço? Eu estava procurando no lugar errado. - A mais velha tentou brincar.
- Não. E nem posso garantir que existe. Mas... - Soraya se aproximou como se fosse contar um segredo. - se existir mesmo, você não acha que estaria em um lugar de tão fácil acesso, num é?
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A Promessa da Viúva [Simone x Soraya]
FanficSimone Tebet é a viúva que todo peão pediu a Deus. A mulher é altiva, decente e dona de uma beleza atemporal. Justamente por isso, abomina qualquer investida que lhe direcionam: não vai colocar sua reputação a perder por tão pouco. Mas, quando uma...