Na aflição da despedida, diante da porta do quarto, ao qual Simone fez questão de acompanhá-la, restava puramente um temor:
- Você vai continuar me querendo assim quando amanhecer? - O mirante que mais parecia uma estrela guia, fez constelação nas orbes escurecidas que ainda conservavam os vestígios de excitação.
Diante daquela interrogação nociva, a viúva compreendeu que a forasteira carecia de segurança. Era preciso reafirmar até mesmo o tesão.
Inclinou-se sobre a loira, tendo a delicadeza de levar os lábios desejosos até a bochecha esquerda em um contato delicado. Fez o mesmo do lado direito. Por fim, beijou-lhe a têmpora e se demorou ali, levando a canhota até o meio de suas costas para assim acolhê-la em um abraço. Quando voltou a fitá-la, a resposta estava pronta, como há muito se sabia:
- Não. - Observou a mulher titubear. - E tem algo que você precisa saber. Um fato inerente: num existe isso de não lhe querer, depois de possuir qualquer pedacinho seu, a esperança é ter sempre mais. - "E você se engana ao acreditar que eu esteja falando apenas do seu corpo." Tebet confabulou em particular. - Então não, Soraya, não será da mesma forma. Vou te esperar com uma vontade renovada, como tem sido desde que você chegou. Tudo novo. De novo.
Existe uma infinidade de jeitos para acontecer. Por vezes é preciso repetir os dizeres, lembrar quem aumenta o tamanho do seu mundo. No fim, resistirá a máxima da vida: enquanto houver tempo, é tempo.
⊰✵⊱
A mais nova teve uma madrugada inquieta. Sentia-se em um estado de semi-consciência. Despertava para validar que as horas anteriores haviam realmente transcorrido. Não foi um sonho. Simone Tebet era sacana, mas também conseguia ser adorável, cuidadosa e ia foder com ela. No sentido literal. Plenamente. Melhor que isso, só dois disso. Ansiedade era boia naquele mar repleto de ondas de antecipação. Uma mais violenta que a outra.
Minutos decorreram em horas, que se estilhaçaram em milésimos de segundos e, porque o cérebro humano é uma caixinha de surpresas, Soraya Vieira acabou sendo vencida pelo cansaço, o que geralmente acontece quando falta menos de 1h pra você acordar. O sono mais irresistível é justo aquele que você não pode dormir.
Se sentou num sobressaltado. Verificando as redondezas do cômodo que dividia para constatar que não havia nem sinal das Marias. Uma sensação de déjà-vu pareceu inflar os seus ânimos. Levantou com a certeza de que estava terrivelmente atrasada.
- Merda! Merda! Merda! - Vociferou triplamente.
Trajando seu pijama de campanha eleitoral velho de guerra, marchou até a cozinha.
- Filó! - Chamou antes mesmo de avistá-la, apenas por sentir o cheiro delicioso que inundava o corredor. - Que horas são?
- Ih, filha, 'tá se sentindo bem? A Sisa me avisou que 'cê chegou da festinha baqueada, disse que num era pra lhe acordar por nada, já passam das duas da tarde. - A idosa desviou a atenção da panela a sua frente para vistoriar a jovem.
- E onde é que ela 'tá? - Perguntou rápido demais, quase atropelando as locuções.
- Foram ver o anúncio oficial da próxima vaquejada. É quando ficam sabendo as cidades vizinhas que vão participar e as premiações disponíveis. Toda vida é esse furdunço.
Uma névoa ameaçadora pairou acima da cabeça da jovem. A anciã percebeu que ela pareceu mirrada, encolhida próxima ao armário de utensílios.
- 'Cê num perdeu foi nada, menina. Isso é uma tradição besta, só presta pro povo se embriagar e fazer aposta.
![](https://img.wattpad.com/cover/335224947-288-k588309.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Promessa da Viúva [Simone x Soraya]
FanficSimone Tebet é a viúva que todo peão pediu a Deus. A mulher é altiva, decente e dona de uma beleza atemporal. Justamente por isso, abomina qualquer investida que lhe direcionam: não vai colocar sua reputação a perder por tão pouco. Mas, quando uma...