O garoto deixado de fora (última parte)

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“Voltei, Shibusawa.” Dizia tentando esquecer a minha conversa com Nikolai.

  “Foi uma conversa rápida. As coisas pareciam meio tensas vistas de longe.” O de longos cabelos brancos comentou enquanto costurava algumas partes do vestido.

  “Impressão sua.” Me aproximei dele e comecei a alongar os braços e mãos. “Como você acha que eu devo te ajudar? Você parece estar fazendo tudo bem certinho, do jeito que eu estava imaginando.”

  “Sigma, não precisa se preocupar em me ajudar. Está tudo sob controle.”

  “Tem certeza?”

  "Sim. Mesmo que a parte mais difícil seja a da costura, você se esforçou muito no desenho e o Ranpo nos ajudou também. Se eu não fizer grande coisa aqui, vou me sentir mal.”

  “É você quem sabe, Shibusawa. Ainda vou estar a disposição caso você precise de algo mesmo assim, certo?”

  “Certo.”

  Sorri pra ele, que parecia focado no que estava fazendo. Era muito legal a forma como ele estava lidando com a sua função de um jeito tão organizado e cuidadoso.

  Ele passava um ar muito elegante, seu perfume era tão cheiroso, seus cabelos eram longos assim como os meus, e ele nunca pareceu ligar para opiniões alheias.

  Me deitei na grama entediado e fiquei encarando o céu enquanto respirava fundo algumas vezes. A conversa que tive com o Nikolai não foi muito fácil pra mim e, por isso, não parava de passar pela minha mente.

  “Tem uma coisa que está me incomodando, Sigma.” Shibusawa quebrou o curto período de silêncio rapidamente, me assustando. Então eu o encarei surpreso antes de perguntá-lo: “O que seria essa coisa?”

  “Você tá me parecendo muito tranquilo, mesmo depois daquilo com o Mori...” Ele parou de costurar e continuou falando, me olhando. “Eu sei, quando o Ranpo estava acordado você realmente precisava fingir, mas agora que ele está dormindo, você sabe que não precisa e mesmo assim age como se nada estivesse acontecendo. Não aproveitou nem um minuto para tocar no assunto de novo.”

  “Achei que fosse te incomodar com isso.”

  “Você é tão atencioso ao ponto de evitar tocar em um assunto sobre alguma situação em que você se pôs em perigo por minha culpa? Você realmente não vê necessidade em cobrar satisfações minhas sobre isso, simplesmente porquê não quer me incomodar!?”

  “É, é isso.”

  “Não, não é isso.”

  Me levantei e andei na direção dele. “Shibusawa, escute...”

  “Me escute antes.”

  “...”

  “Durante esse pouco tempo que nós andamos juntos, sempre toquei sobre assuntos que envolviam seus amigos, principalmente o Nikolai, porque era forçado pelo Mori a fazer isso. No entanto, eu nunca consegui uma única fonte de informações vindas de você, já que você nunca pareceu preocupado com eles ao ponto de tentar se aproximar, conversar com cada um e perguntar sobre o que eles passavam.”

  “Ninguém é confiável mesmo.” Ri sarcástico. “Ainda bem que eu não fiz isso, então. Pensei que você quisesse ser um amigo legal pra mim, mas fiz certo em não tentar nem sequer desabafar com você, principalmente sobre os problemas dos outros que eu nem quis me intrometer.”

  Ele se aproximou de mim, parecendo triste. “Não é nisso que eu quero chegar...”

  ”Então onde é que você quer chegar? Olha, Shibusawa, eu não consigo tocar nesse assunto agora. Eu tô cheio de pensamentos e dúvidas sobre muitas coisas diferentes, são muitas informações pra minha cabeça! Vamos separar o resto da tarde só para essa brincadeira de costura, certo? Hoje a noite a gente pode conversar melhor. Talvez eu fique mais relaxado daqui pra lá.”

A Arte na Moda - FyolaiOnde histórias criam vida. Descubra agora