Sonhos de outrora.

167 12 23
                                    

O tempo estava calmo, a brisa era gélida e com ela o cheiro de chuva era espalhado por todo o jardim. Cheiro de chuva....O cheiro que lembrava a cor acinzentada da fumaça de minha cidade natal. Esse cheiro me lembra de muitas coisas, minha cama, meus livros e as rosas... Ah as rosas. Sempre amei o cheiro das rosas que ocupavam a maior parte do Jardim. Elas eram tão vermelhas quanto sangue, tão vermelhas quanto o tapete que forrava o chão abaixo dos móveis da biblioteca e tão vermelhas quanto os cabelos de minha irmã...

Sabe, eu estou acostumada a acordar com calafrios por todos os cantos de meu corpo. Sempre após pesadelos e sonhos conflitantes, sempre com o coração acelerado e com uma bolsa de suor se espalhando pelo meu corpo.

E acredite...

Isso era para ser um pequeno conhecimento prévio sobre como me sinto e como são meus dias, mas acho que não sou boa com isso e com qualquer outra forma de me expressar. Tenho que acordar cedo para ir a escola e sobreviver a mais um dia... Bom, não que a escola seja ruim, ela até que é boa para pessoas que viviam em condições parecidas com a minha. Embora seja um colégio interno ocupado por arruaceiros que usam roupas de marca e patricinhas que mal sabem escrever uma carta, o colégio Samuel Rivers localizado em Piltover é um bom lugar para gênios em ascensão. Comparada a minha antiga cidade... Piltover é uma benção, Zaun é uma cidade pouco evoluída economicamente mas extremamente avançada em genialidade, além de ser um lugar extremamente preocupante... Feito para pessoas desaventuradas e de segundas intenções. É uma pequena encarnação do ódio Americano. Lembro que as toxinas que saiam do sumidouro cobriam a cidade com uma névoa esverdeada ou acinzentada, não era possível respirar quando os vazamentos escapuliam pelas vielas e eramos obrigados a ir a uma colina acima do rio dos mercadores e ficar lá até o cinza sumir. Era ruim, as condições eram péssimas mas ainda era a minha casa. Uma casa bem podre... Acho que respirar tudo isso me deixou biruta.

Acho que isso foi uma apresentação bem bosta já que não falei absolutamente nada pessoal sobre mim e acredito que agora é um bom momento para falar sobre isso... Meu nome é Powder Warwick, tenho 15 anos e moro com minha irmã mais velha e meu pai adotivo em uma rua qualquer de Piltover, a Cidade do Progresso. Minha irmã é do tipo super protetora e nunca deixa que mexam comigo... Não importa quem seja. Sobre isso, existe algo que me esqueci de mencionar, temos 3 irmãos de consideração... Ekko, Claggor e Mylo. Ekko é pouco mais velho do que eu, sendo apenas 5 meses de diferença entre nós. Claggor e Mylo tem a mesma idade, sendo um ano mais novos do que minha irmã e um ano mais velhos do que eu... É triste ser a mais nova. Minha relação com eles é boa, no geral, porém Mylo é uma pequena irritação que aparece em minha vida a cada 2 meses... Ele tirou a vida para ficar no meu pé e nunca para de me irritar se uma de minhas invenções não derem certo - Sim eu sou uma aspirante a inventora - e por conta disso fica me chamando de um nome que remete a maldição, um nome sujo, que tem a personificação do significado azar, aquele magricela maldito sempre me chama de Jinx se algo der errado, mesmo se eu estiver ausente na situação em questão. Mylo é o pior irmão que alguém EM SÃ CONSCIÊNCIA teria. Mas enfim, acho que já acabei de me apresentar (talvez eu me lembre de alguma coisa futuramente) e acredito que eu esteja atrasada para meu fatídico dia de aula. Logo arrumo todas as minhas coisas até perceber que algo muito importante está faltando em minha prateleira.

- VIOLET - Grito da porta de meu quarto. - ONDE ESTÃO AS MINHAS TINTAS... - Grito com um leve tom raivoso para que ela entenda o recado.

- E EU VOU LÁ SABER? ELAS SÃO SUAS MAGRELA. - Ela gritou de volta... Se não foi ela quem... Ah porra.

- JUDE, ONDE ESTÃO AS MINHAS TINTAS? - Pergunto para minha gata, ela adora derruba-las de cima da prateleira. - ME MOSTRA SUA PESTINHA OU VAI FICAR SEM SUSHIIII!!! - Vi a gata de cor acinzentada e olhos cor de mel correr para fora do quarto. Eu nunca cumpria minhas promessas de a deixar sem comida... Eh sou mole com animais...
Jude tinha a terrível mania de morder meus pincéis e rasgar minhas telas... Como uma gatinha filhote pode causar tantos problemas?

Agora eu estava no pé da escada, talvez analisando o caminho que Jude percorreu por causa de suas patinhas sujas COM MINHA TINTA VERMELHA QUE DEMOROU HORAS PARA FAZER!. Agora estava a frente da mesa, vejo que meu pai comprou cereal... Beleza, isso é a cara da minha irmã.

- Vai querer com leite ou sem? - Violet apareceu de supetão atrás de mim e não pude evitar o gritinho assustado que deixou minha garganta, fazendo com que minha irmã tivesse um pequeno ataque de riso.

- Nossa hahahaha Eu sou tão assustadora assim? Haha - Violet disse enquanto limpava uma pequena lágrima de seu rosto... Isso por que ela nem riu tanto.

- Você aparece do nada nos lugares e quer que eu não me assuste? Cacete. - Digo com minha mão esquerda sobre o peito para controlar minha respiração.

- Ah tá haha... Você não respondeu. Com leito ou sem?

- O de sempre.

- Oh, agora isso é um bar? - Disse indo para trás do pequeno balcão que separava a cozinha da sala com o pano de prato sobre o ombro.

- Então o que vai ser senhora? Bolinhas ou coloridinhos? Haha - Disse em uma tentativa falha de imitar a voz de nosso pai, que por sinal trabalhava em um bar, O Última Gota.

- Ambos por favor haha

Logo que puchei uma cadeira para me sentar me deparo com a tv ligada, onde passava um desenho bem antigo que me lembro de assistir com Violet na nossa antiga casa, Coragem o cão covarde... A quanto tempo ela estava ligada? Saio de meus pequenos devaneios ao perceber Violet colocando leito em meu prato.

- Aqui está senhora, seu pedido. - Disse fazendo beicinho.

- Obrigada, Pinkpie hahaha - Digo enquanto dou uma leve bagunçada em sua franja rosada.

- Você sabe que odeio esse apelido pirralha haha.

- Vem cá, desde quando c ligou a tv? - Perguntei expressando real curiosidade.

- Não fui eu... Deve ter sido o Vander. - Disse dando de ombros.

- Por qual razão a senhorita não o chama de pai? - Digo imitando uma dondoca fina.

- Você sabe o que penso sobre isso. É estranho, como se...

- Estivesse traindo nossos pais? - A interrompo já sabendo de sua resposta.

Ouve uma pausa, somente o som da televisão era ouvido.

- Vai, come logo, ou nós vamos nos atrasar.

- Você não vai comer? - Perguntei me levantando para levar o prato a pia.

- Eu vou almoçar na escola...

- Você quase nunca faz isso.

- E você só come porcarias mocinha. - Disse afundando a ponta de seu dedo indicador direito na pontinha de meu nariz.

- Vamo, a louça é sua magrela haha - Disse pegando sua bolça que estava jogada próxima ao canto da pia e desligando a tv.

- Eu lavo quando a gente voltar, o pai ainda vai estar no trabalho. - Digo pegando minha bolsa para acompanha-la.

- Achou a Jude?

- Não, você me assustou antes que eu pudesse fazer isso.

- Para, foi só um sustinho. - Disse a rosada com um sorriso presunçoso em seus lábios.

- Vamo, o ônibus tá chegando... Milagre a gente chegar na hora. - Digo olhando para o ponto que estava praticamente vazio.

Logo pagamos as passagens e vamos para nosso lugares, eu estava até que curtindo o silêncio, até que minha irmã o quebrou.

- Você acordou gritando hoje a noite. Foi outro pesadelo? - Perguntou enfiando uma barrinha de cereal em sua boca. Da onde ela tirou isso?

- O mesmo de sempre. As vezes eu penso que... A mamãe é a mulher que me observa neles, sabe? Eu não me lembro do rosto dela mas... Sinto algo acolhedor vindo dela, algo que não sei explicar o que é...

- Sabe Powder, eu também não me lembro do rosto dela. Mas acredito que onde quer que ela esteja... Está olhando por nós. Mas não acho que seja através de pesadelos maninha. - Finalizou me olhando com aquela mesma carinha de quem colou chiclete na cabeça de uma criança sem querer querendo.

- É, acho que ce tá certa. - Disse por fim relaxando minha cabeça no vidro da janela e deixando que minha mente começasse a vagar para onde ela quisesse.

 Dark Academia of Arcane Onde histórias criam vida. Descubra agora