14 - Apenas sinta

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_ Essa lição é a mais delicada, e a que precisa de mais tempo para aperfeiçoar. - Tsireya começa a falar quando todos terminam de se reunir. Presto bastante atenção. - Isso significa que mesmo quando não estiverem mais com a gente, vocês tem que continuar praticando, principalmente no mar e com os Ilus. Entenderam? - Assentimos prontamente. - Perfeito. A tarefa de hoje, para os que não sabem ainda, será feita a cerca da respiração. Vamos ensinar a vocês a forma correta de armazenar ar e como ter mais controle debaixo d'água. - Sorri ao olhar para cada um de nós. - Agora vamos nos separar. Qualquer dúvida, perguntem. Não sintam vergonha e boa sorte.

_ Vamos. - Aonung me pede para segui-lo quando todos começam a ir para um lado diferente. Nos subimos em uma grande rocha no meio da água. Dali dava para ver perfeitamente os outros, já começando o treino com certo entusiasmo. Perco alguns segundos admirando a vista magnífica. Não se compara a floresta, mas acho que estou começando a gostar do lugar. Me sento de frente para ele, com pernas de índio, imitando sua postura.

_ Certo, e agora? - Pergunto depois de alguns minutos em silêncio. Ele não parava de me encarar, e isso já estava me deixando um pouco nervoso, para não dizer desconfortável. Se eu não tivesse sido um escroto na noite passada, essa situação não estaria tão ruim agora. Bom, poderia ser pior. Ele poderia querer conversar sobre aquilo nesse momento, e isso atrapalharia minha evolução nas atividades. Não é o que eu quero. - O que eu devo fazer?

_ Okay. - Se endireita, assumindo uma postura mais profissional. Ele sabe mesmo separar o pessoal do que se designa ser seu dever. - A respiração é bem delicada, como você pode perceber, e acaba sendo uma tarefa um pouco complicada para os que não nasceram aqui. - Concordo. Como ele disse, eu notei isso ao não conseguir ficar um minuto sequer debaixo d'água na exploração anterior. - Você tem que começar inspirando profundamente. - Demonstra como devo fazer. - Só que ao invés de levar o ar para os pulmões, como normalmente se faz, você precisa armazenar ele bem aqui. - Espalma a mão na própria barriga. - Veja. Apenas sinta isso. - Pega uma de minhas mãos, a colocando debaixo da sua. Sinto seu estômago expandir no momento em que ele inspira profundamente.

_ Uau! - Exclamo animado e um pouco chocado. Tenho certeza que meus olhos estão brilhando em sua direção. - Que maneiro, cara. - Ele retribui meu sorriso de forma sincera. 

_ Sua vez. - Fala apontando para mim.

Fico um pouco nervoso quando ele põe a mão em minha barriga, me fazendo arrepiar pelo contato repentino de sua mão gelada com minha pele quente. Não é nada de mais, apenas me pegou de surpresa. Eu acho.

_ Pra que isso? - Pergunto quando ele espalma a outra em meu peito, me arrepiando ainda mais. Agora eu estou um pouco nervoso. Respiro fundo para evitar que minhas bochechas fiquem rubras. Qual é... não é pra tanto, Neteyam.

_ Para monitorar seus batimentos cardíacos. - Responde conciso. - Eles precisam estar lentos e estáveis para funcionar. - Explica de maneira suave. - E, olha só, não estão. - Me encara debochado. - Você tem que aprender a controlar.

_ Você não colocou minha mão em você desta forma. - Fico nervoso, tentando fugir do assunto. É claro que meu coração tá rápido, ele me pegou desprevenido. - E como assim, "controlar"? Tem como controlar esse tipo de reação? - Ele se afasta bufando e recoloca minhas mãos em seu coração e estômago.

_ Está acelerado. - Constato direto e o vejo corar sob meu olhar julgador. - Como quer que eu siga o que faça se nem mesmo consegue o fazer?

_ Shi, eu sei. - Fecha os olhos, parecendo se concentrar em tudo, menos em mim. - Eu fiz muito esforço hoje pela manhã, por isso ele está desse jeito. E você questiona demais. Deveria apenas seguir o que eu falo. - Faz um biquinho chateado. É um pouco fofo. Mordo meu lábio inferior para não sorrir. - Espere um pouco e verá. - Ele faz o exercício de respiração, inspirando e expirando, e seus batimentos vão diminuindo o ritmo gradativamente. Impressionante. Parece que ele tem um controle absoluto sobre seu corpo. Eu o invejo um pouco.

Destinados - Neteyam x AonungOnde histórias criam vida. Descubra agora