16 - Eu não vou voltar atrás

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Neteyam Pov

Estou um pouco receoso de estar sendo intrometido demais, mas minha curiosidade falou mais alto. Ela sempre fala. Além do mais, ele parece ter bastante experiência, nada mais justo me contar um pouco sobre elas. Não faz mal compartilhar o que sabe, principalmente quando quer ter algo comigo.

_ Claro que sim. - Sorri forçadamente, parecendo se lembrar de uma situação em específico. - Eu fiquei com umas garotas, mas a que mais me marcou foi a Anya. - Responde, desviando o olhar para o céu azulado. - Ela é a menina que ajuda nos artesanatos. Vocês irão conhecê-la em breve. - Me encara com um singelo sorriso. - Ansioso para aprender a fazer colares e braceletes, menino do mato?

_ Você está fugindo do assunto. - Acuso franzindo o cenho. Ele suspira, parecendo relutante. - Você não confia em mim o suficiente para me contar?

_ Não foi uma época legal, Neteyam. - Olha para o céu novamente. Ele parece não ter coragem de revelar as coisas pelas quais passou olhando nos meus olhos. Deve ter sido algo complicado. - Eu me aproximei dela porque o meu pai me pediu. E não foi de uma maneira gentil. Você já deve imaginar. - Murmura. - Quando ele "pediu" para que eu me aproximasse dela, eu já sabia quais eram suas intenções por trás, mas eu estava cansado de lutar contra. - Isso soa tão familiar. - Cansado de brigar, cansado de tentar fazê-lo entender que eu queria ter minhas próprias escolhas. Eu queria ser feliz da minha própria maneira. - Sua voz soa tão triste, tão quebrada. - Eu quem deveria fazer meu destino.

_ O que aconteceu? - Sussurro, o incentivando a continuar. Em um ato de coragem e empatia, entrelaço nossas mãos. Vejo um pequeno e rápido sorriso aparecer em seus lábios.

_ Eu sabia que ele estava desconfiado sobre mim, afinal, as pessoas falam e as coisas chegam em seus ouvidos quase que imediatamente. - Engole em seco, descontente. - Então apenas quis fazer seus olhares julgadores pararem. Eu faria qualquer coisa para evitar aquele tipo de olhar, porque eu me sentia um inútil. Eu me sinto um inútil toda vez que o recebo. - Sussurra. Eu não deveria me identificar tanto com o que ele está relatando, mas parece que nossos pais nos tratam de jeitos parecidos. - Eu fiz o que ele pediu porque eu achei que seria fácil. Afinal, o que poderia dar errado em apenas conversar com ela? Eu pensava que nada, mas estava totalmente equivocado. - Me olha. - Eu estava iludido porque, depois que os dias foram se passando, foi ficando cada vez mais sufocante ficar no mesmo ambiente que aquela menina e ainda por cima ter que cortejá-la contra minha vontade. - Sua voz saí estranha, embargada. Sinto meu coração doer. - Não me entenda mal, a Anya é uma das metkayinas mais bonitas que eu já vi, mas não faz meu estilo em nada. Ser fisicamente atraente não significa nada para mim, principalmente quando a pessoa tem um caráter tão podre e cruel.

_ E o que aconteceu depois? - Fico curioso.

_ Em um belo dia de sol, a gente se beijou. - Sua voz não passa de um sussurro. - Ou, melhor dizendo, ela me beijou. E eu me senti tão mal psicologicamente que simplesmente desabei na frente dela. Eu chorei, Neteyam. Chorei porque foi naquele momento que eu tive certeza que não poderia dar herdeiros para o clã, como meu pai almeja. Porque eu sabia que jamais conseguiria gostar de uma menina a esse ponto.

_ Acredito que ela tenha compreendido. - Olho para nossos dedos, acariciando suas juntas com meu polegar, tentado deixá-lo um pouco mais relaxado. - Já que aqui a homossexualidade é aceita, certo?

_ Na verdade não. - Ri em escárnio, parecendo magoado. - Ela agiu que nem você. - Meu coração pesa. - Me encarou com repulsa, gritou comigo, me insultou e disse que eu tinha feito ela acreditar que poderia ser a futura Tsahik do clã. - Revira os olhos. - Ela disse que me faria pagar. E ela fez mesmo. Uns dias depois, ela espalhou um rumor na vila. Ela é insana.

Destinados - Neteyam x AonungOnde histórias criam vida. Descubra agora