Steamboy(s)- GHOST- NOTO

02

Eu estava tão animado e ansioso com o almoço que mal consegui dormir e quando acordei, meu quarto parecia uma sauna de tanto vapor que eu soltara pela madrugada. Parando para pensar agora, eu não sabia o que havia dado em mim, eu nunca havia saído com um humano, nem aqui, nem lá! Eu conversava, trocava umas ideias superficiais, flertava por diversão, mas nunca passava disso, nunca passavam de uns minutos de tempo vago, nunca deixava que fosse para frente, nunca tive interesse, essa seria a primeira vez que eu de fato iria interagir com um e ainda em um encontro. Eu não sabia explicar o que me atraiu nele, mas eu torcia muito para que ele fosse, de verdade!

Ao levantar, virei a ampulheta que Swiss havia me dado, quando a areia acabasse, eu voltava para casa e por isso eu sempre precisava virá-la antes se quisesse me manter ali naquele momento. Tomei um banho quente, enquanto revivia as músicas do show da noite anterior, que ainda estava tão vívido em minha mente. Minha voz estava rouca e minha garganta doía levemente, mas isso só me lembrava o quanto eu havia curtido! Ao sair, evaporei toda água do meu corpo e, ainda despido, voltei ao quarto e virei toda minha mochila de roupas sobre a cama e com as mãos na cintura, tentei imaginar o que seria adequado para a ocasião. Algo mais formal? Não, era só um encontro de amigos que ainda não se conheciam, talvez algo mais festivo? Sequer havia trazido algo assim e seria extravagante demais. Não queria vestir qualquer coisa, queria sentir-me especialmente bonito e acabei por decidir usar um conjunto de vestes azul escuro, parecia sóbrio e elegante, ao mesmo tempo que despojado, com uma camisa de manga longa com flores bordadas no punho, calças em um tom de azul mais fechado. Encarei as roupas montadas na cama, dando-me por satisfeito com o resultado obtido. Antes de me vestir, encarei meu corpo no espelho, era diferente das pessoas daqui e não gostava de ter que esconder isso, mas regras eram regras. Amava minhas orelhas pontudas sempre adornadas com pequenas argolas, meus olhos prateados com cílios brancos, minha pele que parecia se dissolver e meus chifres azulados, além do meu corpo como um todo, que, se visto rápido, poderia parecer humano, mas alguns minutos de atenção iriam provar que não era, estava longe de ser, sua forma, seus músculos, tudo caracterizava bem quem eu era, minha beleza, minha personalidade, minha função. Humanos eram estranhos, mas ainda assim infinitamente interessantes, isso eu não podia negar e mesmo contrariado, tomei uma pequena cápsula que as bruxas haviam feito especialmente para mim, que mudava meu corpo lentamente, me tornavam por algumas horas tão...comum. Mas meus chifres permaneciam, eu não abriria mão deles, meu orgulho era maior que qualquer diversão. E se tinha algo que eu era, era orgulhoso. Eu era filho direto de dois Ghouls Elementais!

Olhei o relógio, ainda era cedo, mas já vesti minhas roupas, arrumei meus cabelos em um coque firme no alto da cabeça, revelando as laterais raspadas e já sai pronto para tarde, pois não tinha intenção de retornar para aquele quarto de hotel antes do almoço. Eu era independente desde muito cedo, mas não podia negar que queria o conselho dos meus pais agora, a ansiedade começava a se tornar nervosismo e um carinho deles sempre me acalmava. Pai Rain sempre sabia o que dizer e Pai Sodo fazia com que eu me sentisse protegido. Caramba, eu era Steam, o Espírito do Vapor! Como eu poderia estar nervoso para sair com um humano?? Um humano bonito, legal, charmoso, que fazia parte da melhor banda dos universos, que tinha algo inexplicável em seu cerne, ou coração, como eles chamavam, mas ainda era humano. Vamos, Noto, era hora de colocar essa cabeça com chifres no lugar!

As horas pareceram se arrastar lentamente naquela manhã e se esse mundo possuísse uma entidade Tempo, eu diria que estava brincando comigo, me provocando e antes que me desse conta, meus pés já haviam me levado para o shopping mais cedo do que eu gostaria. Eu ainda não havia tomado café da manhã, então decidi comprar um lanche qualquer e um belo copo de suco, que com certeza eu compraria de novo no almoço, mesmo que as frutas daqui não tivessem um sabor tão bom quanto as de casa. Me sentei em um banco e fiquei observando as pessoas que por ali passavam, acho que eu nunca iria me acostumar a elas, a esse mundo tão caótico. Eu não vinha para cá a tanto tempo, poucos meses, onde conheci o Ghost e voltei para mais alguns shows consecutivos, eu ainda tinha muito para me habituar, a entender, como um mundo só de humanos era capaz de sobreviver tão...bem? Não sei se eu conhecia o suficiente para dizer que estavam bem, mas pareciam estar dando um jeito, de qualquer forma. "Em todos os universos eles sempre dão um jeito", me disse Versas, filha de Aether, uma vez.