Steamboy(s)- GHOST- NOTO

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Comecei a organizar minhas poucas roupas sobre a cama, por um momento, pensei em deixá-las aqui, já que elas não teriam utilidade quando voltasse para casa, mas muitas haviam sido presentes e outras faziam parte da minha experiência de tentar entender minha personalidade além do Vapor, então as levaria como boas lembranças afetivas da minha última passagem por esse mundo. Eu já havia vestido as vestes com as quais havia vindo naquela fatidica madrugada, trajado mais uma vez de negro e azul, reforçando qual era meu real lugar, para onde eu deveria retornar. Eu me sentia a mais inocente e ignorante das criaturas. Um humano? Sério? Era a primeira coisa que nós aprendíamos, nunca nos misturar com eles, nunca nos aproximar, a própria revolta era uma prova concreta disso, nós nunca daríamos certo, humanos eram caóticos demais para mim e eu era incompreensível demais para eles. Era como deveria ser e eu fui tolo por tentar ir contra isso, ir contra a maré, acreditar que aquele rapaz era diferente dos demais. Ele não era, jamais seria.

Parecia que esse era um dia especial para que todos quisessem adentrar meus aposentos, pois mais uma vez ouvi as batidas na porta e apenas fui à ela para caso fosse a senhora Camille, a quem eu não queria ofender de forma alguma, já que ela havia sido maravilhosa comigo em todos os nossos momentos e não havia motivos para grosseria para com ela.

Mas para minha infelicidade, era a última pessoa que eu gostaria de ver.

-Posso ajudar? -perguntei sério olhando para aquele loiro, que trazia um cupcake nas mãos.

-Noto... posso entrar? 

Theo não podia estar falando sério, não depois de tudo o que ele havia me dito, não era sua voz mansa e seus olhinhos brilhantes que iriam me desestabilizar, eu estava certo de minha decisão afinal.

-Por favor, eu preciso conversar com você! 

-Acho que já conversamos tudo o que tínhamos para conversar, ou ainda ficou mais alguma coisa para você jogar na minha cara?- o desafiei irritado- Ah, agora que você está sozinho novamente, lembrou de mim é? Pois agora, Theo, fique sozinho você!

Eu não era obrigado a apenas abaixar minha cabeça e aceitar, eu não era um brinquedo dele. Eu não era um passatempo, eu tinha brio.

-Eu sei que eu agi da pior maneira possível, meu floquinho! - ele começou e eu queria não me balançar ao ser chamado daquela forma, mas foi instantâneo e precisei me controlar- E fui o pior amigo que poderia existir e tudo o que eu te falei foi injusto e cruel! Nada daquilo é verdade, afinal, e eu estava tão irritado que acabei descontando em você, que não mereceu! E eu nem sei o motivo que me levou a ficar naquele estado, Noto, me desculpa! Sei que não mereço seu perdão. Você merece ser tratado com todo o amor e carinho, completamente o oposto do que aconteceu. Eu não te mereço, Noto, e sinto muito por ter te ofendido e gritado com você! 

Um rastro salino correu por sua bochecha rosada, mas eu me mantive firme, mesmo com meu cerne se jogando contra meu peito, querendo ir ao seu encontro, especialmente quando ele me entregou aquele doce, tão singelo, tão cândido, de forma tão sentida.

-Noto... você é o meu único príncipe! O único e real, e sim, você é muito importante, você é especial, faz parte da minha vida e sempre fará! Eu não quero te perder por uma burrice minha!  

Eu o encarei, finalmente soltando a porta que ainda segurava e me encostando no batente, cansado.

-Eu estou indo embora, Theo! Não espere que eu volte algum dia, minha missão aqui aparentemente já acabou. 

Era isso, tão simples quanto começou, era o fim. Um momento, uma atitude, uma decisão, tudo se resumia apenas a isso, sem mais complicações.

-Sabe, Noto... -disse ele tão baixo que eu precisei me aproximar para ouvi-lo- eu não sei o que levou nossos caminhos a se cruzarem, não sei o que te levou a gostar de mim, a confiar em mim... e... a se importar comigo... mas... eu sei dos motivos que me fazem te considerar uma das pessoas mais importantes da minha vida, sei que você sempre estará em meu coração, mesmo que eu tenha estragado tudo!