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No fim, eu levei mais do que um dia para poder resolver esse problema e uma semana depois, lá estava eu, antes mesmo dos Senhores da Casa terem levantado-se, vasculhando as prateleiras da cozinha. Eu poderia pedir ajuda de algum espírito dali, mas não queria dar pista do que eu faria a ninguém e depois de quase meia hora, eu finalmente encontrei aquele maldito pote e por sorte estava cheio até a boca! Coloquei-o dentro da bolsa a tiracolo e parti rapidamente, pois nos dias anteriores eu fui de mãos vazias e talvez esse fosse o meu grande erro.

Para alguém que estava em todos os lugares, ele era alguém difícil de se encontrar, eu já fazia a busca a dias, procurei nos lagos e cachoeiras, prados e campinas, até mesmo nos vilarejos próximos aos palácios, e naquele dia Sunshine já levava o Sol a pino quando finalmente cheguei ao campo de girassóis. Ali, quatro corvos repousavam sobre as flores, crocitando uns para os outros em uma conversa bizarra, aproximei-me calmo, pegando o pote de minha bolsa e o abrindo, suas atenções viraram-se para mim e mostrei o conteúdo do pote para eles, balançando. Quando estava a pouco mais de três passos de distância deles, sentei-me no chão e aguardei, mas não muito depois, o menor dos corvos saltou ao chão e enquanto pululava em minha direção, suas penas trocavam drasticamente de cor, de um negro noturno para um branco puro tal qual os meus cabelos e assim que estava a minha frente, ele já não era mais um corvo e sim um pequeno garoto albino vestido de penas caliginosas e um crânio de pássaro cobrindo seu rosto com as mãos em concha estendidas para mim.

-Meu Senhor Dhers- disse baixando a cabeça respeitosamente enquanto virava o pote de chocolate em suas mãos.

-Olá, Steamboyz!

Dhers, o Espírito Corvínus, filho de Aether, Senhor Mensageiro sempre a serviço de Emeritus, não havia notícia que ele não soubesse, não havia mensagem que ele não entregasse e era exatamente com isso com o que eu contava.

-Os doces são do seu agrado, meu senhor?

Ele comia delicadamente, levando cada pedacinho à boca com paciência, seus grandes olhos esmeralda me olhavam pela máscara, desconfiados.

-Não creio que você veio até aqui unicamente com a intenção de me agradar, Steamboyz.

Steamboyz foi um apelido que sua irmã, Versas, havia me dado e eu nunca havia entendido o plural do nome, bem, até agora. Ela era responsável por escrever os destinos adversos, de coisas que saiam da curva prevista e pelo jeito, desde o começo o meu estava lá nesse livro.

-Seria muita pretensão eu vos pedir um favor, meu Mestre?

-Sim, seria, mas não penso que isso seja capaz de impedi-lo de fazê-lo.

Entreguei o celular em suas mãos e ele o olhava, virando-o em suas palmas, acendendo sua tela.

-Ele serve para...

-...se comunicar, eu sei para o que serve, garoto.- respondeu me interrompendo de forma que eu consideraria ríspida se já não o conhecesse.

-Minha senhoria conseguiria fazer com que funcione? É possível, mesmo nesse mundo?

Se ele não conseguisse, eu sinceramente não tinha mais ideias, estava apostando tudo ali.

-Vocês, elementais, tomam os filhos do Tempo e Destino como muito pouco, Steamboyz. Eu obviamente consigo, mas a verdadeira questão é: por que eu o faria? Pelo o quê eu faria?

Era isso o que mais me preocupava, eu não fazia ideia do que oferecer àquela entidade, não havia nada que ele já não pudesse querer e possuir.

-O que estiver ao meu alcance será seu, Mestre Corvinus. Peça e terá.

Steamboy(s)- GHOST- NOTOOnde histórias criam vida. Descubra agora