Steamboy(s)- GHOST- NOTO

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Theo ainda precisou passar a noite toda em observação, mas na manhã do dia seguinte já estaria liberado. Naquela tarde, eu sequer precisei pedir para dormir em sua casa, pois Camille me convidou assim que soube que eu ficaria em um hotel qualquer.

-Onde você está hospedado? Vamos passar para buscar suas coisas, querido.

-Eu não trouxe nada, na pressa vim apenas com a roupa do corpo, não me lembrei que precisaria de mais coisas e vim direto para cá.- Tudo que eu tinha se resumia aos pequenos frascos, o celular, um pouco de dinheiro e a ampulheta que eu carregava nos bolsos do meu casaco, que, sinceramente, cheirava a vomito.

Ela me levou para sua casa, pois já queria organizar as coisas para a volta do Theo e não havia necessidade de eu ficar no hospital, já que ela e o Sodo já estavam se revezando nisso, além de Rain, de forma que Theo nunca ficava sozinho. Eu me senti totalmente deslocado ao chegar, eu conhecia os quartos de hotéis, mas uma casa humana era algo novo para mim, não que eu só conhecesse o palácio, mas lá nada era assim, nem mesmo a casa do Nis, que era um espírito "comum", nem mesmo a casa de outros humanos de meu mundo.

-Você é um pouco mais baixo que o Theo, mas acho que as roupas dele vão servir em você, lindão.- me disse Camille, buscando um conjunto de vestes e uma toalha para que eu pudesse tomar banho depois do longo dia.

Fui até o banheiro e quando tirei o casaco e a camisa que usava, me atentei a leve marca vermelha onde a lâmina de meu pai havia cortado, não ficaria cicatriz, claro, mas era uma lembrança, assim como o fato de minha cabeça latejar por todo o agito e movimentação dos últimos dias. Eu ainda tinha o gosto nojento de sangue na boca, enxaguei com água fresca na pia, esfregando os dentes com os dedos, ainda havia resquícios esverdeados que saíram quando cuspi o líquido na porcelana clara.

Aproveitei o momento para tomar a cápsula, me lembrando que precisaria manter essa forma constantemente enquanto estivesse aqui. Suspirei, era o preço a ser pago para estar ao lado daquele garoto, afinal.

Ao entrar debaixo do chuveiro, a água caiu gelada e eu me arrepiei, saindo imediatamente, aquela coisa estava desregulada e eu não fazia ideia de como alterar e não queria chamar alguém para me ajudar e por fim, precisei encarar da forma que estava. Aproveitei aquele momento para desabar finalmente, sentei-me no chão e chorei, chorei até não poder mais, deixando meu corpo se acostumar com a temperatura, chorei de cansaço, chorei pelo que havia ocorrido e do que poderia ter acontecido se eu houvesse demorado mais, chorei pela fragilidade humana de Theo e o fato de que isso nunca mudaria, com certeza a água fria aflorava mais a parte emocional do meu cerne hídrico, eu podia sentir. Ali eu percebi que nesse mundo eu não tinha controle de absolutamente nada, ninguém tinha e de como isso não fazia sentido nenhum para mim, acabei por lembrar das rebeliões que estavam ocorrendo a alguns anos no meu mundo, onde os humanos queriam destituir as entidades, espíritos e Ghouls de suas sagradas posições unicamente para que não houvesse mais esse controle e logo isso viraria guerra se não conseguissemos impedir a tempo. E desde que eu nasci, eles evoluíram radicalmente na tecnologia a vapor, claro, o Espírito desse elemento finalmente estava presente no mundo, tudo ligado a isso cresceria e eu me culpava as vezes, mesmo sendo algo feito por eles e não por mim e isso era algo que eu nunca havia comentado com ninguém, nem com meus pais ou mesmo com Nis. E em meio aquele turbilhão de pensamentos, me peguei pensando em como eu adorava esse mundo, mas tinha um real pavor que o nosso ficasse assim também.

Depois de alguns bons minutos, tomei coragem para me levantar, ainda com a cara inchada pelas lágrimas, para que ao menos eu conseguisse lavar o cabelo de forma satisfatória e quando sai dali, eu tinha o cheirinho do Theo, o que foi acolhedor naquela situação, assim como usar suas roupas, que eram absurdamente confortáveis.