22| NOITE EM FAMÍLIA

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Remendar o que foi quebrado
Desdizer estas palavras ditas
Encontrar esperança na falta de esperança
Me tirar desse desastre
Desfazer as cinzas
Desencadear as reações
Eu não estou pronto para morrer
(Train Wreck - James Arthur)

🏁

A p ó s  u m  l o n g o  b a n h o  r e l a x a n t e, Emory desce as escadas em dois em dois degraus. Era finalmente sexta-feira, o que significa que Emory conseguiu sobreviver à sua primeira semana de trabalho. Pode parecer bobagem sua, no entanto, Rivieri estava com medo de que sua identidade pudesse ser descoberta caso ela cometesse algum deslize. Durante todo o tempo em que esteve trabalhando, Emory mantinha em mente sua nova identidade. Não foi de fato uma coisa difícil, acostuma-se com pessoas chamando-a pelo seu novo nome, o difícil era conseguir inventar uma história para as perguntas dos seus colegas de trabalho.

Emory nunca foi uma boa mentirosa, entretanto, ela acredita que em breve acabará se tornando excelente nisso.

Respirando fundo, ela vai até Tyler e senta-se ao seu lado no sofá.

Sua relação com os Noths, é uma das melhores, com exceção de Aryan, que ainda não gosta dela, contudo Emory não se deixa abalar por isso. Recentemente Rivieri entrou em contato com Nestla via chamada de vídeo, ela estava preocupada com a amiga, porém, após ver e constatar que sua amiga está bem, Emory conseguiu se acalmar. A loira continuava a mesma de sempre, uma pessoa esperta e que divide a cama com pessoas que ela julga ser interessante. Então Emory pôde respirar aliviada.

Era estranho Emory pensar em respirar aliviada, geralmente, durante toda à sua vida, ela precisou respirar fundo para continuar seguindo em frente, nos piores cenários possíveis. Essa calmaria toda, ainda a deixa desconfiada, como se a qualquer momento, ela fosse arrastada de volta ao seu pior pesadelo.

Todavia, mesmo sendo difícil, Emory tenta não pensar muito nisso, já basta os pesadelos que a amedrontam toda a noite.

— Já pedi a pizza, acho que daqui a pouco meus irmãos chegam com as bebidas — Tyler diz e desliga a ligação.

Emory olha no relógio e percebe que já se passaram dez minutos que eles saíram.

Rivieri tremeu em nervosismo.

— Não acha que eles estão demorando?

Tyler levanta os olhos do seu celular e encara Emory.

— Olha... não precisa se preocupar com isso. Eles estão bem, talvez seja o trânsito que estão os atrasando.

— Sim, talvez — sussurrou, não convencida. Emory não conseguia relaxar, já era instinto estar sempre em alerta.

Tyler passa os braços pelos ombros de Emory.

— Emory, agora que você e meu irmão estão juntos, você é parte da minha família, — tecnicamente, não estamos juntos. — e por essa razão me sinto mal em ver como você está sempre preocupada e com medo, mesmo que tudo esteja ocorrendo bem para nós. Você está sempre ansiosa pensando no futuro e tudo o que pode dar errado, e isso não está te fazendo bem. Então, tente relaxar um pouco, e pense somente no presente, não se prenda no passado e nem fique ansiando o futuro.

Tyler aperta os ombros de Emory, tentando passar algum conforto.

— Estou fazendo o melhor que eu posso, mas acho que não é o suficiente.

— Ou talvez, você colocou na sua cabeça que não é o suficiente. Creio que você está tão acostumada com todo o caos instalado na sua vida, onde você precisa lutar ferozmente para conseguir sobreviver, que quando tudo está dando certo, acredita que irá ter tudo arrancado de suas mãos.

Emory olhou para Tyler e estreitou os olhos.

— Você por acaso é telepata?

Tyler rir e sacode a cabeça.

— Não, mas tenho quatro irmãos que preciso cuidar e entender perfeitamente como funcionam suas mentes.

— Quatro?

— Sim, agora você é mais que uma cunhada para mim, considero você como minha irmã mais nova.

Emory queria refutar Tyler sobre a considerar como cunhada, no entanto, ela e Aaron nunca rotularam o que eles tinham, então poderia ser considerado como se estivesse juntos. Ademais, Rivieri focou especialmente nas palavras de Tyler e em como ficou emocionada. Ela nunca poderia imaginar que um dia conseguiria considerar outra pessoa além de Nestla como sua família. Isso a deixou desestabilizada.

É tão estranho ter uma vida normal.

Emory escuta a porta ser aberta e Aaron entra carregando algumas sacolas com itens além de bebidas, logo atrás entra Ryle e Aryan segurando mais sacolas.

— O trânsito estava uma merda hoje — resmunga Aryan.

— Viu só, cunhada, eu disse que não precisava se preocupar — sussurra Tyler, que se levanta do sofá e vai para a cozinha ver o que os irmãos compraram.

Aaron após colocar todas as compras sobre a mesa da cozinha, vai para a sala e joga-se no sofá abraçando Emory. Rivieri ajeita-se como pode para envolver os ombros de North em seus braços.

Aaron apoiou a cabeça no peito de Emory e fechou os olhos, relaxando.

— Eu demorei muito por causa do trânsito, você sentiu minha falta? — Aaron questiona, provocador.

— Não — Emory desliza os dedos entre os fios sedosos do cabelo de North, que estão maiores do que quando se viram pela primeira vez. Chegando na altura dos ombros.

Aaron suspira dramaticamente.

— Você é tão cruel.

— Você é dramático demais. Demoraram dez minutos e não uma eternidade.

Aaron levanta a cabeça e sorri malicioso.

— Ah! Então você estava contando os minutos?

Rivieri revira os olhos.

— Você é idiota por acaso? Não foi isso que eu quis dizer!

Na porta da cozinha, Tyler apoia-se no batente com uma lata de cerveja na mão e observa seu irmão e Emory conversando e rindo. O North mais velho sorriu minimamente ao observar a cena à sua frente. Raramente se via Aaron sorrindo, ele estava sempre preocupado e estressado com assuntos relacionados ao Distrito Vermelho. Às vezes, os irmãos passavam dias sem ter notícias de Aaron, Tyler insistia em descobrir o que o irmão estava fazendo, mas sem sucesso.

Conversar com Aaron antigamente, era como conversar com uma casca vazia, que simplesmente seguia ordens, mesmo que a contragosto.

O Noth mais velho, percebeu que Emory conseguia trazer um pouco de felicidade a Aaron, mesmo que toda a situação fosse um pouco desfavorável a eles.

Tyler sai de suas divagações ao escutar a campainha da porta tocar, indicando que o entregador de pizza chegou.

— Nossa pizza chegou! — Tyler diz e vai abrir à porta.

Depois de tanto tempo tentando sobreviver a um tormento que não parecia ter fim, finalmente uma noite em família.

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